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Maria Rosa - Cantora Bossa Nova [Cleo Oshiro]

Maria Rosa - Cantora Bossa Nova 

Cleo Oshiro –  Colunista Social

Maria Rosa, nasceu em uma pequena cidade do interior do Paraná, mas aos 16 anos de idade decidiu correr o mundo viajando em busca de novos horizontes.
Sonhava conhecer lugares, outras culturas, outras línguas, mas acima de tudo encontrar a tão sonhada paz e felicidade. As tristezas e decepções da vida, a levaram a fazer um intercâmbio estudantil nos Estados Unidos. De uma pequenina cidade em Iowa, onde completou seu ano de intercâmbio cultural estudantil, depois de viver na Califórnia, ela levanta voo novamente e vai parar na Espanha, Agora vamos conhecer a triste história dessa jovem e sua batalha  travada desde a infância para encontrar sua cura e a paz interior que tanto procura.

Maria Rosa, como foi sua infância e quando descobriu a paixão pela musica?

Eu nasci em uma pequena cidade do interior do Paraná chamada Campo Mourão. Meu pai era agrônomo e minha mãe descendente de Italianos. Crescemos em uma linda casa que meu pai mandou construir, tínhamos muitos animais, e toda a família de primos ao redor. Havia muito amor também.
Meus pais amavam festas a fantasia e Carnaval. Me lembro de sempre estar escutando algum tipo de musica em casa, desde Clara Nunes ate Elvis Presley. Fantasias, cores, risadas, felicidade...assim foi a minha infância! Eu brincava sozinha com minhas bonecas e minha mãe dizia que quando chegava no meu quarto, parecia que tinha várias amigas brincando comigo, pois eu tinha uma voz diferente para cada personagem dos meus sonhos de boneca.

O sonho de ser artista é coisa da infância então? 

Desde cedo soube que queria ser artista e sonhava em atuar na televisão. Minhas brincadeiras eram recortar caixas e papel para fazer uma televisão, onde eu entrava dentro e passava as noticias do dia para a minha platéia de primas!

Pelo que conta sua infância foi muito feliz? 

Até os 12 anos de idade sim, mas ai meu mundo mudou e minha vida também. Meus pais se separaram e meu irmão foi para Curitiba estudar e morar com minha avó paterna. Eu segui os passos dele 2 anos depois, onde moramos com a minha avó. Foi uma fase difícil, pois não nos dávamos muito bem. Um tempo depois,  eu e meu irmão fomos morar juntos em um apartamento e de repente tivemos que nos tornar adultos. Tinha uma diarista que nos ajudava a acordar cedo para irmos a escola, e nos finais de semana só dormíamos.

E a família...os amigos?

Não tínhamos muitos amigos, e estávamos muito tristes ainda com o divorcio dos nossos pais e a perda do apoio físico que tínhamos deles e da nossa família. Me lembro eu sentava a mesa, ao lado do meu irmão e de mãos dadas nós dois choramos juntos muitas vezes. Ele é o meu melhor amigo até hoje!!!  Foi muito difícil, tanto que 2 anos depois, com 16 anos decidi ir embora do país. Convenci meu pai de me ajudar a fazer um intercâmbio e fui morar em Iowa (EUA) no meio do frio e com uma família de Americanos sem falar uma palavra de Inglês. Entre ser botada pra fora da primeira casa que morei por não aceitar tomar prozac para minha depressão, e encontrar uma nova família para mim mesma, consegui vencer o ano difícil e me formar no high school. Nesta época me tornei uma menina obesa mas independente. Apliquei para varias faculdades de teatro na Califórnia durante meu ano letivo em Iowa e fui aceita por uma no norte da Califórnia, um lugar lindo e encantador chamado Humboldt.

As coisas estavam melhorando então?

Bem...no ano seguinte me mudei para la e comecei meu ano letivo. Creio que pela primeira vez comecei a ter um senso de individualidade, me senti amada por amigos, amizades que eu mesma conquistei. Mas então foi ai que meus problemas de saúde começaram. Sempre fui uma criança asmática, e me lembro de quando ficava doente dentro de casa, enquanto meus primos brincavam la fora correndo no sol. Talvez foi daí que nasceu toda a minha criatividade, por não ter o que fazer, criava historias encantadas e as atuava para mim mesma.

Mas e os problemas de saúde?

