Encontro com o vampiro
Não era uma sexta-feira nem era um sábado. Mas os dias da semana agora já se misturavam. Qualquer dia era dia de estar com ele. Em qualquer momento. Em qualquer instante. Um telefonema ao entardecer a havia tirado de seus pensamentos terrenos. Ele poderia vê-la naquela noite de segunda-feira. E não poderia ser uma data melhor. Todo o universo conspirava para que aquele encontro fosse perfeito. Marcaram para as oito ou nove da noite. Não importava o horário, nem o tempo juntos, só importava que se vissem. Fossem minutos, eternos minutos.
Eles combinaram de se encontrar num lugar diferente. Num parque repleto de flores com rosas de todas as cores. Mas as que lhes deram boas-vindas foram as vermelhas, desabrochando ao compasso de seu andar. Conforme caminhavam por aqueles corredores no silêncio da noite, somente o vento fazia-se ouvir. Até ele, o vento, estava ansioso pelos acontecimentos. Sabia que nem sempre poderia testemunhar um encontro daqueles. E, em respeito, dançava sublimemente ao redor deles, fazendo notar-se, mas sem lhes desviar a atenção um do outro.
Os dois pararam para conversar, lado a lado, com os corpos tocando-se de leve. As estrelas os observavam, refletindo sua luz sobre o casal, ansiosas pelo que estava por acontecer. Subitamente, ele lhe roubou um beijo, e o vento parou, ruborizado. Até as rosas ficaram emocionadas e se inclinaram para chorar gotas de orvalho. O universo generoso ainda lhes guardava mais surpresas para aquela noite.
Como dois adolescentes, fugiram das plateias e procuraram um lugar discreto, onde pudessem se beijar até que não soubessem mais onde começava um e terminava o outro. Dentro desse esconderijo, ele mal fechou a porta, começaram a dançar. Uma dança sensual e morna, que aos poucos foi se acelerando até que os dois viajaram por galáxias distantes. Tinham sido apresentados há pouco tempo, mas já se conheciam há séculos, todos os segredos e caminhos. Ele então a seduziu novamente, como um vampiro em busca de vinho, abraçou-a por trás e afastou seus cabelos, lentamente. Beijou seu pescoço e cobriu seu corpo com o dele.
Os rígidos ponteiros do relógio pararam. As rosas, de longe na praça, voltaram-se em direção ao esconderijo deles. As vermelhas, completamente orvalhadas, arrepiaram-se e exalaram seu melhor perfume, que o vento soprou, presenteando-os, enquanto eles caminhavam para o centro do universo. Lentamente, ele os conduziu numa viagem a outro mundo, onde só existiam vampiros e presas, e o tempo não era.
Tem vinte livros publicados para crianças, jovens e adultos.
Faz oficinas e contações de histórias em escolas do Brasil.
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