Filho de ex-presidente do
BC, Sylvio Fraga trocou a economia pela poesia
PEDRO HENRIQUE FRANÇA
DO RIO
Sylvio tinha 13 anos
quando o pai voltou para o Rio com a família, depois de passar seis anos em
Nova York como diretor-gerente de um fundo de investimentos. Arminio Fraga
havia aceitado o convite de Fernando Henrique Cardoso para ser o presidente do
Banco Central.
Nos quatro anos seguintes,
de 1999 a 2002, Sylvio seria reconhecido e apontado na escola. O que nunca foi
um problema para ele. "Sempre foi motivo de orgulho", afirma.
"Meus pais me deram liberdade para fazer o que quisesse."
E ele fez. Virou músico e
poeta. Lança, aos 27 anos, seu CD de estreia, "Rosto", e, quase
simultaneamente, seu primeiro livro de tradução de poesias, "O Andar ao
Lado -- Três Novos Poetas dos Estados Unidos", pela editora 7Letras.
Parece, mas não é
O poeta e músico Sylvio
Fraga
Sylvio fez o que quis, mas
não sem antes se arriscar na carreira do pai --de quem é quase um clone. Entrou
na faculdade de economia. Mas, no meio do caminho, despertou para as artes. Nos
últimos dois anos do curso de economia, acumulou a faculdade com a direção do
museu Antônio Parreiras, em Niterói. "Meus amigos tinham pela economia um
amor que eu tinha pela pintura, pela música e pela poesia", diz. "Eu
ia para as aulas praticamente como um ouvinte."
Com o diploma de
economista em mãos, decidiu passar uma nova temporada nos Estados Unidos e
fazer mestrado em poesia na Universidade de Nova York. A irmã mais velha já
morava na cidade, onde foi estudar literatura. Sylvio abandonou de vez os
números. Acabava ali a chance de um sucessor economista para Arminio Fraga.
DOIS JOÃOS
Quando era novo, as
influências de Sylvio eram dois Joãos. "O Bosco [músico] e o Cabral de
Melo Neto [poeta]", diz. "Durante um tempo, ficava imitando os
dois." Com o tempo, outros poetas e músicos brasileiros alimentaram suas
duas veias, de escritor e compositor. "No começo do curso de poesia até
escrevi em inglês, mas logo determinei que só iria fazer poesia em
português."
Ele tem um livro próprio,
"Entre Árvores", lançado em 2011. Um novo está em produção. Mas ele
não vislumbra um best-seller. Na livraria de Botafogo, onde encontrou com a
reportagem de Serafina, olhando para "Toda Poesia", de Paulo
Leminski, que há meses figura entre os mais vendidos, ele diz que o sucesso da
obra "foi maravilhoso, mas um milagre". "Sou conformado com a
ideia de que a poesia tem poucos leitores."
Em Nova York, a música de
Sylvio se americanizou. E, pelos clubinhos de jazz contemporâneo do Village,
ele se perdeu. Mas seu CD de estreia, em que a maioria das músicas foi composta
na cidade americana e em português, não é um disco de jazz. Tampouco de MPB. Os
dois estilos se entrelaçam, esbarrando invariavelmente na temática do amor.
JAZZ NOS FUNDOS
Foi também na temporada em
Manhattan que ele conheceu Flora, 26, a namorada cineasta que também estudava
na cidade. Hoje, vive com ela no Jardim Botânico, enquanto ainda frequenta a
casa dos pais, no Leblon.
Nos últimos meses, pelo
menos duas vezes por semana, é lá, no antigo quarto de hóspedes adaptado como
estúdio, que ensaia o Sylvio Fraga Trio --completado pelo baixista Márcio
Loureiro e pelo baterista Mac Willian Caetano.
O economista que virou
artista ainda está se acostumando ao palco. E a dar entrevistas. Ele pede para
mandar qualquer dúvida por e-mail. "Me expresso melhor escrevendo."
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