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Luiz Carlos Barata Cichetto [Poeta,Escritor,Webdesigner, Artesão e Editor Artesanal Brasileiro]

Luiz Carlos “Barata” Cichetto
Poeta, Escritor, Webdesigner, Artesão, Editor Artesanal.

Desde o inicio dos anos 1970, quando ainda adolescente, Luiz Carlos “Barata” Cichetto começou a escrever poemas, crônicas, contos, resenhas etc. E de lá para cá tem milhares de poemas, contos e crônicas escritos. Em 1997, na ainda emergente Internet no Brasil, criou um site voltado à divulgação de Cultura Rock denominado “A Barata”, com o slogan: “Liberdade de Expressão e Expressão e Expressão de Liberdade”, que foi referência obrigatória, no meio.. Criou e organizou eventos ligados a Rock e Poesia, foi manager da banda Patrulha do Espaço, para quem também criou artes para as capas de dois discos.

Em 2010 escreveu “Vitória ou A Filha de Adão e Eva”, uma Opera Rock, tendo a parte musical a cargo de um dos maiores expoentes do Rock Progressivo no Brasil, Amyr Cantusio Jr.. No mesmo ano criou a "Editor'A Barata Artesanal", pela qual publicou 15 de seus livros. Desde 1979 produz esporadicamente revistas independentes impressas, como a “Revist’A Barata” (2000 a 2004) e a Revista-Zine “Versus” (2012), e digitais, como “PI2 - Politicamente Incorreto Ao Quadrado”.


Diego El Khouri.
Em 2012, lançou "Barata; Sexo, Poesia e Rock'n'Roll - Uma Autobiografia Não Autorizada", uma auto-ficção. Desde 2008 atua também na produção e apresentação de programas de web rádio, sendo que em 2011 criou a “KFK Webradio, a Rádio Que Toca Idéias”. Atualmente, também escreve resenhas sobre música em inúmeros sites e blogs. Além desse trabalho como poeta, escritor, editor artesanal, também cria trabalhos artesanais usando madeira encontrada nas ruas, e tem como fonte principal de renda a criação de web sites para Internet.


Informações Gerais
Nome: Luiz Carlos Cichetto
Nome Literário: Barata Cichetto
Nascimento: 25/06/1958, São Paulo, SP


Contato


Celular: (11) 96358-9727
Website:www.abarata.com.br
Blog Principal: www.baratacichetto.blogspot.com.br
 



Setenta, a Década do Rock no Brasil
Luiz Carlos Barata Cichetto


A apresentação de Alice Cooper no Brasil, a primeira de um artista de Rock internacional no Brasil, abriu as portas, os portos e principalmente aeroportos brasileiros, não nos moldes imperiais da pena de dãojoão, ao movimento de Rock no Brasil. O Rock e seus passos endiabrados embora tenham chegado à Ilha do Brasil quase que simultaneamente em meados dos anos 1950, passara, desde o golpe militar de 1964 a ser enquadrado como perigoso, por trazer mensagens que de dentro dos quartéis eram entendidas como pura e absoluta "baderna e subversão”. Disso resultou um retardamento na entrada da Cultura ligada ao Rock que explodira na Europa e EUA na segunda metade dos anos 1960.

A partir de janeiro de 1974, entretanto, pouco menos de cinco anos depois do maior festival de Rock da história da humanidade, Woodstock, chega por aqui uma banda que para época era considerada escandalosa, com um vocalista usando nome de mulher, estraçalhando bonecas, sendo decapitado e enrolando cobras no pescoço. Alice Cooper. O local, um monstro de metal e concreto recém inaugurado e destinado a exposições comerciais, como o suntuoso Salão do Automóvel. Milhares de garotos e garotas, incluindo eu mesmo, pernoitaram na porta esperando o momento da entrada. Tumulto, empurra-empurra, e na apresentação o que é lembrado pela maioria, é apenas o fato de Alice estar usando botas de canos e saltos enormes e o fato de ter se comunicado com a platéia em um sofrível... espanhol. "Caliente!"

Daí, "caliente" como uma febre, o Rock tomou as cabeças da molecada e o Rock passou a ocupar lugar de destaque nas famílias, senão na sala, mas ao menos nos quartos dos garotos, quando esses o tinham, das empregadas quando tinham e das garagens, também quando tinham. Mas o que tinham mesmo era um desejo enorme de tocar um instrumento e subir num palco, por menor que seja, pois o importante era o Rock e sua mensagem e não necessariamente o estrelato, que de fato, ao menos à imensa maioria das bandas nunca atingiu. Embora bandas que já existissem até então, como o Made In Brazil na estrada desde 1967 tivessem um status de semi-estrelas, aparecendo na TV e em revistas “jovens”, apenas outras pouquíssimas, como foi o caso do Casa das Maquinas e Joelho de Porco alcançaram tal prestígio. Essas duas, bancadas pela Som Livre, braço fonográfico da Globo. O Casa das Máquinas teria um futuro possivelmente brilhante não fosse um episódio lamentável ocorrido na TV Record, onde foi morto um funcionário, terminando precocemente a carreira da banda. Já o Joelho de Porco, nunca decolou na mídia, porque era uma banda especialmente performática, fantástica ao vivo, mas que, apesar das letras humorísticas, em disco não tinha a mesma força.

