Outono [Raul J.M. Arruda Filho]
A paisagem vai ganhando novas cores, mais sombrias, mais próximas da realidade. Nuvens encobrem o sol, que rapidamente se torna uma réstia, como se fosse a visita de um amigo distante − desses que nos alegram com a presença durante um ou dois dias e que, depois que partem, demoram a voltar.
O resto do tempo será frio, triste e melancólico. Chuvas súbitas no meio da tarde. O céu plúmbeo é uma constante – algumas vezes, irritante. As noites são mais longas e começam mais cedo. Nao há o que impeça o frio. Cabernet Sauvignon, Malbec, Merlot, Carmenère, Pinot Noir, Syrah, Tannat − como se fossem versos de um poema épico, essas palavras mágicas são recitadas na embriaguês produzida pela muralha de gelo que o outono começa a construir ao redor de nós. Com uma taça de vinho na mão, o mundo se abre em emoções e sentimentos, o romance encontrando formas de unir homens e mulheres.
No outono, as pessoas ficam mais elegantes. Escolher um casaco ou alguma roupa de lã implica em entender que a vida é mais complicada do que o abrir e fechar as portas do guarda−roupas. Cada vestimenta, cada acessório, é um aditivo para a libido. São esses pequenos truques da sedução que permitem gozosos vôos da imaginação. Despir−se é mais excitante do que estar despido.
Durante três meses, o outono acompanhará o existir – enquanto as folhas caem.




Um comentário
Minha estação preferida. O vento, nas tardes outonais, traz "cheiros" de dias distantes, envoltos em mágicas cores. Belo texto!
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