As mulheres na Literatura Brasileira (8ª Publicação) [Rubens Jardim]
LITORAL (poemas portugueses)
Estávamos um diante do outro
como um só espelho de ouro.
Entre nós corria o rio rubro
e era tempo de despedida.
Portugal, Espanha ou as cícladas
é tempo, mas de frutas cítricas
para ter nas mãos a colhida,
ácida, consentida, súplice vida.
9.PROJETO
Sim, iremos para a América do Sul
para as quadras de tênis vazias
para os parques de diversão silenciosos
movidos pelos anúncios luminosos.
UMA DOR
1.
O vento soprava árvores da esquerda.
Ao fundo, o menino tocava o violão
preso no ombro, como um pequeno navio adernado.
Uma dor
no mundo
rachava tudo fino e longe,
cinema mudo.
2.
Acordar é fechar as pálpebras.
Nossos olhos só escrevem
por cima, muito por cima.
E quando abrimos as janelas
É só o vento que está ali.
Existe uma dor
solta no mundo.
E eu quero deixar meu emprego, meus cabelos
minha família
para ir atrás dela
bicho com fome.
dito
caos
pouco a pouco
se dissolve”
***
"Um diálogo
estabelece-se
entre Terra e cosmos
magnífico
terrorífíco
céu
Inferno
deus
demônio
profeta em seu carro de fogo
o astronauta
fala
e sua voz
se transforma
em palavra nova"
"Onde deus
se sua essência
vai além do ar
do vácuo
ninguém jamais viu
o rosto
daquele que
cria
visões terrificantes
visões do céu
a Terra
que deus habita
onde sua força
acumulada
em séculos
de repente explode na atormentada
na obscura fórmula
do Homem"
"As paisagens
serão engolidas
pelos espaços
no turbilhão tudo se refaz
do nada
vias-lácteas
nascem
como eu
da imensidão
do espaço
sou espaço
ao mesmo tempo
eu sou eu
em resposta
aos deuses
aos demônios curvos
boitatás que sobre a Terra
espreitam
em Terra
além
eu sou todos os homens
e isto
é
tudo"
A DANÇA DOS CIPRESTES
Sou apenas uma mulher pequena que escuta o nascimento das plantas
Sem entender-lhes o diálogo.
Sou pequena e estou cansada de interrogar-me,
De perscrutar sempre as mesmas coisas
Para sempre descobrir que os homens são tristes.
Ah, meus irmãos
A estrêla se aproxima
Para nunca mais regressar.
Ainda bem que a noite desceu
E o luar me visita em casa
É ele que me deixa nua
Enquanto os ciprestes bailam.
LÊDA SEM CISNE
Está solto na alegoria
Lúcido cisne
Num lago sem fêmea.
À noite um piano me visita
Não sei se sou Lêda
Só sei que estremeço
Nas gazes do sono.
E não vejo a presença.
PROFISSÃO DE FÉ
Amo-te, Musa
Espumosa e leda
Mas de músculos de aço e hálito forte
De pudor e pétala.
Amo-te a efígie
Em que nasce o Mistério
E a raiz da Música.
Quero-te límpida e concisa
Como a Morte
Mas não apenas mensageira da angústia
Que o Destino põe no meu cabide
Como um chapéu de outono.
passaporte da morte
rumo à vala?
Vale o equivalente
da consciência plena
num quase valer a pena
como detectar o ato
chegar à certeza
do contacto e o que se expande?
forma-se o cerco
sem saída o SER
evoca sobre si
o umbilical cordão
acha o fio
a -ponta e encontra
o princípio...
de uma interrogação
Não crio tolas mentiras
Nem da verdade um vão
a escandir cada verso
arremedo em canto chão
Que te saibas água
Que te saibas pedra
que te saibas
ser
aos saltos de um girino
a espermatozóide
a centelha
a
ser
uma estrela que erra...
mas ilumina a terra
PAZ
já aqui e agora há paz ...
no lá fora deveria haver floração de acácias
ao vento filtrando um mantra...
mais adiante há instantes
variáveis de tumultos
des-encontros... e insultos
aos que comem pedra e se deliciam
sem argumentos...envio um vale
aos mantras redefinidos de cada grito
há muito deixei as aquarelas
pesquiso fractais da humanidade
e...sem ruidos desço o vidro da janela
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