Eu me chamo Antônio [Layse Moraes]
Texto: Layse Morae
Artigo publicado na Revista TPM
Criador da página do facebook Eu me chamo Antônio, Pedro Gabriel nasceu na África, chegou ao Brasil ainda criança, aos 12 anos, e, em meio a dificuldades com a língua portuguesa, começou a prestar atenção nas palavras, brincar com elas, tentar entendê-las.
É exatamente o olhar atento com a palavra que faz sucesso nas redes sociais. Antônio, uma espécie de alter ego de Pedro, é o personagem principal dessa história toda, “um romance que está sendo vivido”, como o escritor gosta de dizer.
Agora, os desenhos de palavras transcenderam o virtual e viraram livro, cuja seleção é quase toda formada por inéditos. A obra é considerada pela pesquisadora em novas estratégias para a mídia digital do Programa Avançado de Cultura Contemporânea da UFRJ, Cristiane Costa, uma nova tendência literária, a visual writing, em que desenhos, fotos e tipografias se integram ao texto: “Leitores e críticos mais conservadores podem ficar perplexos, mas para as novas gerações está claro que o caminho da inovação literária passa pelo rompimento dessa barreira entre texto e visual”, diz ela.
O Antônio, quer dizer, o Pedro Gabriel falou com a gente sobre o comecinho de tudo, a recepção dos leitores, sua proximidade e distanciamento com o personagem que criou e deixa claro: “A página na internet existia antes do livro e continuará existindo até eu sentir verdade no meu traço e na minha palavra. Agora estou vivendo um guardanapo de cada vez”.
A página precisava de um nome e Antônio era o nome da minha identidade que eu nunca usava para me identificar (meu nome completo é Pedro Antônio Gabriel Anhorn). Acho que essa escolha foi uma forma de dar vida ao que até então andava esquecido.
Você escreveu na sua coluna da Intrínseca que criar dói. Como é seu processo de criação? Doloroso (risos). Eu não consigo terminar, sempre entrego minhas artes aos 47 do segundo tempo, com a torcida pressionando e o juiz com o apito na boca. Tenho a constante sensação de que nunca acaba. Acho que o processo de criação tem um quê de inacabado. É o que torna qualquer manifestação artística eterna. Quando estou criando, eu gosto de caminhar, levar as ideias para passear. Ando sempre com um caderninho artesanal no bolso e anoto tudo o que pintar na mente. Às vezes, nada vem. Noutras, tudo chega. O importante é nunca censurar o inconsciente. O que me faz continuar é saber que todo guardanapo pode ser o último. Esse pequeno pânico é o melhor combustível para qualquer criação.
Qual é seu livro de cabeceira? E qual você acha que seria o livro de cabeceira do Antônio? Agora estou lendo Eu hei-de amar uma pedra, do escritor português Lobo Antunes. O livro de cabeceira do Antônio provavelmente seria algo do Charles Bukowski, talvez o Amor é tudo que nós dissemos que não era. Ou um guia de cerveja (risos).
A ligação autobiográfica entre o Antônio e o Pedro Gabriel é bastante automática para a maioria das pessoas, já que o personagem é uma espécie de alter ego seu. O que há de Pedro Gabriel no Antônio? E o que não há? Todo personagem é uma pequena autobiografia do seu autor. O artista constrói seu mundo por vivências que ele já teve ou imaginou. Sempre há um pouco de exagero. Sempre há um floreio. Mas sempre há uma verdade real. Tanto o Antônio quanto eu gostamos da delicadeza das coisas, da poesia simples, do humor leve e da ressaca do amor.
O que não há? Excelente pergunta. Talvez o Antônio tenha mais coragem de exteriorizar tudo o que ele sente com desenhos e versos curtos. Afinal, é através dele que eu dou vida aos meus sentimentos.
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