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Manazinha, eu falo amazonês, eu falo mermo![Jane Uchôa]

Manazinha, eu falo amazonês, eu falo mermo!

Semana passada quando mandei o texto “Quem come jaraqui  não sai mais daqui”” recebi do editor algumas interrogações referentes a palavras desconhecidas por ele que mora no sul. Mandei o “significado” de todas elas e depois fiquei pensando...quando escrevo as vezes me esqueço que quem vai ler não conhece minha região, muito menos a linguagem regionalista daqui, por isso resolvi fazer este texto e falar do Amazonês, nosso dialeto tão peculiar  do Amazonas.
Mas antes de mostrar palavras, expressões e gírias é importante dizer como se chegou ao Amazonês, nossa linguagem regional.

É sabido por todos que a colonização do nosso país começou e teve forte influência através dos portugueses. Quando chegaram aqui em nossas terras havia pelo menos 1.078 línguas indígenas.
Caramba! Para aprender uma passamos a vida inteira estudando e nunca dominamos completamente, imagine 1.078!  E começou o processo de substituição desta enorme quantidade de línguas, este processo persiste até hoje 500 anos depois, atualmente estão catalogadas por volta de 180 línguas indigenas faladas em território nacional.
Então temos como língua oficial em nosso país a Língua Portuguesa, porém apesar de termos 180 línguas ainda faladas , são consideradas línguas co-oficias   segundo o Instituto Socio-Ambiental  apenas 11 línguas com um número estimado de mais de cinco mil falantes cada: Baniwa, Guajajara, Kaingang, Kayapó, Makuxi, Sateré-Mawé, Terena, Ticuna, Xavante, Yanomami e Guarani , esta última sendo falada por uma população de aproximadamente 30 mil pessoas. Em contrapartida, cerca de 110 línguas contam com menos de 400 falantes. E a maioria pensando que só se falava língua portuguesa nesta terra!  
Quando os índios destas tribos vêm para Manaus fazer tratamentos a Funasa disponibiliza interpretes para a maioria deles que ficam hospitalizados, assim conseguimos uma via de comunicação. A Constituição de 1988 (arts. 210 e 231) reconhece aos índios o direito às suas línguas,  regulamentado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996.
São Gabriel da Cachoeira, o maior municipio do país situado no Amazonas, é o primeiro a oficializar a prática das línguas indígenas Nheengatu, Tukano e Baniwa no seu dia-a-dia através da lei 145/2002, aprovada no dia 22/11/2002, que foi proposta pelo vereador indígena Camico Baniwa, a partir de um projeto elaborado pelo Instituto de Investigação e Desenvolvimento de Políticas Lingüísticas (Ipol) a pedido da Federação das Organizações Indigenas do Rio Negro. Meios de comunicação, serviços públicos, escolas, placas de sinalização, comércio e bancos foram obrigados a usar a língua oficial e as três línguas co-oficiais.                 
O prazo previsto foi de até cinco anos para que os órgãos públicos e a iniciativa privada do município capacitassem seus funcionários para atender os cidadãos nas três línguas, além da língua portuguesa. O município deverá contratar  tradutores oficiais e as leis e os documentos do poder público deverão ter versões em todas as línguas.
A  população indígena de São Gabriel da Cachoeira chega a  95%, é um dos lugares mais plurilíngües com 22 línguas indígenas. É, com certeza, o único lugar no mundo em que o critério de casamento tradicional  é o lingüístico. Isto é, um homem não pode se casar com uma mulher que fala a mesma língua que ele.
Fora  a influência  indígena e portuguesa, tivemos os  holandeses, franceses e ingleses, , mais tarde vieram africanos (escravos), os nordestinos e os nossos queridos nortistas vizinhos como o paraense, o acreano e um pouquinho mais longe o maranhense.

