Noturno II
Por muitas vezes ela olhava a lua nas noites quentes
enquanto ele dormia pesadamente na cama, palco de seus momentos de
cumplicidade.
Era uma “filha da noite”. Gostava de ficar acordada
enquanto todos dormiam. Gostava do silêncio das madrugadas, o que parecia
contraditório já que ela afirmava não gostar de silêncio e passava a maior
parte do tempo ouvindo músicas ou cantando.
Gostava de ver o vazio das ruas, o voo de aves
noturnas. Gostava de dar asas aos seus pensamentos e isso acontecia com mais
freqüência nas noites, no escuro, naquele silêncio aveludado.
Naquela noite, ela parou para conversar com a lua.
Revelou-lhe o medo que sentia de vê-lo partir um dia. Ninguém sabia ao certo,
mas ela era insegura, pensava muito em várias possibilidades para cada
situação, para saber como se comportar, justamente para esconder essa
insegurança toda, para esconder a sua fragilidade. Às vezes, não raro,
conseguia, mas por dentro ela tremia.
Lá no fundo de seu coração, olhando aquele corpo
adormecido, ela sentia que o fim estava próximo, que aquela história tinha um
prazo de validade.
No escuro ela se perguntava se de fato o amava. Apesar
do tempo em que estavam juntos ela não sabia responder se era amor ou se era
costume e começou a imaginar situações
para tentar entender o que se passava.
Aos poucos deixou de imaginar e se pôs a lembrar os
momentos que passaram juntos, os sorrisos, as lágrimas e os abraços – ela
adorava abraços!...
Voltou a olha-lo dormindo, relaxado, tranquilo,
entregue aos sonhos, imerso nos lençóis e na noite que seguia lenta...
Num instante ela sorriu e percebeu que era mais um caso
desses “amores passageiros”. Mais uma paixão que ela colecionaria. Olhou o
rosto dele sereno na penumbra do quarto. Lentamente se vestiu, pegou a bolsa e
foi para a porta. Antes de sair ela ainda escreveu um bilhete para ele: “mais
um amor que virou bom dia...”. Deixou o papel sobre a mesa. Virou as costas e
partiu, porque logo o sol romperia a barra da noite; porque algumas pessoas
passam por nossas vidas só par deixarem uma saudade gostosa, para nos
lembrarmos que existem momentos felizes.
Partiu porque entendeu que a vida era curta demais para
que ficasse ali, sem ser sinceramente feliz.
Ela saiu daquele quarto rumo à sua felicidade que só
podia ser construída por ela mesma e que não seria ao lado dele.
Ela partiu porque descobriu naquele momento que a
felicidade é uma coisa na qual precisava correr atrás.
Dy Eiterer.
Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil. Edylane é Edylane desde 20 de
novembro de 1984. Não ia ter esse nome, mas sua mãe, na última hora,
escreveu desse jeito, com "y", e disse que assim seria. Foi feito. Essa
mocinha que ama História, música e poesia hoje tem um príncipe só seu,
seu filho Heitor. Ela canta o dia todo, gosta de dançar - dança do
ventre - e escreve pra aliviar a alma. Ama a vida e não gosta de nada
morno, porque a vida deve ser intensa. Site:Dy Vagando
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2 comentários
Dy Eiterer transborda poesia em tudo o que escreve. Seja em prosa ou em versos, lê-la é bom, faz bem!
Fabbio Cortez
Fabbio é sempre muito gentil, um poeta sem igual e muito sensível!
Um prazer tê-lo como meu leitor e mais ainda dividir a mesma antologia!
Obrigada pelo carinho!
beijo,
dy
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