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Lêdo Ivo [Jornalista, Poeta, Romancista, Contista, Cronista e Ensaísta Brasileiro]

Lêdo Ivo (Maceió, 18 de fevereiro de 1924 - Sevilha, 23 de dezembro de 2012), filho de Floriano Ivo e Eurídice Plácido de Araújo Ivo foi um jornalista, poeta, romancista, contista, cronista e ensaísta brasileiro.

Seu primeiro livro foi As Imaginações. Fez jornalismo e tradução. Da sua vasta obra, destacam-se títulos como Ninho de Cobras, A Noite Misteriosa, As Alianças, Ode ao Crepúsculo, A Ética da Aventura ou Confissões de um Poeta.



Era membro da Academia Brasileira de Letras, eleito em 13 de novembro de 1986 para a cadeira 10, sucedendo a Orígenes Lessa


Discurso de Posse

Lêdo Ivo foi eleito em 13 de novembro de 1986, na sucessão de Orígenes Lessa e recebido em 7 de abril de 1987 pelo acadêmico Dom Marcos Barbosa. Eis o 1º parágrafo de seu discurso de posse[2], já como membro da Academia Brasileira de Letras:


"Numa tarde de outono, um homem caminha pelas ruas de Londres. O frio e o vento o obrigam a encolher-se no seu sobretudo. Sozinho e desconhecido na metrópole que Verlaine comparou à Babilônia, esse homem é um exilado, expulso de sua pátria por um caudilho taciturno. E enquanto ele marcha entre as folhas que caem, em seu espírito flui a interminável reflexão sobre o seu país que, no outro lado do oceano, vive as turbulências do dissídio e do desencontro.

Esta é a imagem que me ocorre de Rui Barbosa, o fundador da Cadeira nº 10: a do exilado."







Poesia

As imaginações. Rio de Janeiro: Pongetti, 1944;

Ode e elegia. Rio de Janeiro: Pongetti, 1945;

Acontecimento do soneto. Barcelona: O Livro Inconsútil, 1948;

Ode ao crepúsculo. Rio de Janeiro: Pongetti, 1948;

Cântico. Ilustrações de Emeric Marcier. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1949;

Linguagem: (1949-19041). Rio de Janeiro, J. Olympio, 1951;

Ode equatorial. Com xilogravuras de Anísio Medeiros. Niterói: Hipocampo, 1951;

Acontecimento do soneto. Incluindo Ode à noite. Introdução de Campos de Figueiredo. 2. ed. Rio de Janeiro: Orfeu, 1951;

Um brasileiro em Paris e O rei da Europa. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1955;

Magias. Rio de Janeiro: Agir, 1960;

Uma lira dos vinte anos (contendo: As imaginações, Ode e elegia, Acontecimento do soneto, Ode ao crepúsculo, A jaula e Ode à noite). Rio de Janeiro: Liv. São José, 1962;

Estação central. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1964;

Rio, a cidade e os dias: crônicas e histórias. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1965;

Finisterra. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1972;

O sinal semafórico (contendo: de As imaginações à Estação central). Rio de Janeiro: J. Olympio, 1974;

O soldado raso. Recife: Edições Pirata, 1980;

A noite misteriosa. Rio de Janeiro: Record, 1982;

Calabar. Rio de Janeiro: Record, 1985;

Mar Oceano. Rio de Janeiro: Record, 1987;

Crepúsculo civil. Rio de Janeiro: Topbooks, 1990;

Curral de peixe. Rio de Janeiro: Topbooks, 1995;

Noturno romano. Com gravuras de João Athanasio. Teresópolis: Impressões do Brasil, 1997;

O rumor da noite. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2000;

Plenilúnio. Rio de Janeiro: Topbooks, 2004;

Réquiem, Rio de Janeiro: A Contracapa, 2008.

Poesia Completa - 1940-2004. Rio de Janeiro: Topbooks, 2004;

Réquiem. Com pinturas de Gonçalo Ivo e desenho de Gianguido Bonfanti. Rio de Janeiro: editora Contra Capa, 2008.




Antologias

Antologia Poética. Rio de Janeiro: Ed. Leitura, 1965.

