Ana Maria
Oliveira ou Ana Oliveira nasceu a 17 de
Fevereiro de 1960, no Alto Alentejo no distrito de Portalegre e concelho de
Castelo de Vide. Antes de completar um ano de idade veio com os pais viver para
a zona de Cascais e aí tem vivido desde então.
Quando jovem tem como passatempos o desenho em que se esquecia do tempo a
elaborar retratos de pessoas. O sombreado, os jogos de luz fascinavam-na e eram
um descarregar de energia. Mais tarde experimenta as tintas a óleo e o
acrílico, tomando consciência que são apenas trabalhos experimentais, que no
entanto distribui pelos amigos. Atualmente ainda mantem a necessidade de
brincar ao acaso com as tintas como terapia.
Deste a infância que tem o gosto pela escrita que exercitava através de um
diário que manteve desde os treze anos até aos dezanove. Introspetiva,
analítica e crítica, cedo deixou de escrever sobre os acontecimentos para
salientar os pensamentos e os estados de alma que certos problemas existenciais
provocam. Adorava inventar histórias e colocar a interagir personagens da sua
imaginação. Era uma estratégia para se ausentar de um mundo parado, rotineiro e
repleto de regras, que aos poucos a fizeram perceber que poderiam ser
castradoras de um pensamento livre.
Em 1986 finalizou a licenciatura em Filosofia na Faculdade de Ciências sociais
e humanas de Lisboa. Licenciatura que lhe permitiu dar aulas de filosofia
durante alguns anos.
Na década de noventa ausenta-se da zona de Cascais por duas vezes vivendo dois
anos em S. Miguel nos Açores onde continuou a lecionar, o que fazia já em
Portugal continental. Viveu mais dois anos em Vendas novas.
Um casamento de vinte e dois anos pouco feliz, de onde nasceu um filho, fê-la
decidir-se pelo divórcio.
Edita o seu primeiro livro de poesia em 2008 através da Corpos Editora “Grito
de liberdade”. Este livro é uma forma de partilhar emoções e vivências,
encarando a poesia como uma catarse.
Ainda no mesmo ano participa em duas coletâneas: Uma de Prosa e Poesia “A arte
pela escrita” da editora Escritartes e a outra, “Poemas sem fronteiras” “Ora,
vejamos…2008” Editora LULU de Leiria que faz uma recolha impressionante da
poesia contemporânea. Nesta última Ana Oliveira obtém o prémio da Menção
honrosa com o seu poema “Farsa”.
Atualmente exerce funções num infantário onde acumula as atividades inerentes,
à “Filosofia para crianças”, projeto que vem desenvolvendo há dois anos.
Continua a escrever poesia uma vez que esta faz parte integrante da sua
essência.
Alguns
poemas de Ana Maria de Oliveira
Humilhação
Há
momentos em que o cerrar de olhos
É
o sentir de uma dor no coração desfigurando o rosto
Um
aperto cruel na ausência de calor humano
O
cansaço que anuncia a navalha afiada do desgosto
Um
gesto obrigatório de altear a fronte
Explodindo
no refalsamento um renascer intemporal
Hierarquia
de valores num recobro de teimosia
Paradigma
dum ressurgir vulcânico consumado dignidade
Porque
o combate também é pelejado por quem silencia!
Algemas
pesadas num estatelar moroso e aflito
Padrão
de sorrisos em lágrimas que deslizam sob a pele
Qual
rio subterrâneo que molda o ventre da Terra
Estigma
de sulcos agonizantes na garganta do tempo
Onde
a voz límpida dá lugar à rouquidão
Por
ausências que ferem o alento
Por
estrias gravadas com sabor a sofrimento!
