Márcia Fernandes
Vilarinho Lopes, brasileira, viúva de um grande amor, vem de uma
família em que a literatura preponderava. Filha de jornalista, desde muito
cedo, aprendeu o valor da reflexão, da troca de conhecimentos, da pesquisa, da
observação e da expansão de cada ser. Apreendeu, com tudo isso, que seria, como
é, eterna aprendiz. Caminhante das estradas postas na vida, em trilhas em que o
destino parece construir, acabou por se acidentar quando se valia de um táxi,
em 1980, passando a usar um tipo de sapatos diferentes, quer seja uma cadeira
de rodas, que muitas vezes se transformou em cadeira de rosas, tal a grandeza
de amor que experimentou, de e por seu marido, de e por seus amigos, de e por
seus familiares, pais e irmã. À época dos fatos sua primeira filha estava com
10 (dez meses). Sete anos após o acidente, em fruto de amor gerou e trouxe ao
mundo o segundo filho. Mãe da Graziela e do Tiago, pois, muito com eles
aprendeu e muito a eles ensinou, na troca que a vida representa para o
crescimento. Viúva desde 1997, quando trancafiou no guarda roupas do quarto de
dormir, seus sentimentos pessoais mais valiosos. Foi membro da direção do Grupo
Escoteiro Nove de Julho, formado por pessoas especialíssimas, entre quem o seu
filho. Praticou, com o companheirismo de todos, várias trilhas naturais, tanto
em cadeira comum, como em cadeira motorizada. Participante ativa do Movimento
pelos Direitos das Pessoas Deficientes, esse o nome então, de 1980 a 1985,
inaugurado com a Carta Programa da ONU, procura levar, por onde passa, de
maneira prática e objetiva a naturalidade com que as pessoas acidentadas devem
viver, sem ter a vergonha de ser feliz, como diz a melodia, vencendo barreiras
arquitetônicas, tanto quanto vencemos, todos, as diferentes barreiras que a
cada um sói acontecer. Acredita que ser diferente é o normal, no sentido
reflexivo da frase.
POESIA DE MARCIA
VILARINHO
Quando os vagalumes acordarem
Quando
os vagalumes acordarem
Eu
terei na trilha o norte
Para
segui-los noite adentro
E
descansar beijada pelo sol
Quando
os vagalumes acordarem
Eu
terei estrelas na terra
E
a lua a abençoá-los como mãe
Na
sua infinita e emprestada luz
Quando
os vagalumes acordarem
Eles
carregarão os meus olhares
Por
todas as direções espaciais
Quando
os vagalumes acordarem
A
soma de seus pequenos corpos a brilhar
Mostrará
que somar é de fato ato milenar....
O equinócio em mim
O
equinócio em mim
Nasce
da igualdade
Das
noites feitas assim
Em
luminosidade cálida
Saudade
transcendental
O
equinócio em mim
Perpetua
o orgasmo
A
carícia e a ternura
Os
risos soltos de alegria
Corpos
entrelaçando amor
O
equinócio em mim
É
medida fixa que fica
Fincada
no eterno ser
Na
epiderme da célula
Primeira
que me constituiu
O
equinócio em mim é para sempre
Noites
idênticas de ardor
Que
não se diluiu
Nem
se consumiu
Esparso
nos caminhos
O
equinócio em mim
É
você que foi além
Fez
se penumbra
E
finalmente luz
Que
se reflete em mim
O camaleão, o sol e o cristal
Em plena euforia
O camaleão transmutava
Em cores e cores
Todas multicores
Como se sorrisse
E o sol surgia
Tépido
Repleto de energia
Refletindo num cristal
Provocava
Estranha competição
Pela fragmentação
Da gama de suas próprias
cores
Em prismas
Lado a lado
Camaleão, sol e cristal
E de repente
A inversão
O sol
Somente projetado
Sobre o camaleão
Criou
A mutação
Cores modificadas
Refletidas no cristal
Formando nova versão
Multicolorida
No espaço
Em extraordinária
composição
Que muito poucos viram
Talvez os vagalumes
apagados
As borboletas que
passavam
Os pássaros que voavam
E os anjos e os
poetas...talvez
Sim...talvez...
E quantos de nós somos
camaleões?
E quantos...cristais?
Em reflexos uns dos
outros
Ao sol....
Márcia Fernandes Vilarinho Lopes
Todos os direitos autorais reservados a
autora.
Um comentário
Boa tarde Sra Márcia,
Meu nome é Luciane, sou aluna de doutorado da Universidade Estadual de Londrina (UEL),
mas resido em São Paulo há 4 anos. Minha pesquisa está relacionada a mulheres que escrevem no espaço do meio virtual. Assim, gostaria de saber se poderia entrar em contato com você para uma possível
entrevista.
Aguardo contato,
Cordialmente,
Luciane (st_luciane@hotmail.com)
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