Falsas Esperanças
Tim estava praticamente morto, mas desejava com todas
as suas forças viver. Leucemia, estágio avançado. Prostrado num leito de
hospital, não havia muito a ser feito. A única esperança era um tratamento
experimental, porém já não possuíam recursos e sua casa já havia sido
hipotecada. Sua esposa Savannah lutava junto a ele ao longo de seis meses
contra a enfermidade, era uma mulher batalhadora, ajudava-o anteriormente com o
seu irmão Alan que é autista. O casal construiu um haras onde ofereciam
equoterapia. Ela nunca foi apaixonada por ele, em meio a solidão e decepção que
teve ao ser namorada de um soldado, de nome John, que não desistia de se
envolver em lutas pelo petróleo, iniciou uma relação com ele, motivada pela
fidelidade do amigo.
O quarto no hospital era simples, uma cama, um pequeno
bidê ao lado, uma televisão logo à frente. O que Tim mais gostava nele era da
janela, que ficava nas costas da cama, trazendo a luz do sol sobre si pela
manhã. As manhãs eram sempre a melhor hora do dia, pois junto ao sol e a
esperança renovada vinha a visita de sua linda esposa Savannah e de seu irmão
Alan. Porém naquela manhã recebera uma surpresa, Savannah não veio apenas com
Alan, havia outro homem ali.
- Olá, Jonh! Fico feliz em vê-lo!
John ficou encabulado, afinal ele era o ex-namorado de
Savannah, como poderia ser recebido com tamanha alegria? Respondeu timidamente,
em meio a dor de ver seu amigo naquele leito:
- Olá, Tim!
Savannah deu o beijo de costume em Tim.
- Olá, Alan! – Tim sempre o cumprimentava, seu irmão
autista nada falava, não olhava em seus olhos, mas a recíproca ocorria, mesmo
que imperceptível aos outros. Tim sabia que Alan o cumprimentava a sua maneira.
- Como está, John?
- Bem – Respondeu John.
Tim sabia que John era do tipo calado, e que poderia
poupá-lo de todas as demais formalidades de uma conversa normal. Então
declarou:
- Savannah, que tal ir lá na lanchonete tomar um suco
com Alan?
- Vamos, Alan. – Disse ela com um olhar confiante.
Os dois saíram do quarto, John ficou ainda mais
embaraçado.
- Cuide bem dela, John. Estou morrendo, e ela irá
precisar de alguém. Ela sempre te amou, vejo a forma com que ela ainda te olha.
John ficou surpreso com tal afirmação e com a
sinceridade de seu amigo. Ele não era do tipo social, não responderia com
mentiras do tipo, “esqueça você vai sair dessa”. Ficou então calado.
- John, apenas diga que sim, sei que ainda amas ela.
John permanece calado, mas abaixa lentamente a cabeça.
Ali com aquele simples gesto um acordo entre cavalheiros foi selado.
Conversaram sobre outras coisas, eram amigos e Tim queria saber o que ele
andava fazendo. John contou que havia saído do exército, que o pai dele havia
falecido e que estava refletindo acerca de seu futuro.
Quando Savannah retornou com Alan viu que John estava
sentado na cama e que ambos estavam rindo.
- Hora de eu ir! – Falou John.
- Eu te acompanho até lá em baixo- respondeu Savannah –
Alan fará companhia ao Tim por enquanto.
-Volte, John. – Disse Savannah ao se despedir dele.
John respondeu apenas com um abraço, e um beijo em sua
face. Ela sabia que era uma despedida.
A rotina de Tim no hospital segue, pela manhã acorda,
lê algo, quando não está muito enjoado devido a quimioterapia, enquanto espera
Savannah e Alan. Recebe seu almoço, a tarde toma banho e trocam os lençóis. E a
noite toma comprimidos para auxiliar o sono, não que ele sofra de insônia, pelo
contrário, parece ser um dos doentes mais felizes do hospital. Porém as dores
têm se intensificado. Mas, naquela noite Savannah o surpreende, não é horário
de visita, ela conseguiu uma exceção. Ela estava linda em um vestido branco,
eufórica. Entrou correndo no quarto o abraçando.
- Tim, recebemos um depósito anônimo, você poderá fazer
aquele tratamento experimental!
A felicidade de Savannah contagiou Tim, que continuou
abraçando-a e declarou:
- Este depósito é ótimo! Mas não será para o meu
tratamento. Savannah, você tem uma vida pela frente e Alan também, chega de
investir em falsas esperanças.
Savannah chorou. Não questionou Tim, ele sempre foi
sábio em suas escolhas, mesmo quando ele amando-a incentivou que namorasse John
anos atrás. Então saiu do quarto correndo em meio as lágrimas.
- Savannah! – Foi um grito inútil. Ela se fora.
Tim sabia que dolorosamente havia tomado a decisão
certa. Savannah era linda e jovem, precisava viver. John vai cuidar bem dela e
de Alan, pensou. Sabia que John teve um pai autista, e mesmo sem saber muito
sobre o transtorno, ele havia lidado com ele por anos. Além disso, ambos ainda
se amavam, quando a morte levasse Tim embora, eles poderiam ser ainda mais
felizes. Savannah antes da doença era uma mulher feliz, mas com John ao seu
lado poderia ser ainda mais.
No outro dia pela manhã, Tim não recebeu a visita de Savannah,
mas a de dois médicos:
- Bom dia, você deve ser o Tim. Parabéns, viemos
busca-lo para o tratamento experimental que estamos desenvolvendo. Teve
excelentes resultados em ratos, temos grandes esperanças que dará certo com os
pacientes também.
- Mas eu não pretendo mais ir. – Respondeu Tim.
- Você conseguiu a última vaga, além disso, já está tudo
pago. – Respondeu o médico.
- Apenas devolvam parte do dinheiro, ficarei bem. –
Disse Tim.
- Um contrato foi assinado, não iremos devolver nada,
assim como, se você não for poderá comprometer todo o resultado da pesquisa,
pretendemos iniciar o mais breve possível – argumentou o médico.
Diante de tal situação Tim se viu obrigado a aceitar o
tratamento. Antes de partir os médicos fizeram algumas perguntas de praxe,
analisaram os exames e sinais vitais de Tim. Então foi encaminhado para fora do
hospital.
Na ambulância que o transportava recebeu um lindo
sorriso, acompanhado de olhos lacrimejantes. Ele pegou aquela linda e pequena
mão, e a colocou em seu peito.
***
Este conto é uma fan fiction baseada no livro: Querido
John, do autor Nicholas Sparks.
Juliano é poeta em tempo integral. Professor,
psicopedagogo e escritor nas horas vagas. Ama as coisas simples desta vida, a
paisagem, as flores, uma rede e um bom livro. Acredita que a Palavra é uma
fonte de vida e libertação, se inspira e agradece ao Criador por ela
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