|
Igreja Matriz - Alvorada
Junina –
Foto do grande
artista plástico
e vagalume Gildemar
Sena.
|
Uauá, sim senhor!
_
Uauá!
_
Como?! Auau? ... Auá?! ... O que é isso?!
_ U – A – U – Á. – soletro calmamente. É a cidade de onde
venho e que comigo levo, caminho qualquer que eu vá.
Costumeiramente
Uauá causa espanto, seja pela peculiaridade de sua cultura ou pela
originalidade do nome. Do tupi – guarani, UAUÁ, significa pirilampo ou
vagalume, inseto que emite luz fosforescente, companheiro dos poetas e boêmios
locais.
Não
é, pois, sobre as dominações de Garcia d’Ávila sertão baiano adentro que
falarei, nem das peripécias de Lampião e seu bando pela caatinga uauaense, tampouco
lhe direi sobre baús, de ouro e moedas, enterrados por nossos antepassados, que
fugiam dos “Revoltosos” da Coluna Prestes, nos idos de 1925 e 1926.
Nada
direi sobre o meteorito do Bendegó, caído em terras de Uauá e levado para o
Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, a mando de D. Pedro
II e onde até hoje está. De tal modo, nada mencionarei acerca do primeiro
combate da Guerra de Canudos, em 1896, onde
o sertanejo defendia sua liberdade das imposições republicanas. Euclides
da Cunha, em sua mais importante obra, “Os
Sertões”, fizera um registro sobre a guerra e a terra dos vagalumes:
Uauá
A tropa chegou exausta
a Uauá no dia 19, depois de uma travessia penosíssima.
Este arraial — duas ruas desembocando numa praça irregular — é o ponto mais animado daquele trecho do
sertão. Como a maior parte dos vilarejos pomposamente gravados nos nossos
mapas, é uma espécie de transição entre maloca e aldeia — agrupamento desgracioso
de cerca de cem casas mal feitas e tijupares pobres, de aspecto deprimido e
tristonho.
Alcançam-no quatro estradas que, a partir de Jeremoabo passando em Canudos, de
Monte Santo, de Juazeiro e Patamuté, conduzem para a sua feira, aos sábados,
grande número de tabaréus sem recursos para viagens longas a lugares mais
prósperos. Ali chegam por ocasião das
festas como se procurassem opulenta capital das "terras grandes";
entrajados das melhores vestes, ou encourados de novo; pasmos ante os
mostradores de duas ou três casas de negócio, e contemplando no barracão da
feira, no largo, os produtos de uma indústria pobre em que aparecem, como
valiosos espécimens, courinhos curtidos e redes de caroá. (CUNHA, 1902. Grifo nosso)
Mesmo
naquela época, ainda um pequeno arraial isolado, Uauá já se destacava pela
animação e poder agregador.
|
Foto do Vagalume Regys
Mattos
|
Afinal,
o que é UAUÁ?
Eu
direi ardorosamente: é a terra dos vagalumes, de homens e mulheres dotados de
uma inenarrável luz, banhada pelo Rio Vaz Barris que fertiliza a magia que
brota em versos, notas, acordes, cores, movimentos...
Conhecida
nacionalmente pelo sabor inigualável da carne de bode e pelo beneficiamento do
umbu e seus derivados (comercializados, inclusive, na Europa), Uauá tem seu
destaque maior na cultura popular, na efervescência poética que brota de suas
ruelas e botecos. São cantores, músicos, poetas, artistas plásticos,
cordelistas, benzedeiras, filósofos de balcão, comunistas estelares, artesãos,
gente... Gente que tem orgulho de ser e fazer Uauá.
Pensas
que é mero ufanismo de sertanejo tresloucado? E eu te convido a participar das
alvoradas de São João, dos Reisados; a beber um gole de sei lá o quê, no Bar de
Ademar; a andar na feira entre barracas de fumo de rolo, farinha e
quebra-queixo e sair imune, e, não ver acender o lume que brilha nessa gente,
nessa terra-poesia-vagalume.
Erika Jane Ribeiro
(Pók Ribeiro).
Poeta, cronista, professora de Língua Portuguesa, oficineira, articuladora
textual com adolescentes e blogueira. Natural da cidade de Uauá – Bahia, terra
iluminada pelos vagalumes e com forte veia cultural, foi acolhida pelo Rio São
Francisco desde os idos de 2000 quando iniciou o curso de Licenciatura em
Letras pela UPE/FFPP em Petrolina - PE. Já em 2010, concluiu o curso de Direito
pela UNEB em Juazeiro – BA e, em 2012, especializou-se em Direito Penal e
Processo Penal. Amante da literatura desde sempre, começou a escrever poemas
por volta dos 12 anos. Em 2007 lançou, numa produção independente, o livro de
poemas “Noites e Vagalumes”. Atualmente, além de poemas, escreve crônicas,
memórias literárias e arrisca-se em composições musicais, em parceria com
amigos músicos. Página na internet: Vagalumes, poesia e vida
15 comentários
Nunca havia lido um texto tão bom descrevendo um lugar.....parabéns Pók
muito bom...adorei..parabens..
Muito bem articulado, leitura fácil!! Ótimo texto!
Obrigada pessoal pela apreciação!
UAUÁ, sim Senhor!
^^
Parabéns Pokinha! Texto Maravilhoso! Só que conhece Uauá, sabe o que tu descreves!
Luis Sena
Nossa, que terra mais deliciosa! Fiquei querendo, também, vagalumear poesia pelas noites de Uauá. Não, sem antes, passar pelo Bar do Ademar. Aplausos, poeta, aplausos!
Uauá, sim senhor!! Quanta luz, poeta! Que privilégio ser/fazer tudo isso também!!! Parabéns pelo texto!
Parabéns minha poetisa, muita luz em teu caminho, bjin
Ei, pók! Me leva pra Uauá contigo...Lindíssimo!
Como um parente da terra por afeto a uma de suas descendentes, fico feliz de ler um texto tão bem escrito. Vou falar só de um aspecto: o nome. Sempre fui fascinado por nomes (e palavras) bonitos, e Uauá é maravilhoso. O nome já é lindo e quando se descobre o significado original, fica melhor ainda. É como aquele doce que você come com os olhos, e depois da primeira mordida, fica mais delicioso ainda.
Beijos e parabéns pelo texto!
Pedro
Que privilégio ler e ser de Uauá , que gosto saboroso essa terra nos promove . Privilégio maior é de conhecer seu maravilhoso trabalho Erika . O reconhecimento que lhe és merecido é inenarrável .luz a todos :)
Parabéns Érika, conteúdo vivíssimo rodeado de história e atualidade.
Viva a nossa querida e amada Uauá. Você é 10.
OBS::::"Quero 20% dos seus poemas." kkkkkkkkkkkk
Que maravilha ler e ser de Uauá . Que gostinho bom essa terrinha nós dar ,que privilégio conhecer esse chão , essas ruas, e seus filhos . Privilégio também por conhecer seu amor e seu trabalho Erika , somos honrados por conviver com você. Viva a Uauá , a sua história , seus poetas e poetisas . lUZ a todos :)
Parabéns Érika, texto riquíssimo em conteúdo e informação para aqueles que ainda não conhecem as belezas da nossa adimiravél e amada Uauá.
Continue assim. ^^)
Parabens minha linda poeta!! Nunca li uma descriçao de um lugar com tanta paixao e vivacidade. Lindo!!
Postar um comentário