Esquizofrenia Coletiva
Estamos
vivendo no mundo das comunicações. Por todo lado há informação saltando aos
nossos olhos. Querem nos vender, a todo custo, uma felicidade enlatada, como as
sardinhas no mercado ou como nós mesmos quando estamos indo ao trabalho no
ônibus ou metrô lotado.
Querem
nos fazer acreditar que assim, como sardinhas – sem cabeças, sem pensar, sem
questionar as mazelas e os absurdos que se desenham diante de nós – seremos
felizes. Fazem um grande esforço para nos convencer disso: gastam seu latim,
seu inglês e suas cores para isso. E conseguem.
Quem
de nós nunca comprou algo que não precisava? Sou capaz de ajuntar uma caixa
cheia de quinquilharias modernas que não uso pra nada e, sinceramente, não sei
porque comprei.
O uso
da tecnologia acaba sendo isso: quantas redes sociais nos são anunciadas
diariamente? Prendemo-nos na mais famosa dos últimos dois anos, mas quem
garante que na virada da meia-noite um outro sortudo não ganhe destaque e vire
a bola da vez?
O uso
da tecnologia nos enche com seus barulhinhos, seus aplicativos e gadgets e nos
esvazia de nós mesmos. Tenho uma teoria: a sociedade anda esquizofrênica, todos
nós – e ‘nós’ me inclui!
Andando
pelas ruas é muito fácil encontrar pessoas, mas não vejo mais gente. Essas
pessoas, pobres coitadas, estão cada dia mais escravas de suas
pseudo-obrigações com o mundo virtual e esquecem-se de seu mundo real. Observe
a cena:
Em
uma mesa de bar, duas pessoas sentam-se para almoçar e, com sorte, apenas uma
delas enquanto o garçom não traz a refeição vai se conectar a internet para
fazer o seu famigerado check-in no restaurante, ignorando por alguns
minutos a sua companhia real. Se tudo der certo, em mais alguns minutos a dupla
tirará uma foto, sorridente, aplicarão um filtro – para dar um ar maior de
felicidade – e postarão como a vida é bela em plena
segunda-feira-casca-grossa-dura-de-aguentar.
Sim,
meus caros, a vida é bela, só que não! É, na verdade Central do Brasil! Uma
central onde passamos correndo todos os dias pelos outros e não damos bom dia,
não sorrimos mais. Já fizemos isso no facebook e nos desobrigamos às
gentilezas tão comuns até o início do século XXI.
Sofremos
de uma esquizofrenia e de uma depressão coletiva quando priorizamos congelar um
sorriso falso, amarelo e semipronto que ensaiamos no espelho e disparamos
sempre que alguém diz: “foto!” e automaticamente completamos a frase com “shop”
e pensamos logo se o resultado final com o aplicativo photoshop irá
nos fazer mais bonitos, salientando nossas curvas, nossos olhares e nosso belo
sorriso sem graça. Se o resultado for bom vai para o mural, ganha destaque e
vamos ver quantos “curtir” eu ganho.
Curtir...
a vida se pauta em curtidas! Mas não falamos mais com a gostosa ideia de sair
por aí aproveitando a vida, dando gargalhadas reais, com amigos reais, em
noites quentes e com músicas e abraços de verdade. Agora nos pautamos nas
curtidas virtuais: nunca um dedinho polegar levantado teve tanta importância
para uma sociedade da informação e informatizada.
Uns
chamam isso de progresso. Eu chamo de retrocesso. Que me adianta ter mil
dispositivos onde as pessoas – e eu mesma – posso curtir, se curtir não tem
mais o mesmo sentido?
Estamos
vivendo uma depressão coletiva, onde nos afastamos dos outros e de nós mesmos,
prendendo-nos no nosso fantástico mundinho pessoal, longe das pessoas e de toda
a sorte de sentimentos bons e ruins que poderíamos viver.
Repito:
estamos esquizofrênicos! Tornamo-nos pessoas e não mais gente. Tornamo-nos
sorrisos foscos. Perdemos o calor, o brilho, a alma. Estamos em tempos de
grandes exposições, mas expomos só a nossa embalagem. Esquecemos o conteúdo,
que era a melhor parte. Estamos criando armadilhas para nós mesmos, estamos nos
atocaiando e não damos conta. Reservamos para nós dias de solidão e não nos damos
conta disso.
Tenho
medo das pessoas que vejo pelas ruas, de seus vazios, seus olhares
transparentes, seus sorrisos mecânicos e seus bom dias protocolares. Tenho medo
do que estamos nos transformando. Tenho medo do que vou ver no espelho daqui há
alguns anos... não quero ser estanque enquanto a vida passa. Não desejo e nem
mereço isso. Não merecemos.
Que
nossos corações resistam. Que nossas almas não se entediem de nós e que não nos
abandonem em nossa imperfeição e mediocridade. Nós apenas sonhamos em ser melhores,
por mais que isso implique em nos tornamos piores.
Dy Eiterer. Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil. Edylane
é Edylane desde 20 de novembro de 1984. Não ia ter esse nome, mas sua mãe, na
última hora, escreveu desse jeito, com "y", e disse que assim seria.
Foi feito. Essa mocinha que ama História, música e poesia hoje tem um príncipe
só seu, seu filho Heitor. Ela canta o dia todo, gosta de dançar - dança do
ventre - e escreve pra aliviar a alma. Ama a vida e não gosta de nada morno,
porque a vida deve ser intensa. Site:
Dy Vagando
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7 comentários
Eu me identifiquei com seu texto. E realmente ele retrata a realidade dos tempos modernos. Mas infelizmente as vezes me pergunto como ignorar ou mudar isso, e infelizmente não chego a uma resposta que não seja apenas algo pra eu me iludir. César Marcos
Caríssima,
Concordo com desabafo e me incluo nele, estou engolfado até os cabelos que me faltam no mundo virtual.
Mas ainda penso que há esperança, porque sou daqueles que não troca um encontro com os amigos pela convivência virtual pura e simples e sei que o toque, o cheiro, o gosto e tudo que envolve as relações humanas ainda vão nos manter menos esquizofrênicos - espero.
Parabénss, seu texto é maravilhoso, é um desabafo, infelizmente as pessoas não sabem fazer o uso correto das redes sociais, viramos robôs. Vamos aproveitar o texto e repensar nossas vidas, ler mais, tomar chuva e falar cara a cara com um amigo, rir de verdade sem "kkk", bjos Dy!
Concordo com seu texto, porém não curvo ao afirma que estou inclusa nesse péssimo acesso existe vários outros meios de comunicação que está tirando a essência do contato físico das pessoas.
Acredito que o ser humano deve acreditar mais no outro e deixar de se esconder atrás de passado sofrido e encarar as pessoas de frente.
Ps. Terei um ótimo prazer em divulgar esse texto.
Parabéns Edylane...Vc como sempre arrasa.
''arrasa o meu projeto de vida'' - A Rosa de Chico Buarque.
bj grande.
Mário Brazil
Muito bom, Dy. Belíssimo texto. Viver sabiamente é saber escolher a melhor parte nas diversas situações da vida. E você nos alerta para isso. Parabéns.
Beijos
A todos vocês que passaram por aqui, que lerem meu texto, que o compartilharam, que comentaram o meu muito obrigada!
Fica aqui o convite para visitarem o blog!
Beijos,
Dy Eiterer
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