Esta adorável “mistura” resultou no que falamos hoje aqui e carinhosamente denominado de Amazonês. Mais além de um idioma ainda temos o sotaque. Sim, o sotaque nos diferencia dentro de um país que fala dominatemente a língua portuguesa, isto aconteceu por que os portugues vieram em ciclos e além das outras influências européias vinham de partes diferentes de Portugal por isso que não há uniformidade da língua, por lá havia sotaques com certeza e trouxeram para nós que juntou-se aos demais idiomas resultando no que lemos, escrevemos, falamos e ouvimos hoje. Ou seja, o sotaque nasceu a partir da colonização de cada região, por isso os nortistas falam diferente dos nordestinos que falam diferente dos sulistas que falam diferente do centro-oeste e por aí vai.
Os hábitos também influenciam na linguagem, por isso que a linguagem interiorana é completamente diferente da urbana. Maria Luiza Cruz Cardoso, linguista da Universidade Federal do Amazonas –UFAM  escreveu o Atlas linguistico do Amazonas segundo ela “”Os rios Negro e Solimões dividem o estado não apenas em termos geográficos, mas também culturais. Na parte sul, as pessoas falam sibilando e com “s extensivo” justamente pela influência nordestina – herança do ciclo da borracha. Já a parte norte é marcada pelo “s chiado” – marco da contribuição portuguesa na região”.

