Geniais
transgressores
“Malditos?”
A seção temática da Continuum,
mostra a trajetória de artistas que foram contra a corrente. Por meio de sua
arte, de fortes tintas transgressoras ou de sua postura diante da vida, eles
ajudaram a romper com conceitos ultrapassados, a moldar um novo pensamento que
acabou por influenciar as pessoas, por formar seu olhar. Seja no Brasil, seja
mundo afora, esses artistas, cuja genialidade nem sempre foi recompensada –
alguns deles nunca tiveram reconhecimento em vida –, fizeram com que a arte
rompesse fronteiras, ganhasse outras possibilidades de abordagem e compreensão.
Quase todos pertenceram a uma vanguarda, palavra de origem francesa que deriva
de avant-garde, aquilo que vem na frente, abrindo caminhos, a comissão de
frente.
Cinco desses artistas – Itamar Assumpção, Paulo
Leminski, Nelson Leirner, Zé Celso e Rogério Sganzerla – ganharam atenção
especial do Itaú Cultural nos últimos dois anos, com a realização de exposições
individuais, dentro do projeto Ocupação, e a série de documentários de longa
metragem Iconoclássicos. Eles ajudaram também a conceituar a ideia desse
Fichário, que leva o sugestivo nome “Malditos?”. Sim, a interrogação é
proposital, pois ser maldito, ser incompreendido, ser fora do circuito é sem
dúvida um preço alto que nem todo artista aceita pagar. Nas próximas páginas,
contamos as histórias, nem sempre alegres, mas com certeza ímpares, de artistas
que, devido à sua “ira santa”, poderiam ser chamados de malditos, e dizemos por
que eles são de fato transgressores.
Geniais Transgressores
A Continuum consultou especialistas da área cultural e
selecionou 11 artistas considerados “transgressores”. São profissionais que
quebraram as convenções de seu tempo, foram desbravadores, pioneiros. Conheça
as histórias desses criadores, que ajudaram a mudar comportamentos e a abrir a
mente das pessoas para estéticas ousadas. Depois que eles surgiram, no Brasil
ou em outros países, a arte nunca mais foi a mesma.
ANA CRISTINA CESAR
No caso dessa poeta carioca, o termo artista
transgressora faz referência mais à complexidade e densidade de sua produção
literária do que, propriamente, aos fatos de sua vida. No entanto, a opção pelo
suicídio aos 31 anos, provavelmente consequência de vários episódios de
depressão e do forte sentimento de inadequação, como relata em cartas e outros
escritos, acaba sobrepondo a vida à arte. Nascida em uma família de classe
média alta protestante, Ana C., nome que assinava grande parte de seus textos,
foi talento precoce. Desde a tenra infância fazia versos que, por não saber
escrever, eram ditados à mãe professora. Seus textos são híbridos de verso e
prosa sobre o cotidiano, retratado com grande carga confessional, como se
fossem um diário. Integrou – ao lado de Cacaso, Chacal e Francisco Alvim – a
poesia marginal dos anos 1970, cuja principal característica era driblar as
dificuldades de publicação impostas pelo mercado editorial distribuindo textos
em cópias mimeografadas. A estética do movimento – que pregava uma poesia menos
formal cerebral e mais lírica – marcou a técnica de Ana Cristina, mais apurada
a cada livro. Trocou extensa correspondência com amigos, especialmente nos
períodos em que viveu em Londres, onde fez mestrado em teoria e prática de
tradução literária. Após sua morte, a narrativa epistolar constituiu-se farto
material para análise não só de sua personalidade, mas também de seu processo
criativo.
GLAUBER ROCHA
O baiano de Vitória da Conquista foi um dos mais
importantes cineastas do Brasil. Expoente do cinema novo, Glauber Rocha
escreveu e pensou cinema: queria uma arte engajada no pensamento e pregava uma
nova estética, uma revisão crítica da realidade. Alfabetizado pela mãe, estudou
na Faculdade de Direito da Bahia e trabalhou como jornalista antes do seu
primeiro longa-metragem (Barravento, 1961). Fez também Deus e o Diabo na Terra
do Sol (1964), Terra em Transe (1967) e O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro
(1969), filmes com uma crítica social feroz e uma estética que pretendia romper
radicalmente com o estilo importado dos Estados Unidos. Em 1971, com o
endurecimento dos militares, Glauber partiu para o exílio, de onde nunca
retornou totalmente. Viveu em Cuba, na Itália e em Portugal, sua última morada,
antes de falecer em agosto de 1981. Tentou subverter também a língua portuguesa
em dois momentos durante o regime militar: ao criar uma espécie de código que
utilizava tremas em algumas palavras – se lidas por um militar eram um elogio;
se por um opositor, uma mensagem contrária ao regime – e, em 1977, passou a
utilizar uma ortografia própria, substituindo as letras c, i e s por k, y, z e
x. Conquistou diversos prêmios nos festivais de Cannes, de Havana e de Locarno,
entre outros.