Em Humboldt chove muito, 8 meses do ano e o clima é muito úmido, com mofo crescendo por todos os lados e comecei a me sentir cansada, fraca, mas mesmo assim decidi me juntar ao time de remo da faculdade. Os treinos eram as 4 da manhã, corríamos na chuva e entravamos no lago de meias no meio do frio para remar e o nosso presente era ver o por do sol na primeira fila da plateia de beleza inigualável!!
Estes problemas de saúde me atrapalharam muito, perdia aulas, me sentia muito triste e só queria ficar dentro do meu quarto no escuro, chorando.

Estava com depressão?

Não sabia então que sofria de depressão, e eventualmente saia sozinha das crises. Durante estes anos de faculdade, lembro que o que eu mais amava era participar de produções musicais, amava atuar em peças cantando, desconhecendo ainda o meu talento musical. Em relação a saúde, descobri que era extremamente alérgica a mofo, fermento, tabaco, havendo a necessidade de fazer uma forte dieta, onde eu mesma aplicava injeções de mofo, tabaco e fermento nas pernas para criar imunidade. Melhorei muito e isto me segurou por mais alguns anos.  Humboldt county, onde fiz faculdade, é o lugar de onde vem toda a maconha da Califórnia. Eu não sabia disso quando escolhi a escola, e durante meus três anos lá, decidi participar de uma igreja cristã (evangélica) sem denominação, onde orávamos ate as 2 da manhã nos sábados para o mundo todo.  Naquela época não usava roupas curtas e sentia que la tinha a minha família. Fui criada na religião católica e fiz até a crisma, mas esta Igreja e Deus através dessas pessoas, me ajudaram muito a me sentir segura e acolhida. No quarto ano de faculdade, decidi me mudar para San Francisco/Califórnia.

Estava decidida a mudar sua vida?

Sim. Coloquei tudo que eu tinha dentro de meu Subaru 1978 e segui estrada.  Fiz a viagem de 5 horas sozinha para San Francisco, onde já tinha um apartamento arrumado através de uma amiga, indo morar em uma sala com uma outra garota. Infelizmente perdi a data da transferência da faculdade e acabei entrando em outra escola de arte, a The Academy of Art College, considerada a melhor faculdade de Arte da Califórnia. Nas férias, decidi viajar para a Europa e reencontrar minhas amigas intercambistas de Iowa. Coloquei uma mochila nas costas e visitei 8 países sozinha em 2 meses, dormindo em hostais e tive a chance de conhecer também a Polônia, Turquia, Suécia, Hungria e Grécia. Foi lindo e tive a sorte de que nada de ruim aconteceu durante a viagem. As influências artísticas eram imensas e creio que foi durante esta viagem que meu amor e interesse pela cultura Árabe começou.

Nunca aconteceu nenhum incidente durante essas viagens?

Aos 19 anos, durante outras ferias escolares, fui convidada por uma amiga para visitar uma outra amiga no Japão e fiquei 1 mês lá durante o inverno. Foi nesta época que conheci um rapaz e confesso que não foi uma experiência agradável, aliás foi horrível, mas superei sozinha.
Em San Francisco, vivi em muitos lugares diferentes, com pessoas boas, ruins e outras loucas, como uma que me trancou para fora de casa e roubou meu passaporte. Tive de chamar a policia para poder entrar e pegar minhas coisas. Mas tudo isso foi um aprendizado na minha vida.


Mas viver em São Francisco trouxe coisas boas?

San Francisco foi minha descoberta como mulher, como artista de verdade, a descoberta da liberdade e da libertação de doutrinas sociais. Lá sentia que podia andar de tênis, calça jeans, cabeleira bagunçada e sem maquiagem e ser feliz! Já fazia aulas de dança do ventre há 4 anos, então comecei a trabalhar dançando em diferentes restaurantes árabes. As noites eram lindas, tínhamos banda ao vivo e a plateia aplaudia de pé, os palcos eram pequenos e nós dançarinas éramos verdadeiras equilibristas, dançávamos com espadas e jarras na cabeça e eu amava tudo isso!  Trabalhei com um produtor que estava iniciando um show de noticias sobre a cultura latina na Bay Area, o show se chamava Latin Eyes, e fui uma das primeiras repórteres a trabalhar com eles por um ano.  Oito anos depois, Latin Eyes se tornou um grande show da televisão latina de Los Angeles.

Então tudo estava caminhando bem?

