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BONECAS NÃO TÊM PELOS PUBIANOS [Fabrício Carpinejar]


Arte de Eduardo Nasi
BONECAS NÃO TÊM PELOS PUBIANOS

Saudade de Sônia Braga, de Cláudia Ohana, das divas envaidecidas dos pelos pubianos.

Abrir uma revista Playboy correspondia a sempre se maravilhar com os desenhos abastados no centro das virilhas.

O sexo feminino cobria os lábios, e as deusas criavam um mistério maior na abertura das pernas.

Os ritos mandavam na excitação. Respeitávamos o suspense. Para começar a peça, o teatro dependia primeiro do movimento das cortinas.

Até o cheiro vinha diferente, adocicado, com o suor acumulado das coxas. Não dava para resistir ao apelo.

* * *
Hoje a maior parte das mulheres decidiu se depilar totalmente. Cortou as madeixas íntimas.

A infantilização da nudez ameaça o nosso prazer.

São corpos meninos, corpos sem idade.

* * *
Tornou-se costume raspar os pelos na íntegra. Nem mais um arbusto protegendo o caminho. Nem mais uma tarja preta para promover o pecado.

* * *
Será que não é uma pedofilia enrustida, a fantasia da colegial de meias 3/8 e saias plissadas perpetuada no inconsciente?

Será que não é um desejo involuntário de se transformar numa Barbie ou numa Susie, já que as bonecas não têm pelos?

* * *
Não sei exatamente qual a explicação. Tenho só hipóteses. Pode ser também higiene, ou uma maneira de aproveitar as promoções da depilação definitiva. Pode ser preguiça, ou um truque para inspirar o sexo oral dos parceiros.

O que garanto é que os homens cansam fácil da ausência de penugem.

* * *
É um desrespeito ao raciocínio do macho. Um atentado à nossa lógica cartesiana. É o mesmo que colocar pornografia no meio de Bambi.

* * *
Mulher toda depilada é uma fusão esquisita de Cicciolina com Cinderela. É Walt Disney produzindo um filme pornô.

* * *
Os pelos pubianos eram a nossa preliminar romântica, nosso espetáculo erótico, nosso jogo de adivinhação.

Havia uma curiosidade masculina para desvendar a cor natural: ruivos, loiros, morenos. Sonhávamos com a descoberta real da tez de nossa companhia. Ela poderia nos enganar com os cabelos, mas não lá embaixo.

Deliciávamos em colocar a mão em concha na calcinha e experimentar a natureza dos fios, ora lisos, ora crespos.

Naquele tempo em que não nos envergonhávamos da passionalidade.

Fabrício  Carpinejar,poeta, cronista, jornalista e professor, mestre em Literatura Brasileira pela Ufrgs. Vem sendo aclamado por escritores do porte de Carlos Heitor Cony, Millôr Fernandes, Ignácio de Loyola Brandão e Antonio Skármeta como um dos principais nomes da poesia contemporânea.

Um comentário

Jane Eyre Uchôa disse...

Ausência total de pêlos é tão danoso a saúde quanto a pelagem excessiva. Quando é raspado na íntegra abre portas para infecções por fungos e bactérias, os pelos são barreiras contra invasores invisiveis. Quando cultivados em excesso exalam este cheiro adocicado que você fala tão típico das infecções fúngicas, quanto mais calor, mais umidade, mais o conforto da calcinha de nylon acompanhado da calça jeans quente e justa maior a contaminação por Cândida e tantos outros fungos residentes ou oportunistas que invadem a flora vaginal e que não é nada sexy.
O ideal?
Cortar, aparar os pelos bem baixos apenas, nada de giletes, depiladores, barbeadores ou depilação por cera quente. É a mesma história da cutícula que a mulherada insiste em tirar para ficar com as unhas lindas e desprotegidas.
Legal seu texto, porém existem estes poréns femininos pouco conhecidos pelos homens que se aventuram de boca e alma nestes lugares digamos assim, perigosos.