GREGÓRIO DE MATOS
“Que falta nesta cidade? Verdade./Que mais por sua
desonra? Honra. Falta mais que se lhe ponha? Vergonha./O demo a viver se
exponha/Por mais que a fama a exalta/Numa cidade onde falta/Verdade, honra e
vergonha.” Esses são os primeiros versos do poema “Epílogos”, de Gregório de
Matos. Nascido em Salvador, em 1636, o poeta ficou conhecido como “Boca do
Inferno” por fazer provocações corrosivas em sua obra, relacionadas principalmente
às questões políticas, sociais e religiosas da Bahia do século XVII.
Influenciado pelos poetas espanhóis Gôngora e Quevedo, suas sátiras lhe
renderam acusações, ameaças de assassinato e a deportação para Angola. Outra
vertente importante de sua obra são os poemas eróticos e líricos, com cunho
moral, religioso e amoroso. A pluralidade temática compõe o momento histórico e
literário conhecido como barroco, marcado pelas contradições humanas
decorrentes do período de forte instabilidade. Ainda não é possível precisar
com exatidão quais poemas são realmente de Gregório de Matos nem as datas em
que foram escritos. Eles foram preservados por meio de códices copiados por
outros autores, atualmente em bibliotecas portuguesas e brasileiras. Embora ele
seja um escritor nascido há quatro séculos, suas críticas permanecem atuais.
HILDA HILST
Em sua obra, ela tratou de loucura, sexo, Deus,
homossexualismo, pedofilia e existência humana, muitas vezes misturando o
atemporal, o real e o imaginário. A preocupação com a imortalidade da alma
levou Hilda Hilst a fazer a seguinte experiência: espalhou gravadores por sua
casa com o intuito de registrar as vozes dos mortos. Ninguém a levou a sério.
Nascida em Jaú (SP), em 1930, a escritora sempre conviveu com a doença do pai,
diagnosticado como esquizofrênico paranoico. Em razão disso, os hospitais
psiquiátricos tornaram-se cenário recorrente em sua obra. Cursou direito na
USP, mas um ano depois de formada pediu demissão do escritório em que
trabalhava para dedicar-se integralmente à literatura. Entre os mais de 40
títulos publicados, dividiu-se entre poesia, crônica, teatro e ficção. Aos 36
anos, Hilda mudou-se para a Casa do Sol, uma fazenda em Campinas, onde produziu
a maior parte de sua obra. Vários artistas passaram a frequentar a casa,
transformando-a num centro de fomento cultural nas décadas de 1970 e 1980. Sua
obra foi traduzida para o alemão, o francês, o italiano, o espanhol e o inglês,
e, apesar dos prêmios que recebeu em vida, costumava declarar que não ganhou dinheiro
e que queria mesmo era ter um Nobel. Em 2004, morreu de infecção generalizada.
Sua moradia funciona hoje como o Instituto Hilda Hilst – Centro de Estudos Casa
do Sol.
ITAMAR ASSUMPÇÃO
Instrumentista, arranjador, compositor, cantor e
produtor musical, o Nego Dito Itamar Assumpção nasceu em Tietê (SP), em 1949.
Cresceu em Arapongas (PR) e mudou-se para a capital paulista em 1973. Mesmo
tendo alcançado a notoriedade necessária para viver de arte, Itamar sempre teve
uma relação curiosa de distanciamento com a fama. Autodidata, marcou forte
presença no movimento musical de vanguarda, que ocorreu nos anos 1980 em São
Paulo, entoando com sua voz grave e quente letras impregnadas de sátira e
crítica social, ousadas, originais e rebeldes, como suas performances no palco.
Para Itamar, num país como o Brasil, inundado de talentos artísticos, “o mínimo
era ser diferente”. Sempre contrário a qualquer tipo de pasteurização, recusava
prontamente todas as imposições e possíveis sugestões do mercado fonográfico.
Firmou parcerias artísticas com Paulo Leminski, Alice Ruiz, Arrigo Barnabé, Ná
Ozzetti e Tetê Espíndola, entre outros. Acompanhado da banda Isca de Polícia
(referência às constantes abordagens policiais sofridas por ele) ou das
Orquídeas do Brasil (grupo formado apenas por mulheres que traz no nome a
paixão do músico pelas flores), construiu uma obra de imensa amplitude, incapaz
de pertencer a determinada época, justamente por trazer consigo a carga de
inovação que a coloca sempre à frente de qualquer tempo. Em 2011, Itamar
Assumpção teve vida e trajetória retratadas no emocionante documentário Daquele
Instante em Diante, de Rogério Velloso, um dos filmes que integram a série
Iconoclássicos, do Itaú Cultural.
