CRÔNICA PARA CENA DE
SUICÍDIO:
Conversando
com Kierkegaard
Olho
para o céu e vejo a lua. Olho ao redor e vejo a rua. Por que e para que estou
falando com você? Existencialismo! Vejo tudo cinza. E o mundo fica como se
fosse água. Vejo tudo limpo e o mundo fica como se fosse nada.
Tudo
me preocupa. Tudo me entorpece. Fico mole e pergunto: Para que tudo existe?
Ando no muro. Ando duro. Duvido do mar. Duvido de duvidar. E procuro uma razão
de está.
Tenho
vergonha de ti. Mas quando fico pelado diante de mim. Me vem na cabeça: Para
que aquilo pendurado ali?
Acho
graça de minha desgraça. Desgraça de sentar numa praça. Sentir o vento, vê as
folhas caírem. Voltar para dentro de si e perguntar: Para que existir?
Deus
existe? Mas não telefona! Minha mulher está nua na cama. E me vem na mente
feito um drama: Macaco come banana, minha mulher e uma sem-vergonha. E eu fico
aqui, ouvindo Charles cantar.
Existencialismo!
Crise geral! Pane total! O que faço agora? Redes no quintal. Não me faça mal.
Mas não me faça bem. Quero odiar, quero pensar. Deus não existe!?
Mas
as pessoas insistem. E a gente fica com medo de dizer sim.
Tocam
piano! Tocam violão! Banho, rima e limão. Nada existe!? Mas não diga não.
Uma
bola rola. GOOOOOL! Que gol? Não jogo mais! Mas não me deixem aqui em Natal.
Peru, árvores enfeitadas. Viva o Natal! Papai Noel!?! Que pai!? Sou
espermatozóide crescido.
Alma
ferida! Dor comprimida. Gente alarida. Vida corrida.
Vida
que vida. Eu vou a levar? Vida! Que vida? Fico a pensar. Que vida!?
Refletir.
Existir. Mentir.
CLÁUDIO PORTELLA (Fortaleza, 1972) é escritor,
poeta, crítico literário e jornalista cultural. Autor dos livros Bingo! (2003),
Melhores Poemas Patativa do Assaré (2006; 1ª reimpressão, 2011; Edição em
eBook, 2013), Crack (2009), fodaleza.com (2009), As Vísceras (2010), Cego
Aderaldo (2010), o livro dos epigramas & outros poemas (2011) e Net (2011).
Colabora nas mais importantes publicações do Brasil e do exterior. Ganhou o
concurso de conto da UBENY - União Brasileira de Escritores em Nova York.
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