Dunga Rodrigues. Em uma quarta-feira, no dia 15 de julho de 1908, nasceu em Cuiabá Maria Benedita Deschamps Rodrigues. 'Dunga', como ficou conhecida. Tornou-se professora, musicista, historiadora e escritora.
Era sinônimo de cultura e foi uma das mulheres que mais se destacaram em Mato Grosso no século passado.
Era sinônimo de cultura e foi uma das mulheres que mais se
destacaram em Mato Grosso no século passado. Seus livros lhe renderam uma
cadeira na Academia Mato-grossense de Letras, local que à época era freqüentado
majoritariamente por homens. Ela ocupou por muitos anos a cadeira número 39 da
Academia.
Dunga Rodrigues deu aulas de francês e, principalmente, de
música. Promoveu recitais, formou muitos músicos na capital e escreveu diversos
livros sobre a cultura e história de Cuiabá e Mato Grosso. Também foi membro do
Instituto Histórico e Geográfico do Estado, do Centro de Música Brasileira do
Estado de São Paulo e integrou a Associação dos Diplomados da Escola Superior
de Guerra.
João Carlos Vicente Ferreira, na Enciclopédia Ilustrada
de Mato Grosso, elenca os livros publicados por Dunga Rodrigues:
Reminiscência de Cuiabá (1969); Lendas de Mato Grosso (1977); Os
Vizinhos (1977); Marphysa (1981); Cuiabá: Roteiro de Lendas (1984); Uma
aventura em Mato Grosso (1984); Memória Musical de Cuiabá (1985); Cuiabá
ao longo de cem anos (1994); Movimento musical em Cuiabá (2000); Colcha
de Retalhos (2000).
Dunga Rodrigues (1908-2002) foi mais que professora. Figura pública em Cuiabá, membro da Academia Mato-grossense de Letras, lecionou piano para centenas de crianças, jovens e adultos. Além de tocar o instrumento, seus alunos aprenderam o gosto pela música. Cheia de energia, concluiu um curso de especialização em música brasileira aos 89 anos! Com a mesma eficiência e bom humor, lecionou francês no Colégio Estadual de Mato Grosso, hoje Liceu Cuiabano Maria de Arruda Müller.
Dunga começou a aprender piano aos cinco anos de idade. Mas foi sob a orientação da professora polonesa Helena Muller que mudou sua relação com a música. Segundo ela, foi essa professora que a ensinou a tirar a intensidade do som com todo o corpo e não apenas com os dedos.
Uma revolucionária do seu tempo, cuja irreverência e simpatia encantava à todos. Foi professora, lecionou durante 52 anos em escolas públicas e conservatórios de Cuiabá. Com personalidade forte, soube se impor aos padrões sociais rígidos da época e optou por não se casar e investiu no seu desenvolvimento intelectual e profissional. Foi membro da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, do Centro de Música Brasileira do Estado de São Paulo, do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso e, finalmente, da Academia Matogrossense de Letras.
"Eu não sou uma pessoa agarrada ao passado acho a vida tão gostosa, e acredito que tudo depende de como você encara as situações."
Dunga Rodrigues, é, sem dúvida alguma, uma das mulheres mais representativa deste século em Mato Grosso.
Painel de algumas ilustrações para o livro "Roteiro de Lendas/1985 de Dunga Rodrigues- Editora. UFMT
“Lendas de Mato Grosso”, tem uma tiragem inicial de dois mil exemplares e traz ilustrações de Antonio João de Deus.
O Imaginário da tradição cuiabana
“Lendas de Mato Grosso”, tem uma tiragem inicial de dois mil exemplares e traz ilustrações de Antonio João de Deus. (Jesus: grifo meu).
A obra reúne 128 lendas e é dividida em duas partes. Na primeira estão as estórias de Ozébia e, na segunda, lendas atribuídas ao padre José Maria de Macerata. Ozébia, ou melhor, Maria Euzébia, era um anjo bom que contava histórias para Dunga na sua infância e tinha uma particularidade interessante: jamais se sentava em cadeiras. Sentava-se sempre nos batentes das portas e das janelas. Frei Macerata, por sua vez, era uma daquelas pessoas que conhecem as criaturas tanto pela direita como pelo avesso. Era uma dessas pessoas que costumava adivinhar pensamentos.
“É preciso chamar a atenção para a importância histórica e antropológica deste roteiro que registra dados etnográficos preciosos, essenciais à identificação de traços culturais que compõem o imaginário da tradição cuiabana”, escreve Julio Delamônica Freire em carta publicada no livro e sobre ele.
Sobre Dunga a gente poderia escrever calhamaço. Sua conversa interessada, seu jeito franco, seu bom humor e sua espirituosidade dão muito pano pra manga. Até para responder às perguntas mais simples que matam a curiosidade dos leitores, a professora, de improviso, apresenta respostas brilhantes. Sobre suas preferências musicais, saiu com essa: “Já tive um gosto mais acentuado. Hoje, tolero tudo”. Ao indagarmos se ela gostaria de condenar alguém, algum acontecimento, enfim, qualquer coisa que merecesse uma nota zero, ela respondeu: “Não costumo me incomodar com outros, como também não gosto de cultivar ídolos. Acho que o livre arbítrio é para ser usufruído por todo”. (L.F)
(DIÁRIO DE CUIABÁ – ILUSTRADO
Cuiabá, terça-feira, 04 de agosto de 1998.)
CULTURA EM DEBATE
Título: “Os Rumos da Cultura mato-grossense”
Ela
morreu no Dia de Reis, 6 de janeiro, de 2002.
Estava em Santos (SP)
onde se recuperava de problemas cardíacos que a levaram a ser internada
dias antes.Dunga chegou a receber alta e passou a ser acompanhada pela
família, mas o quadro dela se agravou e Maria Deschamps Rodrigues
morreu.O corpo dela foi cremado em Santos e as cinzas trazidas para
Cuiabá, onde foram enterradas.
Junto com o legado de música, coragem e conhecimento, deixou a lição
de uma vida bem vivida, com muito bom humor.
Fonte:
Dunga Rodrigues
Todos os Direitos Autorais reservados a autora.
2 comentários
Dunga é uma das minhas ídolas desde que eu era pequeno, eu sempre sonho tuce para ouvi-la tocar ao vivo. Bem, agora é ela quem me incentivou a estudar música sonhos, espero ir a algumas aulas de musica e conseguir
Incomparável...
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