LENNIE DALE
Criador do lendário grupo Dzi Croquettes, símbolo da
contracultura gay em plena ditadura, nos anos 1970, o coreógrafo nasceu em Nova
York, mas, ao receber um convite para um trabalho no Brasil, em 1960, apaixonou-se
pelo país. Passou a viver no Rio de Janeiro, onde dirigiu shows em boates do
Beco das Garrafas, berço da bossa nova. Teve especial papel no início da
carreira de Elis Regina, modificando sua expressão corporal no palco. Consta
que foi ele quem a orientou a balançar os braços imitando um helicóptero ao
interpretar “Arrastão” no Festival da Canção de 1965. Lennie revolucionou a
linguagem da dança no país. Suas performances – como a que fez por meses num
restaurante carioca, vestido de mulher e estalando um chicote – eram
consideradas chocantes. O Dzi Croquettes, criado em 1972, reunia, sob a batuta
do coreógrafo, 12 bailarinos, que viviam e criavam juntos. Sempre impecáveis na
atuação, uniram música, dança e teatro com farsa, comédia de costumes e travestismo.
Apesar da breve trajetória, o grupo, que se dissolveu em 1976, foi aplaudido em
vários países, angariando a simpatia de nomes famosos como Liza Minelli, com
quem Lennie passou a trabalhar. Descobriu-se portador do HIV e decidiu
tratar-se nos Estados Unidos, deixando o Brasil. Morreu em decorrência da aids
em 1994. Em 2009 Tatiana Issa e Raphael Alvarez lançaram o tocante documentário
Dzi Croquettes, que conta a história de paixões da trupe e situa sua relevância
no panorama cultural brasileiro.
LUZ DEL FUEGO
Dançarina capixaba que se tornou internacionalmente
famosa nos anos 1950 por suas performances em circos e teatros, onde se
apresentava seminua e acompanhada por um casal de jiboias. Luz del Fuego é
considerada, devido à contestação, tanto na vida quanto na arte, da moral e dos
costumes do início do século XX, uma das primeiras feministas brasileiras. À
artista também se associa o feito de ser a pioneira do movimento naturista e do
vegetarianismo no país. Outros mitos giram em torno da performer: foi uma das
primeiras mulheres a usar duas peças para o banho de mar, numa combinação que
antecedia em muito o uso do biquíni pelas brasileiras. Sua relação com a
família burguesa sempre foi conturbada e rendeu episódios de internação em
manicômios, onde foi diagnosticada erroneamente como esquizofrênica. No Rio de
Janeiro, cidade para a qual se mudou para fugir do controle familiar, virou
notícia ao ser presa algumas vezes por praticar o nudismo na deserta praia da
Joatinga. Fundou o Partido Naturalista Brasileiro, que acabou extinto, e passou
a viver em uma ilha, presente do ministro da Marinha. Nesse reduto, hospedou
dezenas de artistas hollywoodianos. Sua única exigência é que todos deixassem
as roupas do lado de fora. Luz del Fuego teve um final trágico: foi
assassinada, junto de seu caseiro, ao ser atraída para uma armadilha montada
por uma dupla de ladrões. Desde então, o dia de seu nascimento, 21 de
fevereiro, passou a ser comemorado como o Dia do Naturismo.
PAULO LEMINSKI
O escritor, tradutor e compositor curitibano era mestre
no manejo das palavras, usadas para revestir de simplicidade e graça temas por
vezes desconcertantes. Leminski inovou, na linguagem e na forma, ao
aproximar-se dos poetas concretistas Haroldo e Augusto de Campos e Décio
Pignatari e aprofundar-se no estudo do haicai. Criava poemas concisos em que
utilizava jogos de palavras, trocadilhos, palavrões e linguagem publicitária. A
ausência de pontuação era outra marca que o aproximava da estética concreta.
Extremamente culto e considerado por muitos como um gênio, Leminski era um
escritor combativo e levou às últimas consequências o experimentalismo na vida
e na arte. Aos 12 anos, ingressou no Mosteiro de São Bento, em São Paulo, onde
aprendeu latim, teologia, filosofia e literatura clássica. Decidiu ser escritor
nos anos 1960 e passou a publicar sua poesia em revistas alternativas da época.
Paralelamente atuou no jornalismo, na publicidade e no ensino, como professor
de curso pré-vestibular. Compôs dezenas de canções com parceiros como Caetano
Veloso, Arnaldo Antunes e Moraes Moreira. Em 1975, lançou sua obra mais
experimental, o romance ficcional Catatau, que narra uma visita do filósofo
francês René Descartes ao Brasil, como integrante da comitiva de Maurício de
Nassau. A obra serviu de tema para o novo filme de Cao Guimarães, Ex Isto, que
integra a série Iconoclássicos, do Itaú Cultural. Leminski morreu em 1989, aos
44 anos, de cirrose hepática.
