Escritos da filósofa mais lida do país são agora reunidos
Nove volumes dos textos de Marilena Chaui chegam às
livrarias pela Autêntica e Perseu Abramo
SÃO PAULO.Os “Escritos de Marilena Chaui” começam agora
a ser publicados, em nove volumes, em parceria da mineira editora Autêntica com
a Fundação Perseu Abramo. Marilena é provavelmente a filósofa mais lida no
país: “O que é Ideologia?” (1980), hoje na 42ª edição, vendeu mais de 100 mil
exemplares; “Cultura e Democracia” (1981) está na 11ª edição; e “Convite à
Filosofia” (1994), na 14ª.
Talvez esse sucesso esteja ligado à sua disposição de
debater “questões atuais”, como dizia um elogioso perfil que a revista “Veja”
publicou sobre ela em 1981: “Na verdade digo o que as pessoas já sabem, com a
diferença de localizar as questões em lugares que elas não suspeitariam”.
“Contra a Servidão Voluntária” reúne os trabalhos de
Marilena sobre Etienne de La Boétie (1530-1575). Os três primeiros ensaios são
de 1982, ano em que o partido que dava sustentação à ditadura elegeu as maiores
bancadas no Congresso. Por que razão tantas pessoas apoiavam um governo
autoritário? Ou, como indagava La Boétie: “Como se enraizou tão antes essa
obstinada vontade de servir?” Para ele, o poder não se assenta no medo do
opressor, mas no desejo do oprimido: o tirano é a expressão de sociedade
extremamente desigual, na qual cada um procura tiranizar o outro.
A rigor, escreve Marilena, “dá-se tudo ao soberano na
esperança de converter-se em soberano também: vontade de servir é o nome da
vontade de dominar”. Contudo, se o fundamento da dominação não é a força do
governante, mas a desunião dos governados, o remédio não é o ataque ao Estado,
e sim a extirpação da vontade de poder que emana da sociedade civil. Por isso o
texto de La Boétie não é um manual de guerrilha, mas um discurso crítico – um
antidiscurso.
Marilena rejeita a tese de que o discurso ideológico
pode ser combatido “a partir de fora” por um discurso científico: para ela, a
ideologia precisa ser destruída “por dentro” por um “contradiscurso”. Com esse
conceito, ela encontrou uma formulação teórica para a inflexão prática da
esquerda brasileira a partir de 1974: perdida a ilusão de que a ditadura
poderia ser derrubada “a partir de fora” na arena militar, restou à oposição a
missão de combater o regime “por dentro”, derrotando-o na arena eleitoral.
Já em “Manifestações Ideológicas do Autoritarismo
Brasileiro”, Marilena argumenta que a ideologia é um discurso cheio de espaços
em branco: são as lacunas que permitem a ocultação das contradições sociais e a
construção de uma identidade imaginária centrada no Estado. Como tal identidade
fixa se choca com o dinamismo das sociedades modernas, a ideologia tenta
petrificar o tempo usando categorias como “progresso” e “desenvolvimento”, que
visam submeter a história a um roteiro predefinido pela origem ou pelo fim.
Marilena questiona a objetividade da ciência e afirma
que a exterioridade entre sujeito e objeto “é sempre o ponto de vista do
poder”: o “olhar de sobrevoo do observador impessoal” é a figura do saber como
ato de dominação.
Saiba mais
Acompanhe as publicações dos escritos de Marilena Chauí
em www.grupoautentica.com.br
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