Os domingos precisam de feriados…
Estamos entrando no penúltimo mês do ano, tempo de parar, refletir, repensar… o presente mais precioso que temos… o nosso tempo.
Me pergunto se estamos sendo senhores dos nossos destinos?
Como nos diz a Oração ao Tempo de Caetano Veloso…
“És um senhor tão bonito, quanto a cara do meu filho, tempo tempo tempo tempo, vou te fazer um pedido, tempo tempo tempo tempo… Compositor de destinos, tambor de todos os ritmos, entro num acordo contigo, tempo tempo tempo tempo… Por seres tão inventivo e pareceres contínuo, és um dos deuses mais lindos, tempo tempo tempo tempo…
Peço-te o prazer legítimo e o movimento preciso, quando o tempo for propício, tempo tempo tempo tempo…
De modo que o meu espírito ganhe um brilho definido e eu espalhe benefícios, tempo tempo tempo tempo…
O que usaremos prá isso fica guardado em sigilo, apenas contigo e comigo, tempo tempo tempo tempo…
E quando eu tiver saído para fora do teu círculo não serei nem terás sido, tempo tempo tempo tempo…
Ainda assim acredito ser possível reunirmo-nos, num outro nível de vínculo, tempo tempo tempo tempo… Portanto peço-te aquilo e te ofereço elogios nas rimas do meu estilo…
O rabino Nilton Bonder nos deixa uma reflexão…
“Toda sexta-feira à noite começa o Shabat para a tradição judaica. Shabat é o conceito que propõe descanso ao final do ciclo semanal de produção, inspirado no descanso divino, no sétimo dia da criação.
Muito além de uma proposta trabalhista, entendemos a pausa como fundamental para a saúde de tudo o que é vivo.
A noite é pausa, o inverno é pausa, mesmo a morte é pausa. Onde não há pausa, a vida lentamente se extingue.
Para um mundo no qual funcionar 24 horas por dia parece não ser suficiente, onde o meio ambiente e a terra imploram por uma folga, onde nós mesmos não suportamos mais a falta de tempo, descansar se torna uma necessidade do planeta.
Hoje, o tempo de pausa é preenchido por diversão e alienação. Lazer não é feito de descanso, mas de ocupações para não nos ocuparmos. A própria palavra entretenimento indica o desejo de não parar. E a incapacidade de parar é uma forma de depressão.
O mundo está deprimido e a indústria do entretenimento cresce nessas condições.
Nossas cidades se parecem mais com a Disneylândia. Longas filas para aproveitar experiências pouco interativas.
Fim de dia com gosto de vazio.
Um divertido que não é nem bom nem ruim.
Dia pronto para ser esquecido, não fossem as fotos e a memória de uma expectativa frustrada que ninguém revela para não dar o gostinho ao próximo…
Entramos no milênio num mundo que é um grande shopping.
A Internet e a televisão não dormem. Não há mais insônia solitária; solitário é quem dorme. As bolsas do Ocidente e do Oriente se revezam fazendo do ganhar e perder, das informações e dos rumores, atividade incessante.
A CNN inventou um tempo linear que só pode parar no fim.
Mas as paradas estão por toda a caminhada e por todo o processo. Sem acostamento, a vida parece fluir mais rápida e eficiente, mas ao custo fóbico de uma paisagem que passa.
O futuro é tão rápido que se confunde com o presente. As montanhas estão com olheiras, os rios precisam de um bom banho, as cidades de uma cochilada, o mar de umas férias, o domingo de um feriado…
Nossos namorados querem ‘ficar’, trocando o ‘ser’ pelo ‘estar’. Saímos da escravidão do século XIX para o leasing do século XXI – um dia seremos nossos? Quem tem tempo não é sério, quem não tem tempo é importante. Nunca fizemos tanto e realizamos tão pouco.
Nunca tantos fizeram tanto por tão poucos… Parar não é interromper.
Muitas vezes continuar é que é uma interrupção.
O dia de não trabalhar não é o dia de se distrair: – literalmente, ficar desatento; – é um dia de atenção, – de ser atencioso consigo e com sua vida. A pergunta que as pessoas se fazem no descanso é: ‘o que vamos fazer hoje?’ – já marcada pela ansiedade.
E sonhamos com uma longevidade de 120 anos, quando não sabemos o que fazer numa tarde de domingo. Quem ganha tempo, por definição, perde. Quem mata tempo, fere-se mortalmente.
É este o grande ‘radical livre’ que envelhece nossa alegria – o sonho de fazer do tempo uma mercadoria. Em tempos de novo milênio, vamos resgatar coisas que são milenares.
A pausa é que traz a surpresa e não o que vem depois. A pausa é que dá sentido à caminhada.
A prática espiritual deste milênio será viver as pausas. Não haverá maior sábio do que aquele que souber quando algo terminou e quando algo vai começar. Afinal, por que o Criador descansou?
Talvez porque, mais difícil do que iniciar um processo do nada seja dá-lo como concluído.”
Como nos diz Drummond, quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente.
Com afeto,
Beth Landim
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Um comentário
Beth Landim, pesquisando a autoria de um pensamento, descobri que era seu. Num momento de pausa, encontrá-la foi revisar o meu interior e encontrar um encantamento pelo seu dom de escrever. Foi um encontro muito, muitíssimo precioso para mim. Tereza
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