Bem...após terminar meu primeiro ano letivo, o que deveria ser equivalente ao quinto ano letivo considerando a transferência de créditos, na Academy of Art College, me disseram que meus créditos de Humboldt eram intransferíveis e que teria de fazer mais 3 anos de faculdade. Então desisti e decidi trabalhar. Isto significava que ficaria ilegal no país e assim permaneci, trabalhando em teatros, restaurantes, cantando em bares por 3 anos antes de voltar ao Brasil. Antes de decidir voltar ao Brasil, conheci o grande amor da minha vida, um Árabe Americano- Iraquiano. Aí 11 de setembro aconteceu, e soubemos então que a vida para ele e sua família não seria nada fácil nos Estados Unidos a partir de então. Voltei ao Brasil em 2002 e meu visto de retorno aos EUA foi negado. Ele sem mesmo ter cidadania, descobriu um tal de passaporte branco que poderia ter, e viajou até o Brasil com um anel e um pedido de casamento.

Como foi a reação da sua família? Você aceitou o pedido dele?

Minha família o amou. Ele é músico, compositor e engenheiro de software. Nos casamos em Curitiba em setembro de 2003, e ficamos morando no Brasil, onde ele aprendeu a falar português , mas decidimos voltar a  viver na Califórnia, perto da família dele.



E a família dele em relação ao casamento de vocês?

Pela cultura Muçulmana ser tão fechada, ele teve de cortar comunicação com o pai para ir casar-se comigo. Mas quando a família dele  me conheceu, gostaram de mim e me aceitaram . Aprendi a falar árabe e me vestia de maneira discreta quando estava com eles, como quando frequentava a minha antiga Igreja evangélica de Humboldt. Aprendi tudo sobre o Islam e com a minha família Árabe, soube o que era ser amada, e me senti parte de uma família pela segunda vez na minha vida. Era algo que eu precisava tanto...me sentir amada e protegida. São pessoas maravilhosas, dedicadas, amorosas. Não eram super radicais em termos de religião, mas muito dedicados a religião e a sua cultura.

Essa diferença de cultura entre vocês não atrapalhou o relacionamento?

Foram 11 anos lindos de convivência, mas infelizmente eu e meu ex- pensávamos que ser casados significava que tínhamos de viver em uma casa nos subúrbios, trabalhar e ter filhos e assim o nosso lado criativo foi morrendo, e nós também. Eramos ciumentos e não tínhamos maturidade e confiança própria suficiente para amarmos e aceitarmos um ao outro como éramos. Passamos por muitas coisas lindas e extremamente difíceis juntos.


Chegou a conhecer as origens dele?

Em 2007 fizemos uma viagem ao meio oriente, visitando a Síria e Tunísia por 2 meses. Foi a viagem dos meus sonhos, mas quando retornamos comecei a adoecer seriamente. Tinha umas crises terríveis de dores abdominais, os médicos não sabiam o que era exatamente, onde em um ano tive 7 internações e  perdi 12 kilos. Decidiram operar minha vesícula. Eu tinha doença na vesícula, e o que dificultou o diagnóstico foi a falta de pedras, não havia pedras e uma bactéria estava comendo meu orgão e aos poucos me matando.

Como ficou sua vida com todos esses acontecimentos?

Neste período sentia que vivia ao lado da morte o tempo todo. Não conseguia mais sair de casa e me tornei viciada em um remédio fortíssimo para ansiedade que me deram no hospital, por não saber meu diagnostico. Foram quase 4 anos para me livrar do tal remédio. Após a cirurgia, fui me  recuperando devagar e comecei a fazer aulas de canto e jazz. Posso dizer claramente que a música me ajudou a curar, e mais uma vez voltou para alegrar a minha vida e tive então meu primeiro recital apenas de canto.

E o casamento?

Após muitas brigas, sofrimento, ansiedades e doenças e com um pouco mais de coragem, em 2010 decidimos nos divorciar. Estávamos doentes juntos, e sabíamos que apesar de tanto amor que parecia infinito, não éramos bons um para o outro. O fim do relacionamento foi terrivelmente difícil, pois eu era muito dependente dele emocionalmente, pois larguei completamente da minha vida e dos  meus sonhos para viver a dele e no seu mundo. A depressão voltou, mas graças a um animalzinho lindo, a minha cachorrinha Bleu, consegui sair mais uma vez do buraco.

