Marcelo de Oliveira Souza [Professor, Escritor e Poeta Brasileiro]
*Universos na Esperança de Amor e Paz 1984 - Editora ODEAM - Salvador-BA;
*Poetas Brasileiros de Hoje 1986 - Editora Shogun Arte - Rio de Janeiro-RJ ;
*Escritores Brasileiros de Hoje 1986 - Crisális Editora - Rio de Janeiro-RJ;
*Imã Literário 2003 e 2004 Salvador-BA;
*Apresentação do Livro POIETI CONTEMPORIMAS & VERSOS - Editora Ômnira 2007 Salvador- BA;
*Imã Literário 2008 Salvador – BA;
*Agenda Literária 2009 – Editora Celeiro dos Escritores – Santos-SP;
*Livro de Crônicas Selecionadas de Porto Seguro 2009 - Editora Via Literária Porto Seguro –BA;
que movimenta o mundo
Numa roleta giratória,
Um inconsciente
Onde a vida passa rapidamente
Num misto de sufoco e dor
A luta e o luto se misturando,
A alegria e a agonia se alternando
A História e a glória solidificando,
Movido lentamente,
Tudo proveniente
da mola dessa história
que é o destino
que é inconcebível, inalterável,
que se pode mudar repentinamente.
A mola dessa história
é o hoje, o amanhã
O momento do passado certo, correto
Em que impulsionam
como uma catapulta em que alguém escuta
E nos dirige e avalia
para um destino melhor.
Num mundo atribulado, as pessoas muitas vezes esquecem de olhar para o seu lado espiritual, o principal que devíamos lembrar é que a religiosidade é muito importante não apenas para moldar o caráter do indivíduo, mas como uma forma de nos recolhermos à nossa própria essência.
Nossa amiga Gilma é uma garota muito alegre que reside em uma dessas cidades do interior brasileiro, muito castigada pela seca, filha de agricultores, nessa época de estiagem eles não têm muita coisa a fazer, os serviços sociais quase não chegam, serviços médicos então, é só uma vez por semana. Quanto sofrimento diante de toda essa falta de oportunidades que o sertanejo vive, onde a sua família muito religiosa, sobrevive da aposentadoria do pai como agricultor e da mãe que ainda insiste no batente de querer plantar algum feijão ou milho, o que vier está bem vindo, desde que as bênçãos do nosso Pai caiam em forma de chuva.
Como em toda cidade, sempre no dia de domingo as pessoas se reúnem na igreja para comemorar, pedir, sonhar e tudo que o nosso senhor Jesus Cristo possa prover.
Natal, Ano Novo, Semana Santa então, todos dão inúmeras voltas na pracinha, ao “melodioso” som das matracas para lembrar dessa data de sofrimento, morte e ressurreição de Cristo.
Mas nossa personagem, não tinha lá essa religiosidade toda, ela fingia acompanhar as missas na igreja e ia acompanhar os amigos nos botecos que povoam essas inúmeras cidades de interior, principalmente as pequenas, que não possuem nenhuma diversão, e a “diversão” que esse povo encontra é bem gelada e loiríssima.
As noitadas eram intermináveis, carros paravam no fundo do quintal do casebre onde tinha uma imensa mangueira, e quando os pais dormiam, ela sumia no mundo, somente voltando lá pelas tantas da madrugada.
Os pais já haviam notado há muito tempo, mas eles não tinham mais controle, Seu Rivaldo já era sexagenário e nunca foi de zelar pela educação da sua filha, a mãe Dona Deraldina era quem mais ficava no “pé”, mas como a filha já completara os seus dezoito anos de idade, ficou praticamente incontrolável, pois quando a mãe a proibia de ir a determinados lugares, ela vinha justamente com aquela lengalenga de que já era maior de idade, era uma pessoa “formada” pois tinha tirado o seu segundo grau, mesmo em uma escola cai-cai, no turno da noite.
Sua irmã mais nova Gisele, apesar de sua pouca idade era muito mais ajuizada, e sempre comentava sobre o seu mau comportamento, suas mentiras, orgias e escapadas, mas era sempre hostilizada e ironizada, o que a repelia e para não ter tanta discussão ela recolhia-se ao seu canto e calava.
De um tempo em diante, Gilma começou a ter sonhos esquisitos, com muito sangue, cerveja, bacanais, violência e tudo do mesmo naipe, tendo como cicerone uma mulher vestida de vermelho.