E curiosamente até nós que vivemos aqui temos uma certa dificuldade  principalmente quando conversamos com pessoas do interior. Certa vez aconteceu-me um fato muito interessante, eu ainda era aluna do curso de auxiliar de enfermagem, tinha 23 anos na época e conversando com dois pacientes, um seguido do outro aconteceu o seguinte dialogo:
EU: - Bom dia Sr. João, conte-me o que aconteceu com o senhor.
JOÃO: - Olha moça, ontem eu passei muito mal. Era uma dor na pente! E eu comecei a baldear, baldear, depois ficou tudo lavado, eu baldeava e lavava. Fiquei muito ruim o dia todo, mas agora já estou melhor.
Eu olhava para ele tentando entender o que era “baldear e lavar” o que era “pente”, chamei minha colega que era do interior em reservado e perguntei, ela me falou o seguinte:
- Pente é o baixo ventre, ele devia estar com cólicas e dor no estômago, baldear é vomitar, e lavar ele usou para dizer que vomitou muito, o chão ficou lavado de vômito.
Hum, agora eu entendi – pensei. E voltei para o paciente, mas qual foi minha surpresa quando perguntei:
- E o senhor costuma vomitar assim com frequência?
E ele:
- Eu costumo o quê?
Logo depois era a vez de uma paciente, fiz a mesma pergunta:
EU:  - Bom dia Dona Maria, conte-me o que aconteceu com a senhora.
MARIA: - Maninha, eu estou com a mãe do corpo atacada, por que ela anda o corpo todo né? eu comecei a sofrer tem uns dias já, e quando está assim eu fico doente uns cinco, seis dias, aí depois que fico boa é que passa até vir de novo, é um bode terrível!
Bem, dessa vez eu tinha uma pista “até vir de novo” e “é um bode terrível””. Ela deve estar se referindo a menstruação (ciclo) e bode aqui para nós significa estar menstruada, mas...o que é mãe do corpo?
Lá vai eu me socorrer com minha amiga:
- Mãe do corpo é o útero, ela diz que anda por que o mal estar que sentimos antes da menstruação é associado com a mãe do corpo passeando pelo corpo todo, no interior também chamamos mãe do corpo o útero quando está voltando para o lugar depois do parto, eles dizem que é mãe do corpo sentindo falta da criança. Quando fala que vai ficar doente é por que chamam assim quando estão menstruadas “estou doente” e o bode você sabe o que é.
Minha amiga ficou admirada com a minha falta de “vocabulário”! e perguntou-me:
- Oxi minina! Tu não é amazonense não?
- Eu nasci em Belém - Pará, mas cresci aqui, aprendi a falar aqui, nunca saí daqui mas convivi com muitas pessoas de outros estados por um tempo, não costumo ir ao interior e sinceramente nunca ouvi estes termos! Respondi.
Neste dia percebi que dentro do meu estado eu não sabia falar meu Amazonês, imagine quem vem de outro lugar...
Além do dialeto diferente o nosso falar tem algumas peculiaridades como por exemplo: o uso do tu, é muito frequente mas...não costumamos conjugar o verbo certinho, também usamos a afirmação seguida da negação , então sai umas frases assim:
- Maninho, tu nem sabe da última!! O Paulo tá namorando a Maria!
- Ichi! Tá nada! Ontem mesmo eu perguntei dela.
Também falam que temos uma semelhança com o carioca, mas eu nunca percebi isso. Mas falamos com chiado no S e a elevação de uma vogal para outa mais elevada, por exemplo: trocamos o O pelo U.
- Meninu!! Já pra dentro, o trânsitu tá muito perigosu!
- Ulha a canua no riu!
E também não podemos falar da linguagem sem citar algo muito importante entre nós amazonenses: Nós falamos com as mãos,com a boca, com o olhar, apesar de nao termos influência italiana mas só falamos pegando na pessoa, então se você vier para cá não se admire se alguém for lhe apresentado e lhe der dois beijinhos no rosto assim logo de cara e pegar no seu braço para falar, é um costume nosso assim como também a hospitalidade, somos muito hospitaleiros e falantes, também falamos a primeira vez com a pessoa como se a conhecessêmos há séculos e quando não  há reciprocidade o individuo é taxado imediatamente de “”METIDO“” e ‘’BOSSAL”” e você perde o amigo amazonense “”rapidinho””.
O costume de apontar as coisas com a boca é uma herança do interior quando os caboclos ocupados tecendo a tarrafa respondiam quando alguém lhe perguntavam algo:
-  Tä ali ó!  Fazendo um biquinho na direção do objeto ou do caminho.
Somos muito receptivos, calorosos, atenciosos, solidários aos extremos, sempre damos a mão para quem precisa, as vezes até mais que a mão, damos nossa casa, nossa cama. No interior se você é recebido por uma família o casal da casa cede a cama deles para o casal visita e vai dormir em redes. É uma forma de dar boas vindas e oferecer o melhor que se tem, e com certeza a nossa cama é o melhor lugar que há na casa.
Aqui em Manaus costumamos dizer que os bairristas são os paraenses, mas nós somos, tanto quanto eles, orgulhosos de nossa terra, falamos mal dela, xingamos, mas um detalhe: SOMENTE NÓS PODEMOS FALAR MAL DE NÓS MESMOS. Ai de quem abrir a boca para falar de nosso inferninho verde particular,  com trânsito estrangulado, de poucas opções em alguns setores, é imediatamente repreendido e inquirido com a frase :
- Se aqui é tão ruim amigo, que está faltando para voltar? Chispa daqui!