Porque
há sentires que se guardam unicamente na alma
E
não têm objetiva e concreta tradução
Em
nenhuma linguagem e código humano
Por aviltamento e censura à comunicação
Mas
por milagre e imperiosa vontade
Eis
que a tenebrosa humilhação
Solta
um bramido desesperado de agonia
Transfigurado
em louvor de redenção
E
mesmo na batalha perdida há um clamor de alívio
Como
se dos grilhões que nos amarram
Renascêssemos
feridos mas em estado de libertação!
Plenitude
Procuro-te
nos passos que dou pela praia imensa
Para
lá das ondas que me agitam a alma
Nas
lágrimas teimosas que do meu fogo caem
Na
tarde serena de chuva calma
Procuro-te
no misterioso nevoeiro cerrado
Na
espuma branca da água salgada
Na
agitação das vagas que me alagam os pés
Na
torrente de desejo desenfreada
Procuro-te
por entre os meus dedos
Na
fortaleza singela do meu abraço em segredo
Em
cada interstício do meu corpo
No
tormento atroz do meu inevitável degredo
Procuro-te
insaciável nas estrelas
Na
lua hipnótica que me fascina desgovernada
Na
tempestade que inunda os caminhos
No
palco de vida frenética inventada
Procuro-te
em aconchego no meu seio
E
morrerei com um grito sufocado na boca cerrada
Estigmatizada
pela escrita transfigurada vicissitude
Procuro-te
mas não te encontro!
Num
campo verde confiança em quietude
Num
céu de nuvens brancas de pureza
Minha
irmã apartada beatitude
Procuro-te
mas não te sinto!
Amiga
companheira e glacial plenitude!
Morte
Ah
se a falta de benevolência não nos inundasse
A
alma de um mundo incoerente
Ah
se a privação nos conduzisse ao fortalecimento do espírito
E
a carência nos submergisse de dignidade
Já
o óbito teria outro sentido num cérebro desinquieto
A
defunção transformar-se-ia em renascimento
O
lado negro em luz
O
gelo em fogo
O
passamento seria uma viagem serena para a eternidade
O
aniquilamento uma jornada em direção ao infinito
Abolição
seria sinónimo de vida e não de anulação
O
cessar não entraria na história humana como extinção
Falecimento
seria apenas voar ao sabor do vento!
A
severa liquidação não significaria acabamento
E
as cumplicidades seriam perenes
E
os quereres não teriam nome
E
os sentires seriam indizíveis
E
nunca obliteraríamos as amizades
Nunca
suprimiríamos os abraços
Porque
as carícias não acabariam
Não
existiriam desfechos
Nem
conclusões opinadas em forma de inquisição
Os
capítulos de um livro ficariam sempre por encerrar
Um
poema não teria termo
Não
embarcaríamos na barcaça do decesso
Flutuaríamos
apenas em redor das estrelas
Ou
enleados nos calor dos nossos corpos
Saudade
não apareceria no dicionário
Porque
o nosso ânimo dançaria ao ritmo da afeição
E
o amor não teria fim
Mas
por certo engano-me na sorte
Será
ilusão o amor
Tal
como a própria morte?...
Sem ti…
Vieste
anjo caído em noite serena
Aguardavas-me
há muito nos teus braços
Granjeando
um sentido para esta permanência terrena
Como
se eu te conhecesse de outrora
Em
cada palavra tua o meu acenar ligeiro de cabeça
Em
acordo de almas que pairam
Num
mesmo planalto de sombras
Em
que os seres humanos se tornaram
Reivindicas
um amor que esmoreceu há muito
Porque
os homens se perderam na imensidão
De
um oceano de trevas e desvirtudes
Em
céus cinzentos de insatisfação crescente
Agarrando-se
como lapas à ferrugem dos tempos
Aos
jogos de embriaguez animal
Em
orgias de serpentes num emaranhado de viscosidades
Em
delírio do rasteiro
Ah
como nos perdemos em caminhos remotos
Agitados
nas teias mundanas
Na
embarcação da luxúria
Em
toques de frieza carnal
E
a tua alma que agonizava
E
a minha alma que entristecia
Mas
era a tua que intensamente por dentro amava
E
a minha que veementemente para si própria mentia!
