Morador
guarda cartas escritas por Carlos Drummond de Andrade
Empresário de Lavras
comprou correspondências de um parente do poeta.
Agora ele pretende
disponibilizar o acervo para pesquisa.
Dentro de uma bolsa, que
pertence a um morador de Lavras (MG), encontram-se verdadeiras relíquias: um
acervo de cartas de Carlos Drummond de Andrade. O empresário Eduardo Cicarelli
comprou as correspondências de um parente de Drummond e desde então guarda o
material em casa. São textos cheios de carinho e afeto ao pai, e principalmente
à mãe que revelam uma postura diferente do poeta, que raramente se referia às
mães em seus textos.
As cartas foram escritas
por Drummond entre 1925 e 1948 e enviadas para a família que viveu em Itabira,
região metropolitana de Belo Horizonte (MG).
"Eu estava
participando de uma exposição no Centro Cultural Banco do Brasil no Rio de
Janeiro e apareceu esse acervo de cartas através de um advogado que trouxe uma
pessoa até mim, que eu não sabia quem era, de quem eu comprei as cartas.
Recentemente eu fui saber que era a cunhada de Drummond", conta o dono do
acervo.
Os papéis amarelados
denunciam a ação do tempo e revelam que a letra do maior poeta mineiro, Carlos
Drummond de Andrade, era pequena, ao contrário de sua poesia. As fotos, ainda
em preto e branco, sempre traziam pequenas dedicatórias, como a de quando ele
se formou em farmácia em 1925: lembrança de amor filial.
Empresário guarda cartas
do poeta Carlos Drummond de Andrade em Lavras (Foto: Reprodução EPTV)
O papel timbrado do
Ministério da Educação e Saúde, onde Drummond trabalhou, foi usado para muitas
cartas. Em uma delas, o poeta contou como passou o carnaval de 1940:
"Passamos aqui em
casa um carnaval absolutamente tranquilo pois nem sequer saímos para ver o
movimento das ruas. Apenas segunda feira, pela manhã, tive de ir ao ministério,
para preparar o despacho do ministro, que apesar do carnaval foi a Petrópolis
avistar-se com o presidente".
Carlos Drummond de Andrade
relatou ainda em suas cartas momentos políticos entre muitos outros assuntos. O
material revela um lado pouco conhecido de um dos maiores nomes da literatura
brasileira. Hora ou outra, Drummond deixa bem claro em suas obras o respeito e
a admiração pelo pai. Já no acervo, das mais de 200 cartas, a maioria foi
escrita para a dona Julieta, mãe de Drummond.
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Carta revela mensagem de
Drummond para a mãe
(Foto: Reprodução EPTV)
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São registros cheios de
carinho. Em uma carta, Drummond brinca com o fato de ser o filho mais novo:
"Mamãe, sua benção para o caçula de 39 anos".
Mais abaixo, uma
justificativa e uma mostra de afeto: "Não tenho lhe escrito ultimamente
por causa da lida de todo dia. Mas nem por Isso eu esqueço da senhora e lhe
consagro sempre um pensamento carinhoso."
Recentemente, a revista
Época fez uma reportagem mostrando o acervo que tem um grande uma importância
cultural e histórica.
"Este é um material
riquíssimo para pesquisadores, estudiosos da obra de Drummond, da literatura
brasileira. Este material tem que ficar em uma biblioteca, em uma faculdade que
queira adquirir, para ser pesquisado", diz o empresário.
Carlos Drummond de Andrade
nasceu em 1902, em Itabira (MG), e morreu em 1987, no Rio De Janeiro (RJ). No
serviço público, foi chefe de gabinete de Gustavo Capanema, ministro da
Educação, e no Rio de Janeiro, trabalhou no serviço do patrimônio histórico e
artístico nacional. Depois de se aposentar, em 1962, foi cronista de jornais de
grande circulação nacional. Por várias décadas, foi o poeta mais influente da
literatura brasileira em seu tempo, e teve obras traduzidas para várias
línguas.
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