O Flautim. Rio de Janeiro: Editora Bloch, 1966.

50 Poemas Escolhidos pelo Autor. Rio de Janeiro: MEC, 1966.

Central Poética. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1976.

Os Melhores Poemas de Lêdo Ivo. São Paulo: Ed. Global, 1983. (2.a edição, 1990).

10 Contos Escolhidos. Brasília: Ed. Horizonte, 1986.

Cem Sonetos de Amor. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1987.

Antologia Poética. Organização de Walmir Ayala; introdução de Antonio Carlos Vilaça. Rio de Janeiro: Ediouro, 1991.

Os Melhores Contos de Lêdo Ivo. São Paulo: Global Editora, 1995.

Um Domingo Perdido (contos). São Paulo: Global Editora, 1988.

Poesia Viva. Recife: Editora Guararapes, 2000.

Melhores Crônicas de Lêdo Ivo. Prefácio e notas de Gilberto Mendonça Teles. São Paulo: Global Editora, 2004.

50 Poemas Escolhidos pelo Autor. Rio de Janeiro: Edições Galo Branco, 2004.

Cem Poemas de Amor. São Paulo: Escrituras Editora, 2005.

O vento do mar. Rio de Janeiro: Contracapa/ABL, 2010.




Romance

As alianças (Prêmio da Fundação Graça Aranha). Rio de Janeiro: Agir, 1947; 2.a ed., Rio, Editora Record, 1982; 3.a ed., Coleção Aché dos Imortais da Literatura Brasileira. São Paulo: Editora Parma, 1991; 4ª edição, Belo Horizonte: Editora Leitura, 2007.

O caminho sem aventura. São Paulo: Instituto Progresso Editorial, 1948; 2.a ed. revista (com xilogravuras de Newton Cavalcanti), Rio de Janeiro: Edições O Cruzeiro, 1958; 3.a ed., Rio de Janeiro: Editora Record, 1983.

O sobrinho do general. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1964; 2.a ed., Editora Record, 1981.

Ninho de cobras (V Prêmio Walmap). Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1973; 2.a ed., Editora Record, 1980; 3.a ed. Editora Topbooks, 1997; 4ª ed. Maceió: Editora Catavento.

A morte do Brasil. Rio de Janeiro: Editora Record, 1984; 2.a ed., São Paulo: Círculo do Livro, 1990; 3ª Edição, Belo Horizonte: Editora Leitura, 2007.



Conto

Use a passagem subterrânea. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1961;

O flautim. Rio de Janeiro: Bloch, 1966;

10 [dez] contos escolhidos. Brasília: Horizonte, 1986;

Os melhores contos de Lêdo Ivo. São Paulo: Global, 1995;

Um domingo perdido. São Paulo: Global, 1998.




Crônica

A cidade e os dias. Rio de Janeiro: O Cruzeiro, 1957;

O navio adormecido no bosque. São Paulo: Duas Cidades, 1971;

As melhores crônicas de Lêdo Ivo. Prefácio e notas de Gilberto Mendonça Teles. São Paulo: Global, 2004.




Ensaio

Lição de Mário de Andrade. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Saúde, 1951;

O preto no branco. Exegese de um poema de Manuel Bandeira. Rio de Janeiro: Liv. São José, 1955;

Raimundo Correia: poesia (apresentação, seleção e notas). Rio de Janeiro: Agir, 1958;

Paraísos de papel. São Paulo: Conselho Estadual de Cultura, 1961;

Ladrão de flor. Capa de Ziraldo Rio de Janeiro: Elos, 1963;

O universo poético de Raul Pompéia. Em apêndice: Canções sem metro, e Textos esparsos [de Raul Pompéia]. Rio de Janeiro: Liv. São José, 1963;

Poesia observada. (Ensaios sobre a criação poética, contendo: Lição de Mário de Andrade, O preto no branco, Paraísos de papel e as seções inéditas Emblemas e Convivências). Rio de Janeiro: Orfeu, 1967;

Modernismo e modernidade. Nota de Franklin de Oliveira. Rio de Janeiro: Liv. São José, 1972;

Teoria e celebração. São Paulo: Duas Cidades, 1976;

Alagoas. Rio de Janeiro: Bloch, 1976;

A ética da aventura. Rio de Janeiro: F. Alves, 1982;

A república da desilusão. Rio de Janeiro: Topbooks, 1995;

O Ajudante de mentiroso. Rio de Janeiro:Educam/ABL, 2009.