Uma certa banda de rock nacional que o diga quando teve a idéia infeliz de dizer que aqui só tinha índio e que seria muito boa experiência de tocar na selva. Seu contrato foi cancelado por uma mobilização no estado e virou piada na internet para sempre, nunca pisarão aqui como artistas. Nosso humor é muito sarcástico.
Apesar de nossa reserva indigena, amazonense odeia ser chamado de índio. Mas experimente mexer com um índio por aqui...também detesta quando fazem perguntas do tipo:
- É verdade que lá no Amazonas vocês moram em ocas? Que andam em onças? que criam cobras, jacarés como bichos de estimação?
Parece absurdo? Porém é mais comum do que você pode imaginar.
Bairrismo a parte e amor a terra, isso deve ser herança dos índigenas mesmo. O mesmo povo hospitaleiro que recebeu os espanhóis e portugueses de braços abertos foram os mesmos que defenderam seu território com unhas e dentes quando se sentiram ameaçados. E não pense você que não gostamos de outros lugares!  Amazonense adora viajar para São Paulo, Rio de Janeiro e nordeste em geral, depois de tanta beleza natural não quer mais saber de ver rio e mata que os turistas estrangeiros pagam fortunas por pacotes para visitar o encontro das águas e ver o teatro Amazonas. Amazonense gosta de  comprar roupa em Sampa para revender aqui por dez vezes mais, ninguém gasta dinheiro em vão com passagem, quando se fala em viajar para estes lugares chove “encomenda” e pode cobrar caro, por que nesta terra tudo é excessivamente caro. Somos verdadeiros comerciantes.
Apesar de sermos muito hospitaleiros o único estado que “pena” na mão da gente é o Pará. Piada de paraense é a coisa mais comum por aqui, a gente “pega pesado” com eles, mas nada que faça confusão, afinal “fazer graça” com o vizinho é uma história de longa data, eu sou paraense e “acho graça” das piadas e histórias de lá, eles por sua vez nem ligam muito, alguns entram na “exculhambação” e outros ficam “bicudos” mas acaba tudo bem sempre.
A marca registrada do amazonense puro, da ova da farinha é o Maninho. Se não fala maninho e suas variações não é amazonense!  As variações como: Maninha, Manazinha, Mana, Manozinho, Maninho abrem qualquer conversa e são expressões carinhosas entre nós, parece que todo mundo é irmão.
- Ô maninha! Eu sei nada! Mas quando!!
Esta frase significa que ela não sabe de nada, o mais quando é a indignação com a pergunta.
Outra bem comum entre nós e que é até motivo de gozação é a expressão “Tu é leso é?” Que significa: Tu é idiota? Imbecil?  Se a leseira for contínua chamamos de “leseira baré” e isso falando bem rápido que também é uma caracteristica nossa linguagem se transforma em:
- Téleseé!
E ainda temos direito a “cinco minutos de leseira”.
Certa vez eu vi no facebook um contato dizer que estava “matando pernilongos”, mas um detalhe: ela era caboca amazonense se duvidar da beira do rio. Aqui não se fala pernilongos, os insetos voadores que picam durante a noite com mais frequência e fazem um zunido em nossos ouvidos chama-se CARAPANÃ! Isso assim, bem chique! Carapanã são os nossos pernilongos e não sei que besteira é essa de querer usar a linguagem dos outros estados mesmo estando em uma rede social, afinal, ninguém que é do sul fala carapanã para eu entender  que ele quer dizer pernilongo.
Como citei acima as tribos que possuem outras línguas nativas, a maioria nem quer aprender o tal portugês. Você acha que quem possui  o menor inventário de fonemas no mundo como a língua Pirahã falada junto a um dos afluentes do rio Madeira, no Amazonas, que tem apenas dez fonemas - seis consoantes, três vogais e o fricativo glotal, sendo esta  a única ainda falada da família Mura vai querer trocar pela nossa inculta e bela como diz Pasquale?  Mas quando?
O uso do contraditório também se estende para outras expressões. Por exemplo você pode chegar num estabelecimento comercial e perguntar por algo e se não tiver a pessoa pode te responder assim:
- Maninho, tem, mas acabou!
Na verdade ela quer dizer que vende mas no momento não tem, algumas coisas ficam muito subentendidas por nós, claro que para gente estamos falando com clareza mas para o outro que não está acostumado fica muito difícil, normalmente respondemos a última afirmativa sua numa frase com várias colocações, então não se admire que a resposta que você vai ouvir pareça estranha, como por exemplo:
- Esta semana minha net estava lenta e fiquei uns dias sem conexão, ainda bem que tinha alguns textos editados para mandar senão teria sido mais complicado.
- Ainda bem.
- Ainda bem que fiquei sem net?
- Não , ainda bem que tinha reserva de textos.
E para indicar condição social e financeira nada mais prático do que a expressão “”Não tem nem rede!”, se você ouvir isso tenha certeza que o sujeito em questão é pobre, pobre de maré desci.
Mas aventura mesmo é pedir informação de trajetos:
- Moça onde fica a Alameda Cosme Ferreira?
- Maninho, você “pega” aqui a direita, lá na frente “quebra” a esquerda, vai ter um “sinal”, você passa por ele e vai dá o  “balão na bola”, depois desce o “viaduto” e já está na rua, cuidado com os “marronzinhos” eles estão sempre por lá.
Traduzindo...:
- Você “dobra” a direita, mais a frente “dobra” a esquerda, vai ter um “farol ou semaforo”, você passa por ele e vai entar na “rotatória”, depois desce a “passagem de nível” e já está na rua, cuidado com os “guardas de trânsito”, eles estão sempre por lá.

