Poetisa ganha indenização após ter texto atribuído a
Cecília Meireles
Sites reproduziram poema de Helenita Scherma com
autoria incorreta.
Condenados terão que pagar R$ 9 mil à escritora e
promover reparação.
Suellen Fernandes e Fábio França
A Justiça determinou o pagamento de indenização de R$ 9
mil por danos morais a uma escritora de Jacareí, no interior de São Paulo, que
teve um poema seu citado erroneamente, por três sites na internet, com crédito
da poetisa Cecília Meireles. Ainda cabe recurso à decisão.
A ação é de 2010, e a sentença foi divulgada na
terça-feira (3/12). Além da indenização, a decisão estabelece divulgação do
material, em um prazo de 90 dias, com a correção da autoria nas mesmas páginas
de internet. Os réus são obrigados, ainda, a apresentar três publicações
consecutivas do material em jornal de grande circulação do Vale do Paraíba,
onde mora a autora.
A escritora Helenita Scherma, de 58 anos, é membro da
Academia Jacareiense de Letras, escreve desde a adolescência e tem dois livros
publicados. O poema alvo da ação judicial foi criado em 1994 e se chama
"Canção do sonho acabado". Esse é o primeiro poema de um livro
homônimo publicado em 2006 pela poetisa.
A escritora tinha o registro de autoria do poema e
entrou com uma ação na Justiça contra quatro empresas – uma delas fez acordo
com a autora antes da decisão judicial (veja abaixo o poema na íntegra).
Segundo Helenita, na época em que descobriu a
divulgação de crédito incorreto de seu poema, começou a ligar para cada um dos
canais de divulgação e pedir a correção. "Foi um verdadeiro trabalho de
formiga, me deu muito trabalho, mas infelizmente não consegui fazer com que
todos corrigissem. Mais do que pelo dinheiro, que inicialmente nem seria pedido
na ação, eu espero que haja uma mudança de postura em relação a quem copia
conteúdo na internet. Por isso, decidi ir à Justiça", afirmou a poetisa.
Ela contou que, na época, encontrou mais de 100 páginas de reprodução do
conteúdo atribuindo a autoria a Cecília Meireles.
Prêmios e publicações da escritora de Jacareí
(Foto: Carlos Santos/G1)
Defesa
Nos sites de busca, ainda é possível encontrar o poema
de Helenita atribuído à escritora Cecília Meireles. Segundo a advogada
responsável pela ação, Bárbara de Paula, o processo teve como base a lei de
direitos autorais, com pedido de reparação amparada pelo Código Civil.
"Acho que essa decisão serve de referência para
todos os autores que têm suas publicações copiadas sem autorização, sem o
devido crédito. Helenita é uma escritora conhecida, sobretudo em Jacareí, e,
após a exposição na internet, com seu poema atribuído à Cecília Meireles,
acabou caindo em descrédito", disse a advogada ao G1.
A partir da decisão, outros sites podem ser acionados
por meio de ação e serem obrigados a retirar do ar o poema ou atribuir sua
autoria correta, sob pena de multa.
Autoria na internet
Mesmo que o Brasil ainda não tenha seu Marco Civil da
Internet (conjunto de leis que estabelecem direitos e deveres para quem usa a
rede de computadores), existe punição para esse tipo de situação. Quem usa
indevidamente uma obra intelectual em um site, por exemplo, corre o risco de
sofrer processo.
"Os direitos autorais e de imagem são previstos na
Constituição. Por isso, é muito importante que as pessoas se atentem sobre o
que postam", alerta o advogado Rodrigo Canelas.
De acordo com ele, o Tribunal Superior de Justiça (STJ)
tem trabalhado para que haja acordo entre quem tem sua criação intelectual
veiculada sem autorização ou crédito e os sites responsáveis. Em muitos casos,
o provedor – serviço responsável por manter a página na internet – também pode
ser responsabilizado judicialmente.
Veja o poema na íntegra
CANÇÃO DO SONHO ACABADO
Helenita Scherma
Já tive a rosa do amor
- rubra rosa, sem pudor.
Cobicei, cheirei, colhi.
Mas ela despetalou
E outra igual, nunca mais vi.
Já vivi mil aventuras,
Me embriaguei de alegria!
Mas os risos da ventura,
No limiar da loucura,
Se tornaram fantasia...
Já almejei felicidade,
Mãos dadas, fraternidade,
Um ideal sem fronteiras
- utopia! Voou ligeira,
Nas asas da liberdade.
Desejei viver. Demais!
Segurar a juventude,
Prender o tempo na mão,
Plantar o lírio da paz!
Mas nem mesmo isto eu pude:
Tentei, porém nada fiz...
Muito, da vida, eu já quis.
Já quis... mas não quero mais...
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