João do Rio. Rio de Janeiro: ABL, 2009.

Autobiografia

Confissões de um poeta. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1979;

O aluno relapso. São Paulo: Massao Ohno, 1991.




Literatura Infanto-juvenil


O canário azul. São Paulo: Scipione, 1990;

O menino da noite. São Paulo: Companhia. Editora Nacional, 1995;

O rato da sacristia. São Paulo: Global, 2000;

A história da Tartaruga. São Paulo: Global, 2009.



Edição Conjunta

O Navio Adormecido no Bosque (reunindo A Cidade e os Dias e Ladrão de Flor). São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1971.



Traduções

Traduções de títulos internacionais feitas por Lêdo Ivo

AUSTEN, Jane. A Abadia de Northanger. Rio de Janeiro: Editora Pan-Americana, 1944. Rio de Janeiro: Editora Francisco Alves, 1982.

MAUPASSANT, Guy de. Nosso Coração. São Paulo: Livraria Martins, 1953.

RIMBAUD, Jean-Artur. Uma Temporada no Inferno (Une Saison en enfer) e Iluminações (Illuminations) (tradução, introdução e notas). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1957. Rio de Janeiro: Editora Francisco Alves, 2004.

DOSTOIEVSKI, Fiodor M. O Adolescente. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1960.

GOES, Albrecht. O Holocausto. Rio de Janeiro: Agir, 1960.




Condecorações

Ordem do Mérito dos Palmares, no grau de Grã-Cruz

Ordem do Mérito Militar, no grau de Oficial

Ordem do Rio Branco, no grau de Comendador

Medalha Manuel Bandeira

Cidadão honorário de Penedo, Alagoas

Grande Benemérito do Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro

Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Alagoas

Pertence ao PEN Clube Internacional, sediado em Paris.




Manifesto

Durante a reunião da Academia Brasileira de Letras em 4 de Agosto de 2011, Lêdo Ivo leu aos colegas um libelo, um manifesto contra a inquietação na plateia promovida por seu desafeto, o também imortal Eduardo Portella durante um discurso que fez dias antes, numa conferência em homenagem a Gonçalves de Magalhães. Eis o discurso na íntegra:

Sr. Presidente,
Senhoras Acadêmicas,
Senhores Acadêmicos,

Nesta Academia, como em todas as corporações que se regem pelas normas da civilização, da boa educação, da polidez e da conviviabilidade, o silêncio do auditório, durante a fala de um dos seus integrantes, é um princípio pétreo.

Esse princípio, Sr. Presidente, foi vulnerado quinta-feira última, quando eu estava falando sobre Gonçalves de Magalhães.

Durante 25 minutos, este auditório ouviu, ininterruptamente, ganidos, gemidos, vagidos, coaxos, grasnidos, uivos, ladridos, miados, pipilos e arrulhos intoleráveis, senão obscenos, de um macilento boquirroto ostensivamente deliberado a tisnar e perturbar a minha exposição.

Momentos antes, Sr. Presidente, V. Exa. exarava o seu zelo por esta Casa versando sobre a quilometragem exorbitante de um dos táxis que servem aos acadêmicos do plenário e que, em seu alto juízo, golpeava as burras fartas desta Academia, a mais rica do mundo.

Esse zelo, que é louvável, ou extremamente louvável, se cingiu na sessão de quinta-feira última, a um inquietante item monetário, e não voltou a florescer quando um dos mais antigos integrantes desta Casa discorria sobre Gonçalves de Magalhães.

Entendo que era dever inarredável de V. Exa. impor então ao auditório o silêncio de praxe, exercendo plenamente a sua Presidência. Esse entendimento, aliás, não é só meu -mas ainda o de outros companheiros que, finda a sessão, e ao longo da semana, estranharam a omissão, leniência ou tolerância de V. Exa.
Houve até companheiros que me externaram a opinião de que eu deveria ter suspendido a minha palestra, já que ela fluía num ambiente toldado pela enxurrada de grasnidos a que já aludi. E não posso nem devo esconder que outros confrades, apreciadores das soluções surpreendentes ou belicosas que quebram a monotonia da vida e das instituições, me interpelaram, surpresos, desejosos de saber onde estava a minha alagoanidade, que não se manifestara.

