INTERNET
SEM PRECONCEITO
Numa conversa entre
escritores e editores, não faz muito, havia declarado minha expressa opinião em
se evitar taxações sobre o que o significado do mundo digital, para a
literatura e para a cultura. Argumentei que a rede mundial digital, agora não
mais somente composta de computadores, estava em processo conformação, a amoldar-se
na medida em que se expande desafiadora e sem fronteiras; e nesse caminho muito
ainda estaria por ser visto, muito mesmo.
Pois meu espanto são as opiniões
de alguns intelectuais que ouço aqui e acolá. Esses, dotados daquela arrogância
típica de elites pensantes ultrapassadas, disparam contra a rede digital, como
se fosse ela a inimiga da boa cultura e do conhecimento, ou que fosse ela observada
com desconfiança, feito planta traiçoeira a crescer em ambiente descontrolado.
Pobres ignorantes.
Jamais se deve punir a
flor por sua pobre terra e o vaso roto e apertado. Regá-la ainda que se desgoste
da cor, ainda que não se entenda seu impreciso aroma; observar sua ofensividade
para outras espécies se houver, sem descuidar de suas possibilidades; expô-la
ao sol quando querem roubar-lhe o viço, e sobretudo não dar ouvidos à todas
opiniões sobre seu futuro. Jardinagem requer paciência e tolerância.
A internet é o novo jardim
da comunicação humana, – vou além, a nova Amazônia da espécie sapiens-sapiens; o
pulmão do mundo do pensamento, do aprendizado –, precisa ser cuidada, com muito
carinho, jamais condenada. As mudanças acontecem velozes, assustadoramente, mas
em hipótese alguma essa velocidade deve significar repressão ou condenações –
sim, há interesses ruins e gente má na rede mundial, mas, diabos, onde não há
gente assim?
Cuidemos, pois, protejamos
suas riquezas, combatamos suas fraquezas sem cercear suas capacidades, sem
podar os brotos poderosos a surgir-lhe inesperadamente. Caros senhores
intelectuais de plantão, funcionários de mídias decadentes, o verdadeiro
inimigo do conhecimento ainda são os interesses corporativos e não uma rede
tecnológica de comunicação que não tem dono tampouco forma definida.
Paulo Tedesco é escritor
premiado em concursos de poesia entre os anos de 1996 e 1998 pelas
prefeituras municipais de Farroupilha e Caxias do Sul. Residiu em Fort
Lauderdale / Flórida, Estados Unidos, onde colaborou intensamente com
jornais e sítios eletrônicos da comunidade brasileira. Atualmente
participa na Oficina Literária Charles Kiefer em Porto Alegre/RS, cidade
onde exerce a profissão de consultor gráfico-editorial
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