Simone Moura e Mendes [Colunista e Poeta Brasileira]
clamo-te em oração, por desvelo
Cláudio, amor meu!
minha sandice, meu desmantelo
meu limite, meu horizonte
uma dor gostosa e salutar
que não me faz saciar
meu ímpeto de mais e mais
e sempre mais querer-te amar
já incrustado por outros desassossegos
mas, não sem razão
minha intuição de mulher
guiou-me inelutavelmente a ti
e nosso idílio foi abençoado
por anjos, arcanjos e serafins
celebração de ternura
o precursor és das minhas venturas
e antes e após me abater a morte
é o teu nome que chamarei
profetizas, deliras,
satirizas o mundo
fazes exaltação da vida
desdenhas tuas próprias feridas
navegas no mar, no amar
degustas os corais, o sal
cavalgas no dorso
de um cavalo-marinho
alimentas-te das algas
um cego sem guia, incompreendido
um gigante desvalido
tua vida deve ser mais além
do que simplesmente versejar
por que fazes da dor o teu gáudio?
mas da alegria, fazes teu cadafalso
pois sabes, pobre e fausto poeta
que sem tristeza não te vem a poesia
e tua vida torna-se um dia-após-dia
com essa história de mudar de fases
é um tal de engorda e emagrece
que inspira cá embaixo as pobres criaturas
a viverem sempre penando
sabes bem que quanto mais Cheia
mais exalas formosura
submissas à tua luminosidade
embora alcancem seu Quarto Crescente
não terão jamais o brilho etéreo do teu prateado
animou imagens mortas
viu beleza em mãos sulcadas
saiu do casulo e voou
poetizou a Justiça
fez justiça à poesia
excomungou as querelas do coração
entendeu os contornos da vida
sentiu a integração do multiverso
revirou os seus reversos
não deixou sua nau submergir
entregou-se às paixões... amou
sobreviveu, incólume, às desolações
fotografou-se em pele de felina
decifrou as impressões do escuro
despiu-se das certezas
remontou seu quebra-cabeça
em terreno árido versejou
tocou o desabrochar da flor
não concebeu o amor sem saudade
amadureceu meio sã, meio louca
o sol da Pajuçara se enamorou
acertou-se no tamanho do desacerto
buscou focalizar seus ângulos
resgatou memórias de 1985
acalentou seu menino
hoje, cidadão do mundo
penando as dores de um idealista
refletiu-se através das amigas
teceu novas teias para seu viver
empinou sua própria pipa
em vento que sopra lucidez
fugiu de si e se encontrou
refez alicerces à prova da erosão
deu as mãos à poesia
e dançou em todos os ritmos
de um novo ponto de partida
minhas artimanhas
e seduzo-me nas manhãs
compacta como maçã
sou romã
fracionada por dentro
rija por fora
limão, às vezes
doce sedução
às vezes exótica como kiwi
ou sensual como caqui
impiedoso, fala mudo
e desnuda-me o medo
que a idade maracujá
furte-me a arte da manha
e o sorriso das manhãs
onda hormonal
humor elipsal
sou fruta da estação
com valor nutricional
os meus olhos não viajam
se voltam para mim
então, a lírica me possui
e deixa-me em harmonia
onde não reside a inocência,
nem mesmo o pecado
nua, vejo-me só a mim
o prazer, o encantamento...
sinto todos os sabores
enxergo todas as cores
que a minha solidão for capaz de possuir
sou um cavalo alado,
um viajor do tempo,
desbravador de mundos e dimensões
enterradas deixo as dissensões
o doce das frutas, colheita divina
são visões insólitas multicoloridas
euforias irrefletidas...
é tudo quanto quero ver e sentir
enxugo as lágrimas
apago os sorrisos
cerro os olhos lassos
e em sonho... tudo resgato
e “de vez em quando Deus me tira a poesia”.
É a tal pedra de Drummond de Andrade no meu caminho.
Porém, “nada a temer senão o correr da luta”,
como lecionado pelo grande Milton Nascimento
“quero vivê-lo em cada vão momento”, como fez Vinícius de Moraes,
fazendo louvação à poesia – expressa maior da alma-
eis que “quem faz um poema abre uma janela”,
como sentenciado pelo inolvidável Mário Quintana
para reencontrar a poética na Maceió dos meus tempos primevos
sonho em conhecer a França, a Itália, a Grécia...
até mesmo a maravilhosa Passárgada de Manuel Bandeira.
Mas, tal como o “Acendedor de Lampiões” de Jorge de Lima,
sou alagoana e do Velho Graciliano Ramos sou fã.
É, pois, dos ares dos alagoanos mares de onde emana minha inspiração.
Um comentário
Gostei do poema que fala da lua. Poderia até falado das fases dela. É que eu viajo nas rimas e na lua, sabe e não posso adimitir o "principalmente as mulheres" rsrs. Adorei, viu? Beijinhos poetisa.
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