Regionalismo existe no mundo inteiro, os portugueses que nos ensinaram isso quando vieram para cá, misturaram-se aos outros europeus, enrolaram-se com nossas índias e por fim com as demais regiões que também sofreram outras influências, porém fato é que todos temos sotaques e palavras do nosso dia a dia que algumas vezes parecem ter outro significado no dicionário.
Em um país enorme como o nosso é um privilégio poder desfrutar de tanta diversidade, porém alguns muitos individuos ou fazem troça do estado do outro e de seus costumes ou acham que falam a língua portuguesa perfeita quando no fundo sabemos que isso não existe. Ter orgulho de sua terra e de suas raízes é absolutamente saudável, afinal vivemos em sociedade, vivemos em grupos que se unem em prol de algum objetivo, que estão vivendo em um lugar e que precisam manter este espirito de união para fortalecer sua comunidade.
A partir desta premissa de união pelo seu meio ambiente, pela sua cidade e seu povo fica muito mais fácil viver, e importante também receber as pessoas de outras regiões com o mesmo carinho e atenção, respeitar suas origens, respeitar seus costumes alimenticios e linguísticos, aceitar que levam um tempo para se adaptar seja lá que cidade for desde a mais moderna até a mais humilde e atrasada, lembrar que somos acima de tudo brasileiros, um povo sofrido, injustiçado por vezes, massacrado mas um povo lutador, orgulhoso de seus feitos, de portas abertas para quem quiser entrar e sem visto.
Assim que deveríamos receber nossos irmãos imigrantes e sermos recebidos nas outras regiões, isso sim é CIVILIDADE