Mas o casamento proporcionou coisas positivas, apesar das lutas?

Com meu ex- marido aprendi a apreciar a boa música, a ter um amor e respeito interminável pela cultura Árabe Muçulmana, aprendi a ser mais humana e humilde e também a ser forte, muito forte e aprendi o que significa amar alguém e ser amada por essa pessoa incondicionalmente!  Artisticamente falando, ele adicionou uma grande melancolia a minha arte, a minha música, algo que descobri ser também extremamente necessário para minha criatividade e serei eternamente grata!


Continuou vivendo no mesmo lugar após a separação?

Me mudei para San Diego com minha cachorrinha e apenas algumas caixas, que couberam no carro. Aluguei um apartamento e foram 3 anos de conquista em um novo lugar, novos amigos e ai então após superar um pouco mais o primeiro ano de depressão e luto pelo divórcio, a música tomou conta dos meus dias e me preencheu de esperança. Um dia cantando em um Clube de Jazz em San Diego, conheci um certo maestro pianista mexicano, Irving Flores, ele me disse que eu cantava muito bem e que deveria ligar para conversarmos. Quando nos falamos por telefone, ele me propôs produzir meu primeiro vídeo de musica profissional, Nature boy que postei, e foi então que as portas do mundo da musica começaram se abrir pra mim.

E os problemas de saúde?

Em termos de saúde, para que você possa entender a crise de pneumonia fúgica, quando decidi me mudar para San Diego, foi também para estar próxima a um ponto de apoio, porque tinha uma grande amiga da Bahia, amizade de mais de 17 anos e que conheci nos meus anos de faculdade, que estava vivendo la com seu esposo. Uma senhora  15 anos mais velha que eu, que sempre serviu como uma figura materna para mim. Atras da sua casa ela e seu esposo construíram dois apartamentos em uma antiga garagem. Eles eram engenheiros mas construíram sem permissão da cidade para ficar mais barato. Aluguei o apartamento de baixo e morei ali por 3 anos. Com o decorrer do tempo, fui adoecendo, pegava muitas gripes aí e tive varias crises de asma também. Um dia me surgiu a ideia de que o apartamento poderia ter mofo atras da parede e pedi a ela e seu esposo que checassem. Mandaram um contratante e ele disse que havia apenas um pouco no banheiro, mas continuei adoecendo. Nesta época estava sem seguro de saúde e precisei ser internada 2 vezes com crises fortíssimas de asma. Então decidi contratar meu próprio engenheiro para que viesse com sua maquininha para checar o mofo. Quando ele entrou, a maquina apitou em todas as paredes, ele disse que o apartamento estava cheio de mofo negro atras das paredes. Foi então que descobri que minha tão amada amiga de 17 anos me traiu por dinheiro, pois naquela época eu tinha possibilidade de pagar meus alugueis um ano adiantados. Mandou um contratante la com uma maquina quebrada para mentir que não havia mofo e eu achando que ela gostava de mim. Adoeci seriamente e decidi me mudar e nunca mais nos falamos. Isso foi a melhor coisa para mim, mas até hoje lido com com este problema de saúde.

Como ficou a musica na sua vida?

Voltando a música, no ano seguinte em San Diego, decidi produzir um grande show, talvez uma grande ambição para uma pequena iniciante de Jazz como eu, mas meti na cabeça que queria fazer e então fui a luta. Meu tributo seria ao nosso grande mestre da Bossa Nova, Tom Jobim. Mas decidi me mudar para o  Rio de Janeiro quando recebi a chamada de dois dos melhores preparadores vocais, o Felipe Abreu ( irmão de Fernanda Abreu) e a escola de Mirna Rubim. Me instalei em Copacabana e comecei minhas aulas, afinal estava a espera de horários com o Felipe ha quase um ano e quando ele finalmente teve um tempinho para mim, não pensei duas vezes em retornar ao Brasil. Minha ideia era fazer arranjos no Rio para mais ou menos 11 das minhas músicas favoritas do Tom Jobim. Através do Felipe conheci a família do grande maestro musical Mario Adnet, que já tinha trabalhado com Jobim muitas vezes. Suas filhas Antonia e Joana Adnet fizeram num período de 4 meses os arranjos para mim, enquanto eu e Felipe trabalhávamos nas canções no estúdio da Mirna, trabalhando com uma fono para pronunciações perfeitas. Neste meio tempo conheci Paula Morelembaum, a grande cantora que trabalhou muitos anos com Tom Jobim, onde passei uma linda tarde e noite escutando ela contar  lindas historias do Tom, o que me ajudou muito para criar o roteiro do show.

