Mauro
Paz é
de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Formando em Letras, trabalha como redator
publicitário em São Paulo. Já publicou em diversas antologias de contos. Em 2011
seu livro de contos Por Razões Desconhecidas foi finalista do Prêmio SESC 2011.
No ano seguinte, o mesmo livro foi selecionado e publicado pelo Instituto
Estadual do Livro do RS.
“Sou um gaúcho de cardápio óbvio: carne,
massa, batata, café, pão e queijo. Torço
para o Grêmio. Acredite, a bola bateu na trave muitas vezes nos últimos treze
anos. Já traí um grande amigo. Fui traído por outro. Aprendi a perdoar.
Inclusive a mim próprio. Não tenho medo de mudanças. Cultivo novos projetos.
Boas amizades. Recordações. Coleto histórias. Personagens. Gestos. Diálogos de
rua. Compartilho conselhos. Choro com demonstrações de compaixão. Quando penso
no exemplo do amor de meus pais. Quando escuto as canções certas. Quando parto.
Quando elas vão embora. Gosto de Beatles. Clash. Bowie. Caetano. Milton. Gil.
Escuto João Gilberto com a luz da sala apagada. Admiro o estilo de Salinger. O
tesão de Cortazar. A força de Falkner. Considero o mundo um lugar árido. E os
homens, cães assustados. Mesmo assim pretendo ter um filho ou dois. Não
economizo palavras para dizer o quanto gosto das pessoas, nem ironias frente a
situações que me desagradam. Já perdi um filho. Vendi laranjas na feira. Roubei
balas no supermercado. Porém, nunca, nunca mesmo, menti o nome. Sinto vergonha
pelo meu inglês fraco. Orgulho de dominar o português. Escrevo por exemplo de
meu pai. Pela calma da minha mãe. Por exercício diário. Escrevo por profissão.
E a cada minuto que passa estou mais certo de que escrever é o que me mantém
vivo. De olhos atentos. E de coração aberto.”
Experiência
na propaganda
2012 - 2014 | Senior Copywriter at Wunderman, São
Paulo, Brazil;
2011 - 2012 | Senior Copywriter at SapientNitro iThink,
São Paulo, Brazil;
2011 | Senior Copywriter at Garage Interactive, São
Paulo, Brazil;
2009 - 2011 | Copywriter at Agência Click Isobar, São
Paulo, Brazil.
E-mail: paz.mauro@gmail.com
Phone: +55 (11) 988.434.877
LIVRO DE CONTOS "POR
RAZÕES DESCONHECIDAS" (2012)
Finalista do Prêmio SESC
de Literatura 2011, o livro Por Razões Desconhecidas foi selecionado no
programa de publicações do Instituto Estadual do Livro do RS.
Lançada em outubro de
2012, a edição reúne 13 histórias sobre pessoas que desaparecem nos mais
diferentes cantos do mundo, pelas mais diversas razões, ou por razão nenhuma.
Como uma banda de rock pode mudar a rotina de uma pequena cidade?
Versão completa em pdf
Baixe agora a versão
completa de A Garota Azul do Lago em pdf. E leia tranquilo no seu iPhone, iPad,
Tablet, Smartphone ou pager.
NOVELA DESFOCADO (2006)
Novela em 7 capítulos que
explora a mistura de diversos gêneros literários e novas possibilidades de
leitura com animação.
Por sua inovação na forma
de utilizar os gêneros, a novela é mencionada em diversos trabalhos acadêmicos,
inclusive no livro "Multiletramentos na Escola" de Eduardo de Moura
Almeida (PUC-SP) e Roxane Helena Rodrigues Rojo (USP) - Editora Parábola. No
livro que vem sendo muito utilizado nas faculdades de Letras, a novela serve de
base para diversos exercícios de leitura e interpretação.
O QUE VOCÊ SABE SOBRE O INVERNO?
“Estou pensando em abrir a gaveta da escrivaninha do
seu pai. Retirar o revólver e enfiar uma bala da minha cabeça.”
“Não fala assim, mãe.”
“Você perguntou no que eu estava pensando.”
“Já tirei a arma de lá.”
“Eu sei.”
“Você precisa comer alguma coisa. Sair de casa.”
“Igualzinho ao pai. Adora dizer o que os outros devem
fazer.”
“Viajei trezentos quilômetros para estar com você. Já
perdi três dias de aula. Não precisa me tratar assim.”
“Foda-se a sua aula. Quem paga a faculdade é o filho da
puta do Walter.”
“Esse é outro assunto que precisamos falar, mas
primeiro quero você fora da cama. Quem receitou esses remédios? São tarja
preta.”
“Fique tranquilo, seu pai vai pagar a sua faculdade.”
“Acho difícil.”
“Lembra daquele verão que viajamos só eu e você para
Ubatuba?”
“Adorei o hotel. Era só abrir a porta do quarto e
brincar na beira da praia.”
“Você nunca estranhou que o Walter não foi?”
“Ele estava no Rio para o Congresso Brasileiro de
Neurologia.”
“Depois de três anos de faculdade de medicina, você não
descobriu que nenhum congresso dura dois meses?”
“Depois do Congresso, ele viajou a Boston para um
curso.”
“Curso em Boston, besteira.... O filho da puta sempre
volta.”
“Quem receitou os remédios? Sabe que dão alucinações?”
“O problema não é ele voltar ou não. O problema é o
motivo pelo qual ele some.”
“Ele não vai voltar, mãe.”
“Durante todos esses anos, sempre escondi de você as
escapadas do seu pai. Enquanto eu revirava bares e puteiros, chorava trancada
no quarto, você estava há quilômetros daqui para se tornar um médico e seguir
os passos daquele filho da puta.”
“Eu sei que o pai pulou a cerca várias vezes, mas não
precisa falar dele assim agora.”
“O que você sabe sobre o inverno? Você sabia que seu
pai me deixou três semanas sozinha em casa? Certeza que viajou para Buenos
Aires com a secretária nova do consultório.”
“O que sei, mãe, é que você querendo aceitar ou não o
papai morreu faz três dias quando um caminhão esmagou o carro dele na Bandeirantes.
Sei que dói muito na senhora. Sinto o mesmo vazio, o mesmo desespero, o mesmo
frio, mas sei também que todo inverno passa. Por favor, pare com esses
remédios. Vou receitar outros para você.”
OBS.: Conto escrito para a Revista Pessoa.
Mauro Paz
Todos os direitos autorais reservados ao autor.
Nenhum comentário
Postar um comentário