Abaixo selecionei algumas palavras e termos do livro “” Amazonês: expressões e termos usados no Amazonas”” do autor amazonense Paulo Freire – Editora Valer.


A COMO? LOC. ADV. – Quanto custa? “A como tá o tucunaré?” “R$ 10 a enfiada”.
A LA VONTÉ EXP. ID. – Como queira. “Se quiser ir embora, a la vonté! E já vai tarde!”
A PERIGO LOC. ADV. – 1 Sem dinheiro. “Paga o lanche pra mim, cara, que eu tô a perigo”. 2 Muito temposem manter relações sexuais. "O Amaro está a perigo. Está pegando até velha desdentada".
A PRÓPRIA LOC. ADJ. – A tal, a boa, a melhor. “A Ana Paula comprou um perfume francês e chegou aquise sentindo a própria”.
A PULSO LOC. ADV. – Forçado, obrigado, na marra. “Comendo sem gosto... Parece até que está comendoa pulso”.
A RETALHO LOC. ADV. – No varejo. “Compra um real de cigarro na venda do Zé. Ele vende a retalho, o que é bom para fumante liso como eu”.
ABACABA S. F. – 1 Palmeira que dá frutos oleosos e comestíveis para vinho ou mingau. 2 Mentira. “O Paulinho tava lá contando a maior abacaba. Ele disse que pescou na linha cento e vinte jaraqui numa manhã”.
ABACABEIRO S. M. – Mentiroso. “O Dudu é um tremendo abacabeiro
ACOCHAR V. – 1 Agarrar alguém com intenções sexuais. “O Dangliney está acochando a mulher do Walter”. 2 Cobrar. “Cadê o trabalho? Não dá mais para enrolar, não. O chefe está me acochando
BERIMBELO S. M. – Objeto que não tem nome e que balança. “Tira aquele berimbelo dali que dá”.
BIBOCA S. F. – Lugar esquisito, de difícil acesso. “Eu voltei do meio do caminho. Fiquei com medo de entrar lá naquela biboca”.
CAPAR O GATO LOC. V. – Ir embora, sair. "Essa festa não tá com nada. Acho que vou capar o gato".
CAPAZ! INTERJ. – Até parece! “Ele disse que vai me levar com ele?! Capaz!”
CAPINA! LAVA! SACA! INTERJ. – Sai fora! “Quando eu olhei, tinha um monte de moleque roubando goiaba. Cheguei lá e gritei: Capina! Lava! Lava daqui! Saca, molecada.
CAQUEADO S. M. – Um jeito especial de fazer alguma coisa, know-how. "Pô! O cara é cheio de caqueado para trocar o pneu".
CARNE DE TETÉU 1 Qualquer alimento não macio, que foi pouco cozido. "Essa galinha tá mais dura doque carne de tetéu. Nem a besta-fera consegue comer isso". 2 Pessoa difícil, travosa. "A diretora da escola onde eu estudo é a maior carne de tetéu".
CHIBATA ADJ. – Coisa muito boa. “Rapá, o filme é chibata! Vou ver de novo!”
CHIBÉ S. M. – Mistura de farinha, água e açúcar. "Mãe, posso fazer chibé pra merendar?"
CRUZETA S. F. – 1 Cabide. “Tô precisando de umas cruzetas pra guardar essas blusas”. 2 Falcatrua. “A polícia descobriu uma cruzeta do governador com a empreiteira”.
DAR DE COM FORÇA loc. v. – Atacar. “Olha lá o Jaime! Tá dando de com força no bolo!”
DAR DE MIL EXP. ID. – Ser muito superior. “O meu carro dá de mil no teu”.
DAR FÉ loc. v. – Dar-se conta. “Ficou de conversa e quando deu fé já era meia-noite”.
DAR NO PIRA EXP. ID. – Ir embora, se mandar. “Quando eu olhei, ela já tinha dado no pira”.
DAR O BALÃO EXP. ID. – Fazer o retorno com o automóvel. “O senhor dá o balão depois pega a segunda à direita no sinal”.
DAR O BIZU EXP. ID. – Avisar. “Ele saiu antes dela chegar. Alguém deu o bizu pra ele...”
...É APELIDO EXP. ID. – É pouco. “Tu viste a cabeça do Fábio? É grande, né?” “Grande é apelido. Aquilo ali
é uma cabeça gigante”.
...E MEIA! EXP. ID. – Mais do que... “Se ela é chata, tu és chata e meia”.
E EU LÁ SABIA... EXP. ID. – Expressão para eximir-se de culpa. “E eu lá sabia que essa cerveja era dafesta? Bebi sem saber...”
É FOGO! EXP. ID. – Muito bom ou muito ruim. “Cuidado com esse menino que ele é fogo!”, “Prova essa pimenta. Ela é fogo. Melhor que qualquer uma”.
E OLHE OLHE! EXP. ID. – E olhe lá. “Ele só faz dois abdominais e olhe olhe”.
Ê, CAROÇO! EXP. ID. – Usada quando alguém se safa por pouco de uma situação complicada. “Vai bater!
Putz! Ê, caroço! Foi por pouco...”
ÉGUA! INTERJ. – Égua pode ser usado em várias situações. Tomou um susto: “égua!” Alguém faz algo quevocê não entendeu: “égua...”. Uma situação estapafúrdia? “Éééguaa, maninho...”. A entonação faz parte do sentido.
EITA PAU! INTERJ. – Ver Eita porra!
EITA PORRA! INTERJ. – Expressão de espanto, admiração. “Eita porra! Pra que tanta farinha no prato?!”
EMBANANADO ADJ. – Atrapalhado. "Ajuda ele lá que ele tá todo embananado".
EMBIOCAR V. – 1 Descer. “Embioca aí senão ela vai te ver aqui”. 2 Cair o papagaio em parafuso.
EMBORCAR V. – Virar de ponta a cabeça. “Aí o barco emborcou com o acidente”.
EMBRENHAR V. – Meter-se no meio de. “Quando ela viu o pai atrás dela, ela se embrenhou no meio da
mata e sumiu”.
EMBUÁ S. M. – Piolho-de-cobra.
EMPACHADO ADJ. – Cheio, estufado. "Fui comer muito agora estou empachado".
EMPAIAR V. – Atrasar. “Tu tá me empaindo toda. Cuida!”
EMPANZINADO ADJ. – Ver Empachado.
EMPATA-FODA S. M. – Pessoa que atrapalha os planos dos outros.
EMPERIQUITADO ADJ. – Enfeitado, arrumado. “Ela foi pra festa toda emperiquitada”.
EMPINAR V. – Fazer subir. “Vamos ver se a gente consegue empinar o papagaio hoje?”
EMPINGE S. F. – Micose. “Tenho que arrumar um remédio pra essa minha empinge. Tá coçando demais!”
EMPOLADO ADJ. – Cheio de calombos, caroços, com a pele irritada.
EMPOMBADO ADJ. – Alguém cheio de orgulho.
ENCANGADO ADJ. – Pessoa que anda agarrada com outra o tempo todo. "A mulher dele não deixa ele sair sozinho. Só vive encangada nele".
ENCASQUETADO ADJ.
DAR O GRAU EXP. ID. – Fazer bem feito, caprichar, arrumar, dar o toque final. “Antes de vender meu carro, eu vou dar o grau nele”.
DAR O MAIOR VALOR EXP. ID. – Gostar muito. “Eu dou o maior valor pras músicas da terra”.
DAR O PINO LOC. V. – Sair sem pagar a conta.
DAR PREGO LOC. V. – Quebrar, escangalhar, enguiçar. “O fusca dela deu prego de novo”.
DAR SINAL LOC. V. – 1 Dar seta no carro, indicando que vai fazer a curva 2 Mandar notícia. “Boa viagem. Dá sinal de vida, hein!”
DAR TRELA LOC. V. – Dar corda, dar atenção, dar confiança. “Se tu deres trela para o Ariovaldo, tu vais te lascar!