E
veio a noite
E
se fez dia
E
nasceu a lua anunciando os novos tempos!
E
as mãos que se procuram transformando em calor a maresia
E
os abraços embalando corpos em gestos de carinho, lentos
E
as caminhadas paralelas ao mar
Inebriando-nos
os sentidos na dimensão do ser
E
a chuva que cai em gotas suaves
Nas
nossas cabeças qual dança abençoada
E
os lábios que se unem, qual toque florido em pele molhada!
Sem
ti
O
tempo seria a eterna repetição do nada!
Condição humana
Perdemos
o humano na insipiência retrógrada
Embarcamos
na gabarra da cegueira atrofiante
Flutua-se
em nuvens de mesquinhez enregelada
Voa-se
na avareza dum egoísmo pérfido amante
Dança-se
em cultos de medo extraviados em melodias de horror
O
temor impregnado nas mentes gera indolência
E
a segnícia veste a pele da injustiça
Ah
ambição!
Mas
somente se a avidez for pelo conhecimento
O
ponto cardeal da perfeição
Se
a cobiça for pelo cristalino saber
E
a cupidez, límpida erudição
Ah
ambição!
Mas
unicamente se estendermos as mãos à verdade
E
erguermos o olhar para a justeza
Que
constrangimento não coliga com a humildade
Que
a renúncia e desapego abram a porta à placidez
E
a abnegação nos conduza ao estado de felicidade
O
altruísmo expandir-se-á em centelhas de filantropia
A
coragem permanecerá no coração dos pobres sem pecado
Como
a audácia se anima nos gestos inocentes das crianças
E
renasce então o Homem ser de luz arrojado
Pois
se a cobiça é o poder e o dinheiro
O
domínio e instrumentalização da criatura
Numa
sociedade em que tudo se mercancia
Então
danosa ressurge a ambição!
E
em lugar de ser um atalho para a evolução humana
Ela
traslada-se no mundo obscuro de maldição!
Revelação
Criaturas ávidas de
sensações ilusórias, fugazes e sem nexo
Na terra se esbarram e
esbatem em desovas bestiais
Enodoam-se no cisco da
congeminência terráquea
Cativos de passos de
mágica
E assim se perde a alma
humana sofredora de mutações
Inalcançável,
prisioneira dos enredos
Caprichos, ambições,
violências e traições
Despertaremos então do
sono tenebroso gélido e sombrio?
Sairemos do cativeiro
que nos circunda e não enxergamos
Cresceremos como seres
superiores em busca de luz
Seremos recetores da
mensagem primordial
De mãos erguidas ao céu
em silente oração
Do que de profundo
existe qual visão impensável
Só atingível aos
cristalinos em derradeira prece de redenção
Não impregnados de
matérias putrefactas
Transmutados veículos de
revelação!?
Mas se a torpor e o
deleite controlam os desejos
Os afetos esvoaçam em
máscaras de afagos
As máquinas substituem
os braços afáveis
E a fé extingue-se num
orbe de corpos gelados
Saltamos de continente
em continente, de estrela em estrela
Indubitavelmente seremos
sempre humanos renegados
Ana Maria Oliveira
Todos
os direitos autorais reservados a autora.
5 comentários
felicidades... es un placer conocerte por medio de tus letras y biografía... no se que es mas bella tu imagen o prosa un saludo desde mi poesía subterránea. poeta minero
Gracias poeta minero. Felicidades.
Encantada com sua poética e com a sua biografia, que se aproxima da minha. É a arte que dialoga com nosso espírito.
Encantada com sua poética e com a sua biografia, que se aproxima da minha. É a arte que dialoga com nosso espírito e nos aproxima.
Num rosto tão jovial, simpático, feliz como o de Maria Oliveira, fico confuso com o pensar árduo que do sua escrita ressuma... Um dia versos mais confiantes sorrirão!
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