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Companhia das Letras lança nova biografia de Michael
Jackson
Foram muitas bizarrices na vida de Michael Jackson para
caber apenas em um parágrafo, mas pode-se pinçar as principais: nascido em
1958, ídolo já na infância com o grupo Jackson 5, ele sofreu bullying do
próprio pai, fez tratamento de pele para se tornar branco, operou tantas vezes
o nariz que teve que usar próteses para tapar o buraco deixado em seu rosto,
construiu um rancho para receber crianças, batizou esse rancho de Terra do
Nunca, foi acusado de pedofilia, teve casamentos e namoros armados para afastar
os boatos de que seria gay e acabou morrendo de maneira tão polêmica e
misteriosa quanto foram esses vários fatos de sua vida. Porém, para o
jornalista norte-americano Randall Sullivan, autor de Intocável: a estranha
vida e a trágica morte de Michael Jackson, biografia que acaba de ser lançada
no Brasil pela Companhia das Letras, Michael Jackson era uma pessoa normal.
“É claro que ele viveu em uma realidade alternativa
desde os 6 anos. Mas acho que ele era o oposto de muitos políticos que nós
conhecemos, aqueles que agem com normalidade aos olhares externos, mas são
estranhos privadamente. Michael parecia estranho, mas era bem mais normal em
seus sentimentos do que aparentava”, afirma Sullivan. “Deve-se debater o quanto
de sua imagem foi construída por ele e o quanto foi imposta por circunstâncias
externas.”
Colaborador e editor da revista Rolling Stone por mais
de 20 anos, Sullivan começou a escrever Intocável logo depois da morte de
Jackson, em 25 de junho de 2009. A ideia original era fazer um longo artigo
para a revista, mas muitas perguntas foram aparecendo na frente do autor,
perguntas que não poderiam ser respondidas com simplicidade: “Havia muitas
contradições, muitos Michaels para dissecar. Então o livro nasceu meio que
naturalmente, desse desejo de esclarecer minhas próprias curiosidades, mais
sobre sua personalidade do que sobre o artista. Por exemplo, a grande pergunta,
a mais nebulosa e que estava no centro de tudo para mim, é se ele foi mesmo
pedófilo e abusou de crianças”, explica.
Como mostra o livro, Michael Jackson enfrentou duas
acusações na Justiça de cometer abusos sexuais contra crianças: a primeira em
1993 e a segunda em 2005. Em ambos os casos, foi inocentado por falta de
provas, mas chegou a pagar uma quantia em dinheiro na década de 1990 para que o
dentista Evan Chandler retirasse a acusação de que Michael teria molestado seu
filho. Talvez por coincidência, talvez não, Chandler cometeu suicídio cinco
meses depois da morte de Jackson.
A conclusão a que Sullivan chega, portanto, é que o
“intocável” artista era, na verdade, intocado. O autor diz não ter encontrado
provas de que Michael tenha se relacionado sexualmente com crianças, homens ou
mulheres. O astro teria morrido virgem. “Não achei nada que me levasse a
acreditar que ele teve relações sexuais. Isso não quer dizer que ele não tenha
tido algum contato sexual com alguém, mas uma relação mesmo, eu acredito que
ele não teve” afirma Sullivan.
Suas teorias prosseguem. “Também acredito no que ele
dizia sobre estar perto das crianças, que aquilo lhe permitia experimentar a
infância perdida. Sei que são impulsos semelhantes aos que formam a psicologia
de um pedófilo, mas não há como ser conclusivo sobre uma suposta pedofilia de
Michael”, ressalta o escritor norte-americano.
Mesmo com esse retrato positivo de seu biografado,
Sullivan não deixou de enfrentar a ira dos fãs. Na internet, algumas centenas
deles já haviam escrito comentários acerca do livro antes mesmo de Intocável
ser lançado, alegando inverdades e um suposto tom sensacionalista. Também a
família do astro pop se rebelou contra a biografia.
Assim que um trecho foi publicado em uma revista, os
advogados de La Toya e Janet, irmãs do cantor, enviaram cartas ameaçando
processar Sullivan. “O que peço aos fãs é que leiam o livro antes de falar
qualquer coisa. Alguns fizeram uma campanha organizada contra mim, o que
poderia ter sido péssimo para a divulgação do livro, mas no fim acabou ajudando
a vender mais exemplares”, conta ele.
“Já as ameaças das irmãs não me incomodaram. Tenho tudo documentado,
tudo o que está no livro é público. No caso de La Toya, ela queria negar o que
estava gravado em um vídeo (em 1993, a cantora disse, sobre Michael Jackson,
que não seria ‘uma cúmplice silenciosa de seus crimes contra as criancinhas’). Se
ela quisesse brigar, o vídeo ia acabar circulando, e acho que ela não queria
isso”, finaliza.
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