Trechos do livro “Amazonês: expressões e termos usados no Amazonas”. Sérgio Freire - Professor da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Mestre em Letras pela própria UFAM e Doutor em Lingüística pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Editora Valer.
O Dicionário de Amazonês está disponível on line em:
http://dc120.4shared.com/doc/oRtThbJr/preview.html

*As imagens utilizadas são da fan page no Facebook: “Eu falo amazonês”



Jane Uchôa. Paraense de nascimento, amazonense de coração. Acadêmica de enfermagem, Técnica de enfermagem, socorrista do SAMU, poeta e escritora.

14 comentários

Unknown disse...

É uma maravilhosa experiência ler seu texto! Chorei de rir ao ler nossas expressões corriqueiras escritas de forma leve, criativa, inteligente e bem-humorada! Parabéns e obrigada por divulgar a nossa cultura. Eu falo amazonês!

ELÓI ALVES disse...

Excelente,JAne; muito útil, boas informações linguísticas e históricas; parabéns, amiga!

Jane Eyre Uchôa disse...

kkkkkkkkkkkkkk eu morri de rir escrevendo, mas vc sabe né Claudia que o bom humor é a marca registrada do amazonense, a gente perde o amigo mas não perde a piada!!! Obrigada Elói pelos elogios, a nossa língua é rica e criativa. bjs

Maria Araújo disse...

