O dia que Carlinhos (não) morreu
Por Aquiles Rique Reis
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Escrevo este comentário na manhã do dia 16 de dezembro de 2023. Ainda cedinho, recebo uma ligação do meu filho Gabriel – ao atendê-lo, eu tinha na mão o CD Afeto, pois começaria a escrever sobre ele naquele momento. Jornalista e hoje editor do RJ2, ele mandou na lata: “Trago más notícias, pai. Carlos Lyra morreu esta madrugada, você poderia gravar alguma coisa pro jornal?”
Homenagem – Carlos Lyra 90 Anos – Afeto (Selo Sesc SP), projeto idealizado e dirigido artisticamente por Regina Oreiro, contou com Caetano Veloso, Djavan, Edu Lobo, Fernanda Abreu, Gilberto Gil, Ivan Lins, Leila Pinheiro, Joyce Moreno, Lulu Santos, Marcos Valle, Mart’nália, Mônica Salmaso, Ney Matogrosso, Paula Morelenbaum, Roberto Menescal e Wanda Sá, com arranjos de Antonio Adolfo, Gilson Peranzzetta, Jaques Morelenbaum, João Donato e Marcos Valle, além de um ótimo grupo de instrumentistas.
Ao entrarem no estúdio, creio que tinham em mente que aquele a quem reverenciariam gostaria que não tivessem na alma nenhum resquício de tristeza ou benevolência para consigo. Por isso, ao ouvir o CD, senti no peito o som da felicidade compartilhada num registro histórico.
Carlinhos está vivo nas notas emitidas por intérpretes e instrumentistas que se entregaram à mais doce ação de solidariedade. Vinícius, Bôscoli e Dolores Duran o contemplaram espiritualmente, enquanto Joyce Moreno e Daltony Nóbrega o fizeram vivamente. Todos eles foram seus parceiros nas canções gravadas em Afeto (título perfeito para um disco arrebatador), regozijando-se por serem porta-vozes da beleza de seus versos.
Citar Carlinhos como um dos grandes nomes da bossa nova é correto, mas, creio, uma limitação ao seu talento. Seja na pré-bossa-nova, na bossa nova ou na pós-bossa-nova, ele criou músicas definitivas, como “Marcha da Quarta-Feira de Cinzas” e “Minha Namorada” (gravada no CD Afeto por Edu Lobo), ambas dele e de Vinícius.
E lembrei do Carlinhos que compôs com Vinícius o hino da UNE (União Nacional dos Estudantes), entidade que abrigou e deu sobrenome ao CPC (Centro Popular de Cultura). Além ser um dos maiores compositores brasileiros, Carlinhos era um homem engajado nas lutas sociais, disposto a levar cultura e educação ao povo. E compondo canções com Vinícius, como “Maria Moita”, fazia política de inclusão.
Por intermédio do CPC de Niterói (criado em 1963, à imagem do CPC da UNE), o MPB4 conheceu Carlinhos – isso antes de nos profissionalizarmos. Foi uma época amadora e contestatória, quando cantávamos a “Canção do Subdesenvolvido”, dele e Chico de Assis, aonde estivessem reunidos operários, estudantes ou camponeses.
Afeto é o amor dedicado ao nosso Carlinhos Lyra por uma categoria profissional que ali cantou e tocou em nome dos brasileiros. Ele viverá!
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Aquiles Rique Reis. Nossos protetores nunca desistem de nós. Músico, integrante do grupo MPB4*, dublador e crítico de música.
*MPB4 é um grupo vocal e instrumental brasileiro formado em Niterói, Rio de Janeiro, em 1965. A primeira formação contou com Miltinho, Magro, Aquiles e Ruy Faria. Em 2004, Ruy Faria saiu do quarteto, sendo assim substituído por Dalmo Medeiros, ex-integrante do grupo Céu da Boca, convidado para ficar em seu lugar.
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