Quanto tempo ficou no Brasil até tudo ficar concluído?

No total foram 5 meses de trabalho e quando tudo estava pronto, voltei a San Diego. Neste meu tempo no Rio, já começava a adoecer novamente e não conseguia fazer caminhadas. O clima úmido estava me matando e minhas crises de asma estavam a cada vez mais constantes e o que tinha iniciado em San Diego, no apartamento mofado em forma de crises asmáticas, estava agora piorando muito, dificultando inclusive as partes vocais, me sentia extremamente cansada, apos uma hora de aulas de treino vocal com o Felipe. 

Conseguiu levar o projeto adiante e realizar o show?

Consegui voltar para San Diego e fazer o show. Fiz tudo sozinha, indo as rádios para promover o show, contratei os melhores músicos de Jazz da cidade, cada um trouxe sua plateia, fiz figurino, contratei maquiagem, cabelo, criei um roteiro lindo para o show onde no intervalo de cada musica contava para a plateia uma das historias que tinha aprendido no Rio a respeito da vida do Tom ou da historia de cada musica,  mandei gravar vídeo e áudio para fazer um pequeno DVD. O dia do show foi um verdadeiro sucesso e sinceramente não esperava tanto, mas tivemos lotação esgotada e estava repleto de brasileiros e muita gente ficou escutando de fora sem poder entrar por falta de espaço. O show foi incrível, pois os arranjos são lindíssimos, de grande qualidade musical e os músicos são virtuosíssimos. No final, o dono do clube de jazz Dizzy's me disse: Nunca tive a casa tão lotada, em 9 anos de trabalho. Me senti super orgulhosa. Os músicos que são excelentes e muito conceituados, fizeram a proposta de gravar os arranjos para ver se conseguíamos iniciar um tour pelos Estados Unidos. Eu estava nas nuvens, com um lindo sentimento de realização, mas ao mesmo tempo me sentia muito cansada, exausta para ser mais honesta!


Qual foi sua decisão então?

Tirei um mês de ferias e voltei ao Brasil em Agosto de 2013 para comemorar os 80 anos do meu pai. Foi ai então que adoeci novamente e simplesmente colapsei, com uma pneumonia fúngica que até hoje carrego as sequelas.

De volta ao Brasil como estava sua relação com a família?

Minha família começou a enfrentar problemas financeiros seríssimos e passei um ano doente, de cama, tomando fortes corticóides com crises terríveis, sem conseguir subir escadas ou mesmo caminhar e completamente quebrada financeiramente! A depressão então, mais uma vez me pegou e tive de voltar a tomar todos os medicamentos. Não pude finalizar o vídeo do show por falta de dinheiro, ou mesmo voltar para San Diego. Durante este tempo doente, reencontrei um velho amigo, alguém que conheci logo quando me mudei para San Diego. Ele é médico, músico e compositor e se chama Alejandro, uma pessoa linda, um homem de coração de ouro. Quando nos conhecemos tivemos uma pequena paixão, mas nem um dos dois estava pronto para iniciar um romance e nossos caminhos se  separaram, onde ele foi para Inglaterra fazer seu mestrado e eu fiquei em San Diego. Durante esse  tempo, muitas coisas aconteceram para os dois, ele passou pela morte da namorada e eu neste ano doente senti que também passei pelas portas do inferno, mas o nosso reencontro foi lindo. Comecei ai a entender mais o propósito que Deus tinha para minha vida, ou seja, tem. Devagar começamos a nos falar e foi quando ele me convidou para vir ate Barcelona conhecer a cidade e o pais. Em Abril de 2014 vim para Barcelona e vivemos um lindo romance, mas nós dois ainda estávamos muito doentes e machucados pelos acontecimentos da vida, com problemas de  depressão profunda e a gravidade da doença nos pulmões, onde ele devagar começou a introduzir novos medicamentos naturais e eu comecei a melhorar e conseguir sair das fortíssimas crises, ainda não podendo completamente sair dos meus 10 medicamentos de manutenção, mas um grande passo adiante em termos de condição física!


Mas vocês se acertaram?

