Amar(elar) sem ter [Ruleandson do Carmo]
Recorte do cartaz de "Like crazy" (2011)
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O que dói é quando você vai amar quem só sabe amarelar. Você conhece e sente logo uma conexão, não parece um início, às vezes parece uma continuação, de tão intenso e natural que é o modo como alguém ganha um espaço no seu coração. Algo faz você se sentir feliz, ainda que nada aconteça com os corpos, parece que, de algum jeito, as almas já se tocaram. Só que pára e fica assim, no meio, eternamente no entre, entre o que não foi e o que poderia ter sido. A certeza de que era bom escapa em meio a dúvida e, no amor, se a gente não tenta, se a gente não age, o amor se camufla e vira amizade e depois vira frustração e depois vira uma pausa - que talvez você passe a vida toda esperando por alguma continuidade. E, aí, você encontra, pois sempre encontra, gente mais bonita, gente mais tesuda, gente mais atraente, mas nunca alguém que faça você se sentir daquele jeito que aquele amor amarelado fazia. Você vira toda esquina e começa todo dia esperando que tropece nele, você se ajeita e vai a toda festa pensando que ele apareça, talvez. Só que cada dia termina, cada festa termina e ele não vem. O telefone toca, a mensagem chega e lá no fundo você queria que fosse ele, a maior parte do tempo online é esperando que ele puxe papo. Mas não toca, não escreve, não puxa. Quem você amou amarelou. O tempo passou e o que você tem é uma esperança e um banco para sentar e recordar daquele sorvete do primeiro encontro, tão frio como o que agora restou.
Você tem um começo, um meio e precisa encontrar um fim. E andando pelas ruas, esperando ser visto, esperando ser encontrado por alguém que certamente não te procura mais, você se depara com alguns muros e postes anunciando "trago a pessoa amada em três dias". Para trazer eu não preciso de ajuda, trazer a vida sempre trouxe, o que eu não encontrei ainda é quem faça ficar. É isso o mais difícil no amor, não encontrar alguém, mas o que fazer quando você encontra e, mais ainda, o que fazer com o que você sente? O que eu faço agora com o que eu sinto? Onde no mundo a gente pode recomeçar e meu coração deixar de sentir, senti sem ti, sem ter? Sei que amar deveria ser algo sem fim, mas eu preciso escrever um ponto final na nossa história, seja ele qual for. Caso não seja como eu quis, vou escrever sobre mim "seguiu em frente - com um sorriso sempre no rosto". E, se eu puder escolher, que seja assim o nosso fim: "e seguiram tentando para sempre", porque amar é - acima de tudo - tentar.
"Nunca é tarde demais para ser o que você poderia ter sido"
(George Eliot)
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