Quem disse que eles são torcedores?
Robson Veiga - Mestrando
em Literatura e Crítica Literária pela PUC de Goiania-GO. Página pessoal na
internet: Café Literário.
A imprensa brasileira, infelizmente, ainda teima em
admitir que os vândalos que marcam encontros via net, com armas, paus e pedras,
em nome do futebol, são torcedores. Pra cá nós, esses caras não torcem nem pro
time A, nem pro time B, e sim, pelo time V, que poderia ser de violência, ou
quem sabe de vandalismo. Mas a mídia tem lá os seus equívocos, dá mesma forma
como tiveram há quase 20 anos, quando diziam que os caras-pintadas
representavam a massa – era tudo uma farsa, pois aquele grupo representava os
congressistas, a classe média, a avenida Paulista, Vieira Souto, pois naquela
época, o povão mesmo, só fazia poupança debaixo do colchão. Mas deixemos o
passado trancado em sete chaves, talvez algum dia alguém reinvente esta parte
da história brasileira, assim como fazia Saramago em relação à historiografia
oficial portuguesa.
Por enquanto, tratamos nós, daqui! O que nós não podemos é
admitir que em pleno século vinte e um os homens se armam a troco do nada,
ainda por cima deixando transparecer aos intelectuais que é tudo pela paixão
nacional: o futebol. Cá pra nós, enquanto o garoto propaganda Neymar, a cada
piscadela que dá, engorda razoavelmente a conta bancária, bancando de iates, e
ainda por cima, passando as mãos no bumbum das gatas mais suculentas da zona
sul, os caras ficam na net marcando encontros em turma apenas pra provar quem
manda no pedaço. Idade da pedra? Não, era das minuciosidades, porém, também
nesta era, o homem, mais do que nunca, precisa de um pouco mais de leitura.
Podemos admitir sim, que sem o futebol as tardes de
domingo ficam desajeitadas; que a segunda, sem a gozação pra cima do torcedor
adversário, fica careta; que as noites, sem as resenhas futebolísticas nas
ondas do rádio, não tem luares; mas, tirar sangue do outro ser humano pela
rivalidade criada pelo futebol, ah, meu amigo, isto não dá pra admitir. Não é
futebol que causa tais desejos aos ditos seres humanos que fazem tais
brincadeirinhas em hora marcada...
O futebol é feito de graça, beleza e arte. Sem falar, é
claro, nas cores e cânticos das torcidas; do grito, do choro e das bandeiras
que tremulam nas arquibancadas. Futebol também é feito das diferenças, das
rivalidades, das antíteses, mas sempre convergindo ao paradoxo, pois não precisamos
nos alimentar do sangue alheio só porque o nosso time perdeu mais um clássico.
Ainda mais no cerrado, que nem futebol tem, ou tem? Duvido muito se tem!
Vejamos bem um bom exemplo. Numa final de brasileirão na
década de 90, em pleno
Maracanã, estava eu e minha esposa, lada a lado a curtir
aquele belo espetáculo. Eu com a camisa do Vasco, embora não fosse o time do
meu coração, pois eu era botafoguense, e ela com a camisa do Palmeiras. No
final do jogo, o clube carioca havia levantado mais uma taça, enquanto ela,
torcedora do time paulista, chorava em meus braços. Não precisamos nos matar
por causa de uma simples partida de futebol, mesmo que seja a perda do título
nacional. Futebol é apenas mais um dos prazeres criados pelo homem. O show da
vida deve continuar.
Não sou fanático por futebol a ponto de cair do décimo
andar só porque meu time perdeu o título para o rival. Mas adoro ver a alegria
ou o choro do torcedor de coração. Aquele que pula, que grita, que faz e cumpre
promessas, que desfila sorridente sua camisa colada ao corpo na segunda, e
ainda goza o colega de trabalho, que puto da vida, olhar de mansinho o
companheiro e diz: tudo bem, um dia é da
caça e outro do caçador, me espere... ano que vem tá chegando aí! Agora, dá
flechada um no outro por causa de futebol – espera aí, conta outra que esta
estou careca de saber que tais “amores” não tem nada a ver com futebol, e sim,
com caso de polícia.
Todos os
direitos autorais reservados ao autor.
Assinar:
Postar comentários
(
Atom
)
Nenhum comentário
Postar um comentário