O Rock ia bem sim. Por todos os cantos aconteciam festivais ao ar livre, como Águas Claras, o primeiro Hollywood Rock e outros tantos que tentavam imitar a loucura de "Paz e Amor" e liberdade de Woodstock, dentro ainda de uma realidade política adversa e cruel, pois a ditadura militar ainda duraria, ao menos oficialmente, até 1979. Letras eram censuradas, discos recolhidos, capas mudadas e artistas presos. Eram anos de chumbo e sangue e para o Rock não era diferente por aqui. E como qualquer censura, os estenótipos dos seguidores faziam suas vitimas, estigmatizando e punindo-os socialmente. Tidos como drogados, preguiçosos e porcos, os roqueiros seguiam em frente, criando em cima do caos e sonhando em cima do sonho americano e ao som do Big Ben. A molecada queria criar, tocar, transar e buscar uma liberdade que sequer sabia exatamente qual era, mas que devia ser boa, afinal. Idealismos capitalistas e sonhos socialistas faziam a salada cultural e política.

Dentro desse cenário, surgiram centenas de bandas de Rock. O progressivo, com forte influência européia, particularmente italiana e alemã, era a bola da vez pelas terras da Ilha do Brasil e, mesmo com a precariedade de instrumentos, cuja importação era proibida, começaram a criar o que muitos, incluindo a mim mesmo, acreditaram ser a nova musica do Brasil. Do nordeste, particularmente surgiram dignos exemplares dessa revolução, nas vozes, instrumentos e ritmos de artistas como Alceu Valença, Zé Ramalho, Belchior e outros que faziam a delicia de nossos ouvidos. "Vivo" de Alceu Valença é um dos melhores discos de Rock já feitos no Brasil. O primeiro disco de Zé Ramalho é outro. "Alucinação", segundo disco de Belchior, embora não seja um disco de Rock musicalmente falando, é lotado de referencias roqueiras e era indistintamente curtido por roqueiros de todas as matizes.

Aliás, falando em matizes, até então, embora se soubesse a distinção, por exemplo, entre "Rock Pauleira", "Viagem" e "MPB", não existiam nenhum tipo de rusga, cisão ou separação entre seus seguidores. Todos éramos tudo e tudo era todos, se é que me entendem. Mas isso até apenas meados de 1977, quando chegou quase que imediatamente após o movimento original na Inglaterra, o "Punk Rock". Aí a coisa ficou literalmente feia.

O Punk foi um movimento que, embora tenha nascido fruto de uma situação caótica na Inglaterra, com desemprego em massa entre outras coisas, foi expandido por motivos bem menos nobres, como o comércio de roupas rasgadas por uma loja de moda chamada "Sex", de fato os criadores da Sex Pistols, cujos membros eram apenas garotos propaganda da grife.

No Brasil, embora em termos econômicos houvesse uma massa de desempregados talvez até maior que na terra da Rainha, a inquietação não se refletiria a ponto de criar um movimento cultural. E assim, apenas a "necessidade" de se copiar mais um movimento externo fez garotos imberbes e nem tanto, usar penteados moicanos, encher as roupas de alfinetes e espancar hippies. Como o Punk pressupunha que não era preciso saber mais que três acordes, a turba sai, de instrumento na mão esbravejando à moda inglesa, contra o sistema opressor. Por aui não tinha rainha e se nos falassem mesmos termos sobre o presidente estavam ferrados. E decerto usariam coturnos em outro lugar que não nos pés. Próximo à boca! E como tudo eram cópias da matriz, vieram o ódio a tudo que pudesse cheirar bem, inclusive os corpos. Vieram as brigas sem sentido e as explosões de violência gratuita. Aliás, violência sempre é gratuita, mas para os Punks isso parecia fazer parte da musica, do movimento. Enfim, o resultado disso é que poucos anos depois, quatro ou cinco no máximo, o chamado Movimento Punk se esvaziou, se é que algum dia esteve cheio.

Mas o mal pior é que, a partir dai que foram criadas as divisões dentro do movimento que antes conglomerava todas as tribos e todos objetivos eram comuns. O chamado Exército do Rock foi rachado em centenas de pedaços, de denominações, tribos menores e aldeias. Um acorde diferente, um botão a mais na blusa, um fio de cabelo de outra cor, passaram a rachar, sempre em pedaços cada vez menores, não apenas a cultura do Rock no Brasil. E ela que já não era tão sólida, foi se desfazendo, se liquidificando até escorrer completamente pelo ralo.