PLÍNIO MARCOS
Dramaturgo paulista, foi funileiro, aprendiz de
encanador, camelô e ponta-esquerda na Portuguesa Santista e serviu na
Aeronáutica. Mas foi no circo que encontrou seu caminho para o teatro. Começou
a trabalhar como palhaço e humorista aos 16 anos, em Santos, sua cidade natal.
Percorreu o interior do estado com a Companhia Santista de Teatro de
Variedades, apresentando-se em emissoras de rádio e televisão. Em 1958, a
escritora e jornalista Pagu o convidou para substituir um ator na peça infantil
Pluft, o Fantasminha. A partir disso, conheceu um grupo de intelectuais,
participou ativamente do teatro amador de Santos e escreveu sua primeira peça
teatral, Barrela. Baseada em fatos reais, a obra conta a história de um jovem
presidiário estuprado por vários colegas de cela. O texto teve apenas uma
apresentação e permaneceu sob censura durante 21 anos. Por retratar a opressão
das camadas sociais periféricas – como prostitutas, homossexuais, pobres e
presidiários, de maneira realista, repleta de gírias e da linguagem própria
desses grupos – muitos de seus espetáculos enfrentaram problemas com a censura
do regime militar, entre eles Navalha na Carne (1967), O Abajur Lilás (1969) e
Dois Perdidos numa Noite Suja (1966), tornando o autor, na década de 1970, um
símbolo da perseguição dos militares. Perambulava pelas ruas de São Paulo
vendendo álbuns de figurinhas, cigarros americanos e rádios de pilha. Escreveu
25 livros e 31 peças que marcam a história do teatro brasileiro. Morreu aos 64
anos em São Paulo.
TORQUATO NETO
“Para mim, chega!” Com essa frase, o jornalista, poeta
e compositor Torquato Neto pôs fim à sua vida, poucas horas depois de comemorar
com amigos e a família seus 28 anos de idade, em 1972. Figura de proa do
movimento tropicalista e autor do manifesto “Tropicalismo para Principiantes”,
Torquato dava um basta, com seu ato extremado, à opressão que a ditadura
militar exercia sobre a classe artística e também ao patrulhamento dos
militantes da esquerda sobre tudo o que não era arte engajada. Autor de “Mamãe,
Coragem” e “Geleia Geral”, duas das músicas mais conhecidas do lendário disco
Tropicália ou Panis et Circensis, que reuniu, em 1968, os principais nomes do
movimento, como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Os Mutantes, mudou-se de sua
cidade natal, Teresina, para Salvador, onde se tornou amigo de Gil, Caetano,
Gal Costa e Maria Bethânia. Com os baianos, migrou para o Rio e iniciou a
faculdade de jornalismo. Trabalhou nos cadernos de cultura do Última Hora e do
Correio da Manhã. Essa atividade o levou a assumir a postura de agitador
cultural, atuando não só na música. Identificou-se com a estética do cinema
marginal e encarnou Vampiro, o personagem principal de Nosferatu, dirigido por
Ivan Cardoso, em 1970, e realizou o filme Terror da Vermelha, em super-8, entre
1971 e 1972. Uma coletânea de seus textos, organizada pelo amigo Waly Salomão,
deu origem ao livro póstumo Os Últimos Dias de Paupéria, em 1984.
ZÉ DO CAIXÃO
A vida de José Mojica Marins – ator, diretor e
roteirista de cinema e televisão – se confunde com a de Zé do Caixão,
personagem criado por ele, em 1963, após um pesadelo no qual um vulto o
arrastava para seu próprio túmulo, que tinha a data de seu nascimento e de sua
morte. Apesar de ter produzido trabalhos de diversos gêneros, ficou realmente
famoso pelos filmes de terror. Considerado um dos inspiradores do cinema
marginal brasileiro, Mojica desenvolveu um modo muito particular de filmar e
foi desprezado pela crítica nacional. O ostracismo durou até seus filmes serem
considerados cult no circuito internacional, no qual ficou conhecido como
Coffin’ Joe (Zé do Caixão, em inglês). A primeira aparição do personagem foi em
À Meia-Noite Levarei Sua Alma, de 1964. Após diversas produções, ocorreu, em
1974, o embate entre criador e criatura, em Exorcismo Negro, em que Mojica
interpreta Zé do Caixão e a si próprio. O cineasta, que tem como marca
registrada as longas unhas, já teve a vida retratada por outros colegas, como
Jairo Ferreira, Ivan Cardoso e Godofredo Telles Neto. Recebeu a Honra ao Mérito
Cultural e, somente em 2001, passou a ser convidado para homenagens e
retrospectivas de seus filmes em mais de 20 festivais internacionais.
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