Manazinha (Jane Uchôa). Eu cá (Portugal), resgatei alguns termos que usávamos mais no interior, que vem da junção dos nossos antepassados. Termos adormecidos pelos 20 anos vividos no RJ, mas tentando estar sempre o mais próximo do velho e bom "PORTUGUÊS". Bem...se levar em conta que alguns portugueses nativos também cometem suas falhas, estou salva!!! rsrsrsr. Nada contra as gírias. Prefiro o dialeto tradicional de cada região, o original Amazonês (paidégua, baixa da égua, banzeiro, ilharga, na tua beira...rsrsrsr). Quero mesmo é um tacacá para esquentar o corpo neste frio....manda um????

Jane Eyre Uchôa disse...

kkkkkkkkkkkk mando um tacacá com aquela pimentinha braba hummmmm, ainda vou comer esse bacalhau aí com vinho, por que comer bacalhau aqui em Manaus só para os fortes!!!kkkkkkkkkkk obrigada pela tua presença Maria, bjs

Ivana disse...

amei o texto Jane, e aprendi um pouco mais de sua região e ri mto, vcs tem o jaraqui e nós rssssssssssss o pacu, vcs falam o amazonês e aqui o cuiabanês.rssssssssssssssssss, bjus querida mto bom

Onã Silva disse...

Jane seu texto é muito atraente pelo tema bastante de interesse de muitos, inclusive desta goiana que aprecia, valoriza e divulga a cultura de nosso imenso Brasil. Parabéns pela pesquisa e pelo excelente texto. Onã Silva

Jane Eyre Uchôa disse...

Obrigada Ivana!! aqui temos pacu também mas eu particularmente não gosto muito por causa da gordura, porém é muito procurado pela população. Eu fiquei com o cuiabanês rsr, bem que vc poderia mostrar pra gente um pouco deste dialeto. Bjssss

Jane Eyre Uchôa disse...

Oi Ona obrigada pela visita, é uma honra tê-la aqui. bjs

ROGÉRIO CAMURÇA disse...

Que texto paidégua! Uma aula do amazonês que embute um rico vocabulário e uma cultura muito peculiar. Todas as populações contribuíram, e ainda contribuem. Silvícolas, imigrantes portugueses e de outros países e migrantes de outros estados brasileiros moldam este "idioma" impresso na identidade de quem vive aqui. O mais incrível é que mesmos os nativos, amazonenses e manauenses com eu, sempre aprendem algo novo no vernáculo cabloco. Parabéns Jane, principalmente pela leveza e clareza do texto. Bjs

Elisabeth Lorena Alves disse...

Um texto super criativo e rico de tudo o que faz este 'idioma' tão peculiar que é o amazonês.
Na verdade a riqueza de nosso português, como dissestes bem, foi criada pela diversidade na colonização e na miscigenação de nossa raça, o que originou esta "Confusão das Línguas" como da Babel bíblica. É incrível como falamos a mesma língua mas somos tão diferentes!
Parabéns amiga por cada detalhe.

Jane Eyre Uchôa disse...

Obrigada Rogério, escrevendo percebi que nem nós sentimos como falamos tão diferente, por isso fui buscar as origens, e cada vez chegando mais como você disse. Elisabeth imagino como vc deve ter sofrido aqui quando chegou rsrs, sempre fico pensando antes de falar para vc me entender kkkkkkkk obrigada pessoal pela visita. bjs

Anonimo disse...

Querida Jane Uchoa..... Sinceramente moro em Manaus ja há 41 anos quase 42 e não falo Amazonês.... Incrivel Maninha.... Essa relação de palavras citadas pouquissimas eu conheço mais valeu apena saber de repente eu encontro alguem que fala e posso pegar esse dicionário que voce postou. Abraços

Jane Eyre Uchôa disse...

É Anna, acontece!! veja como eu fiquei na situação que relatei, dependendo do seu convivio o vocabulário vai se diversificando, mas com certeza vc fala alguma coisinha e nem sabe rs. Obrigada pela presença. bjs