A partir dos anos 1980, com o chamado BR Rock e o Rock In Rio, a mídia serviu-se do Rock como carne da vez e se estabeleceu uma era de ouro, literalmente. Comercialmente foi a melhor época para as bandas e artistas, mas em termos de criatividade, cultura e engenhosidade foi uma era inútil e infantil. O Pós-Punk, o Gótico e uma centena de variantes surgiram com tudo. E com raras boas exceções, o que aconteceu foi uma verdadeira comédia de erros, um pastiche de tudo que tinha sido feito durante os anos anteriores. Portanto, restrinjo meu depoimento aos anos 1970, que em meu entender foram os mais criativos e engenhosos do Rock brasileiro.


Jornada Ao Nada
Luiz Carlos Barata Cichetto

Quero estar em um lugar que não tenha nada para ser feito
Lugar em que ninguém saiba o que torto e o que é direito.
Quero muito estar num lugar que não haja ninguém perto
E ninguém ache que nada está errado e nada esteja certo.

Quero mesmo estar num lugar que não tenha eletricidade
Nem telefone, nem nenhum conforto que existe na cidade.
Quero estar num lugar em que não exista nenhum vivente
Um lugar onde não haja um padre e decerto nem vidente.

Quero estar em um lugar onde não haja luz nem escuridão
E não existam donos e escravos, nem senhor nem servidão.
Quero ir a um lugar que não existe em nenhum dos universos
E onde não existam oxigênio, água ou a poesia feita em versos.

Quero estar num lugar sem prostitutas bonitas a se namorar
Sem namoro ou casas, um lugar onde ninguém possa morar.
Quero ir a um lugar, que não é à beira do mar, nem da Terra
Onde não existam duelos, que não haja paz e nem haja guerra.

Quero estar em um lugar em que não pintem nada com cores
Em que todas as coisas inexistentes sejam invisíveis e incolores.
Quero ir a um lugar onde o feitiço não vire contra os feiticeiros
Um lugar que não se virem santos e outros tipos de trapaceiros.

Quero ir ao lugar que muitos acreditam que haja um retorno
Mas do qual não existe a saída, à volta e nada existe em torno.
Quero o lugar onde não existam irritantes pássaros cantando
E nem anjos eunucos suas estúpidas flautas e harpas tocando.

Quero estar mesmo é num lugar onde nem a poesia exista
Lugar onde nada eu possa contar e que a nada eu resista.
Quero ir onde se não se derramem nem suor e nem lágrimas
E pais e filhos não chorem o sangue amargo das suas lástimas.

Quero ir a um lugar de onde jamais exista uma possível volta
Pois retornar ao nada que não tenho é aquilo que me revolta.
Quero ir a esse lugar e ali estarei bem cedo com alguma sorte
O lugar que é o único destino de alguém que procura a Morte.


O Arquiteto, A Loira e a Serpente
Luiz Carlos Barata Cichetto

Quando garoto eu tinha sonhos completos
Mas os pesadelos, estes eram incompletos
Chegada a adolescência ficaram eles sem fim
E um quanto o outro morreram dentro de mim.

Queria ser jornalista, arquiteto ou pedreiro
Gráfico, guitarrista, cantor ou até jornaleiro
Tanta coisa eu tinha o sonho quando crescer
Mas acabei sendo aquilo que não queria ser.

Em minhas pernas uma venenosa serpente
Ou num precipício poderia cair de repente
E na ponte sobre um rio de águas barrentas
Loiras sedentas tinham fodidas suas bucetas.

Ao completar a maioridade, uma alucinação
E nada mais era o sonho, o pesadelo ou ficção
Sobre a ponte a serpente engoliu ao jornalista
Precipício ao arquiteto e eu a loira normalista.

Quando adulto os pesadelos eram dantescos
Infernos negros habitados de seres grotescos
E agora o arquiteto, o jornalista e até o pedreiro
Cobraram-me aquilo que eu não fora por inteiro.

E eu: sonhos não pedem e nem aceitam perdão
Fui filosofar quando rasgaram a minha certidão
Mas era tarde e quando é tarde é sempre demais
E nunca é pouco, pois sonhos não morrem jamais.

Adormecidos sonhos, eu tinha um par de filhos
Que feito a um maquinista colocara nos trilhos
Mas agora era eu um trem bêbado sem a estação
E não tinha sonhos, apenas pesadelos à prestação.

Agora mortos o pedreiro, o arquiteto e o jornalista
Sobram pesadelos da serpente, o poeta e o artista
E eu, que matei a todos à machadadas e a língua
Por falta de sonhos, morro aos poucos e à míngua.




Luiz Carlos Barata Cichetto
Todos os direitos autorais reservados ao autor.

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