Ela não contava a ninguém, mas os outros começavam a perceber, diante da mudança do seu comportamento sorumbático, ela somente mudava quando tinha uma farra, aí esquecia dos problemas ao vislumbrar uma cervejinha, ela mudava e caía na gandaia.
Todos os conselhos dos familiares caíam por terra, e por falar em terra, tinha um local chamado “Tanque da Nação” - um imenso terreno abandonado que a prefeitura cercou para armazenar água da chuva, as cercas caíram e ficou somente esse local ermo que todos temiam passar - onde o de pior sempre acontecia, foi o lugar que ela incorporou uma entidade e saiu agredindo todo mundo, a sua voz chegou até mudar, dizendo que tinha dominado aquele corpo e que ia aprontar bastante.
A confusão chegou aos ouvidos de sua genitora, pois o que é ruim chega rápido, igual a rastro de pólvora...
Deraldina chamou alguns vizinhos de confiança e a arrastou até em casa, para ver o que ia dar, começou a rezar e jogar água benta, mas quanto mais fazia isso a tal “pomba-gira” - é o nome que deram – começou a vociferar, a rosnar, dizendo que tudo isso aconteceu por causa da falta de fé da sua hospedeira, e ela ia destruir toda aquela família, começando por esse corpo.
E todos rezavam, pedindo para sair daquele instrumento de possessão, e a confusão aumentava, a “pomba” rosnava, e o tumulto se instalava, o pai foi acarinhar a “filha” e foi jogado a dois metros de distância, mas as pessoas insistiam na luta contra a “entidade”, que ao ouvir as orações se revoltava ainda mais, esmurrando aquele corpo, rasgando as suas vestes, dizendo não adiantar tanta reza, que ela estava ali para destruir a fé de Deraldina, e só não apareceu antes por esse motivo, pois a filha dela era uma fraca, não rezava antes de dormir, mentia dizendo que ia à igreja, indo farrear nos bares, um ótimo lugar para os espíritos desencarnados aparecerem e os espíritos enfraquecidos sucumbirem a todo esse apelo.
A luta continuava incessantemente, até amarrada ela foi, sua irmã jogava água benta, descia em todo seu corpo, até que diante de muita água, reza, fé, a “coisa” foi embora aparecendo a garota, toda arranhada, sentindo dores em seu corpo todo, perguntando por que todos estavam olhando assustados para ela, sendo logo envolta em um cobertor, pois estava semi-nua.
A rua toda estava a maior confusão, todos queriam ver a garota que incorporou a “pomba que gira” , mas aos poucos os curiosos foram para suas residências.
Nos outros dias, começaram uma novena para o padroeiro da cidade, a fim de que isso não aconteça novamente, mesmo com todo esse esforço a “coisa” ficava à espreita onde Gilma mais se divertia com seus amantes, justamente atrás da frondosa mangueira, ninguém via a entidade, somente a pobre garota, que assustada fingia não perceber, até que com o decorrer do tempo, ao finalizar a novena, as coisas foram melhorando, mas não adiantava a novena, se a própria pessoa também não quisesse melhorar o seu espírito.
Depois de todo aquele acontecido, ela começou a fazer uma avaliação de toda a sua trajetória de vida e resolveu mudar, deixando de mentir, de fazer tanta farra, sendo um ótimo começo.
A maioria das pessoas esquece de fazer suas orações, de praticar algum ato de bondade; como estamos em tempos difíceis, o egoísmo se instalou, a falta de amor ao próximo campeia, tudo é motivo para uma confusão generalizada, ainda mais se o assunto é dinheiro.
O dinheiro é muito importante, mas como percebemos, casos desse tipo pode acontecer em qualquer família, muitas vezes nem é por causa da “pomba que gira” , mas da cabeça tortuosa que gira diante de todas essas fraquezas terrenas, que sem querer podemos sucumbir de uma hora para outra, por isso a meditação e a oração são muito importantes, porque nós não somos perfeitos, ainda mais num mundo como esse, porém o poder da oração é mais forte do que imaginamos.
Sem fé em nosso criador, seremos semelhantes às mais baixas criaturas e tudo que essa “revoada de pombos” deseja é isso, o enfraquecimento espiritual.
Nenhum comentário
Postar um comentário