Então, o Alejandro me convidou para vir viver com ele em Barcelona.
Hoje entendo que meu ano doente em casa foi um ano onde me aproximei muito da minha família, uma aproximação necessária para todos nós, pois sempre nos amamos muito e passamos anos separados sofrendo a perda um do outro.  Entendo porque tudo, inclusive as crises pulmonares tiveram de acontecer, Deus de alguma maneira não me via ainda pronta para seguir adiante, eu precisava dar este passo para trás e reforçar o amor, a força, a dedicação, a importância das coisas, da minha família, da simplicidade de poder respirar, de estar emergida na natureza. Agora entendo a minha grande conexão com ela, a necessidade de estar ao redor dela para poder me curar! Vi novos caminhos que gostaria de tomar, em questões de saúde e como me curar e o que gostaria de aprender a respeito da medicina alternativa para aprender eu mesma a me cuidar, claro através de Deus e seus guias!

E sua vida na Califórnia?

Com respeito a ir embora da Califórnia, a partir de então, desde ter passado este ano doente em casa, não queria viver tão longe dos meus amados lá na Califórnia, mas eu precisava de mudança, mesmo tendo estes projetos a ser finalizados por lá.

Então optou por viver na Espanha?

Em Agosto do ano passado, voltei para Califórnia e em 2 meses vendi tudo que eu tinha: meu carro, moveis , roupas e me mudei para a Espanha para recomeçar mais uma vez!

Conseguiu se reencontrar...esta feliz?

Estou aqui agora, neste lugar de crescimento espiritual, encontrando o que me faz feliz, descobrindo que não são as doutrinas e sim a espiritualidade individual e pessoal que vai curando o corpo e a alma, e devagar vou tendo a coragem de sair de casa novamente, de vencer a depressão e de curar o pulmão. Venho buscando escolas de medicina alternativa, pois sei que a cura é a minha prioridade neste momento, pois tudo que me passa agora me impossibilita de criar e preciso limpar estes canais para que tudo possa fluir novamente, e sei que é apenas uma questão de tempo.

Viver na Espanha mudou muita coisa na sua vida. Sente que esta onde deveria? 

Da maneira que tudo aconteceu, realmente foram sinais de que estou agora, exatamente aonde deveria estar. Na procura por um apartamento encontramos um que amamos muito. Ele ficava na rua da padroeira de Barcelona, Santa Eulália. A historia desta Santa é interessantíssima, ela era uma mártir que se tornou a Santa dos sofredores e depressivos. O que parecia impossível de conseguir pelo preço, nossa situação financeira e os documentos necessários, finalmente caiu nas nossas mãos e hoje a imagem dela fica atras do meu quarto, na cabeceira da minha cama, do lado de fora. Sei que ela nos abençoa, pois a minha conexão com o feminino sempre foi muito forte, sempre busquei esta imagem materna acolhedora, e ela me ajuda muito a me conectar com o meu feminino, uma importante necessidade minha para que me cure das depressões.


Como fica os projetos iniciados?

Planos de terminar os projetos do Tributo ao Tom ainda existem, mas  entendo agora melhor que nunca, que tudo tem sua hora. Estou agora fazendo aulas de violão, de voz, e fazendo música em casa, criando escrevendo, compondo, me inspirando com o meu redor, e me curando! Estou cuidando muito da saúde e devagarinho voltando a mover-me para fora. Eu chego la!

Novas propostas de lindos trabalhos no Brasil começam a surgir agora, algo que espero a quase dois anos, uma linda produção de filme, agora vem também a se concretizar!
Então continuo lutando, pois sei e sinto a presença Divina de Deus, Jesus, Sagrado Coração de Maria, Santa Eulália do meu lado e todos os 5 anjinhos iluminadores também.
A meditação e o Yoga tem me ajudando muito também. Sei que as pedras sempre estarão por ai, mas estou aprimorando meus saltos!

Terminamos por aqui. Obrigada Maria Rosa.
Obrigada pelo seu carinho Cleo.
Bênçãos divinas para todos nós imigrantes deste belo, cruel e grande Mundo!!!


Cleo Oshiro,mineira mas viveu a maior parte da sua vida em São Paulo até se mudar para o Japão em 2002. Colunista Social no Japão, EUA e Suíça.Seu trabalho é divulgado em vários países no exterior onde existem comunidades brasileira.

Um comentário

Fausto Jacques disse...

Uau! Uma história de vida fascinante, profunda e empolgante!