A todos esses companheiros fiéis à tradição de urbanidade e conviviabilidade desta Academia, onde estou há 25 anos, expliquei o ter lido o meu texto até o fim.
Deus, em sua infinita generosidade, assegurou-me, aos 87 anos, o timbre de voz de minha juventude. Não pertenço à raça dos velhos trôpegos que, com voz de falsete, emitem arrulhos indecorosos em ocasiões em que a decência reclama o ritual do silêncio. Mas a razão decisiva que me levou a não suspender a minha palestra é outra. Além de ter mantido em mim a voz de minha juventude, Deus me aquinhoou com o sentimento da misericórdia -que é a compaixão suscitada pela miséria alheia - e da piedade, que é dó e comiseração.

Confesso, Sr. Presidente, que me confrange o coração assistir ao penoso espetáculo dos que, alcançada a velhice, ostentam em seu trajeto os sinais indeléveis e quase póstumos da decadência física, mental e moral aceleradas, e mesmo amparados por bengalas astutas rastejam nos salões, corredores e auditórios tão lastimosamente, com os olhos mortiços fixados no chão, como se temessem resvalar em uma cova aberta.

Há velhos que não sabem envelhecer e, desprovidos da alegria e do amor à vida, e do emblema do convívio, destilam ódio, inveja e despeito, porejam calúnias e intrigas, bebem o fel do ostracismo e da obscuridade.

Há velhos que procuram enganar-se a si mesmos, pintando os cabelos, embora as florejantes e fartas cabeleiras antigas já tenham sido devastadas pela sabedoria ou impiedade dos tempo, que as converte em insidiosas relíquias capilares.

Esses velhos enganosos e enganados, o padre Manuel Bernardes os estampilha de "tintureiros de si mesmo".

No episódio em pauta, o uso imoderado dessa tintura, ou pintura, para esconder o inescondível e disfarçar o indisfarçável, casa-se com a boquirrotice provocadora.

Mas, tintureiro de si mesmo e boquirroto, esse personagem bizarro merece e reclama, de nossa parte, não um ato agressivo ou belicoso, ou alagoano, mas a muda expressão dessa piedade e dessa misericórdia que devem habitar sempre os nossos corações.

Encerro esta palesta com um verso de Lucrécio:

"É doce envelhecer de alma honesta".

Deus guarde V. Exa., Senhor Presidente, e os demais integrantes desta Casa.

Tenho dito



Morreu aos 88 anos de idade, após um mal súbito, enquanto viajava ao exterior.



Soneto da Porta

Quem bate à minha porta não me busca.
Procura sempre aquele que não sou
e, vulto imóvel atrás de qualquer muro,
é meu sósia ou meu clone, em mim oculto.

Que saiba quem me busca e não me encontra:
sou aquele que está além de mim,
sombra que bebe o sol, angra e laguna
unidos na quimera do horizonte.

Sempre andei me buscando e não me achei:
E ao pôr-do-sol, enquanto espero a vinda
da luz perdida de uma estrela morta,

sinto saudades do que nunca fui,
do que deixei de ser, do que sonhei
e se escondeu de mim atrás da porta.



Acontecimento do Soneto

À doce sombra dos cancioneiros
em plena juventude encontro abrigo.
Estou farto do tempo, e não consigo
cantar solenemente os derradeiros

versos de minha vida, que os primeiros
foram cantados já, mas sem o antigo
acento de pureza ou de perigo
de eternos cantos, nunca passageiros.

Sôbolos rios que cantando vão
a lírica imortal do degredado
que, estando em Babilônia, quer Sião,

irei, levando uma mulher comigo,
e serei, mergulhado no passado,
cada vez mais moderno e mais antigo.



Fonte:

Lêdo Ivo
Todos os direitos autorais reservados ao autor.  

Um comentário

A Folignano un gaucho disse...

Una grande pérdida para la poesia