Anônimos e belos! A poesia detrás das janelas. (Publicação III - Dy Eiterer)
Hoje trago a Dy Eiterer poeta, a Dy poeta, dona de uma poesia envolvente, de encontros e desencontros... A poesia jorra nesta mineirinha com tamanha facilidade que seus poemas refletem os seus mais profundos sentimentos!
Tem um sonho: conhecer um deserto!
Uma missão: fazer parte, como voluntária, de uma missão no Haiti.
Fúlvido
Descem do céu e lhe emolduram o rosto
Rompem nuvens e revelam sorrisos
Fúlvidas madeixas encantadoras
Que o ventre claro ornam
Como veios d’água pelos montes
Como cachos de flor exótica.
Fúlvidos sonhos desfazem-se
Diante de sua cor quase pálida,
Quase tão branca quanto minha boca,
Que apertada conteve o grito
Que revelaria a grande perda.
Pálidos sonhos que seguem esmorecendo
Enforcados nos fios do destino
Que escorrem fúlvidos de sua fronte
Que ousei olhar, que ousei ser e ter
Mas que jamais alcançaria.
No inverno seus olhos verdes
Vieram ao mundo.
Começava a estação fria mais quente de minha vida.
(O verde de seus olhos anteciparam a primavera)
Ah, olhos verdes, de ver-de-perto o meu amor!
Menino curioso, nasceu de olhos abertos
E assistiu a tudo:
Chegou no mundo para desbravá-lo.
Da boca aberta ouviu o choro,
Estreia triunfal de voz que mal canta,
Mas a todos ao redor encanta.
Aos pés pequeninos, sonhamos o melhor destino.
Para as mãos perdidas, meus dedos:
Segurança, proteção.
Do meu peito que parecia vazio, abrigo,
Alimento, acalanto, doação.
Da minha boca aos teus ouvidos, oração e canção:
O amor existe e se multiplica quando a gente se divide.
Em meus olhos castanhos, verão.
E eles verão os teus verdes
Verem de perto o verão que nos aquece.
Serão dias mais dourados pelos teus cabelos que pelo sol.
Mais ardentes por sua presença,
Mais quentes em seus abraços,
Mais infinitos pelo som de tua voz.
Escrevi um poema,
Mas ele não era pra ser lido:
Quis guarda-lo em sigilo.
Era pra ser de amor,
Mas acabaram falando de sorrisos.
Coloquei-o numa redoma de vidro.
Tomei cuidado com os versos,
Deite-os em folhas muito brancas,
Escrevi-os com tinta muito viva
E acomodei-os dentro do cristal
Ali dentro eles adormeceram
Vez ou outra suspiravam,
Remexiam, reviravam.
Só de longe eu os olhava.
Encantei-me não pelas palavras,
Mas pelas cores dos reflexos:
O cristal se desfazia em arco-íris.
Morri de amores por todas aquelas cores.
Mas um dia o poema acordou.
De súbito se levantou.
Suas palavras se desgrenharam
Tinha a impressão de que se reorganizaram.
Já não eram minhas aquelas linhas,
Ganharam outros rumos a minha poesia!
Impaciente ele se mexia,
Aos poucos pareceu-me crescer,
A redoma já não lhe cabia.
Um estilhaço se deu:
Perdi o meu poema,
Que teimou-se em dizer que era seu.
A partícula de poeira voa.
Dança a bailarina quase invisível.
Perde-se no vento,
Faz rodopios no ar.
Quando menos se espera ela é vista:
Foi pega num raio de luz.
Agora, comparo-me a ela:
Canto, danço, escrevo, vivo,
(Quase invisível)
Perco-me em pensamentos:
O mundo não me vê,
(--- será?---)
Mas eu o vejo e estranho:
Até parece que não sou daqui...
Até parece um teatro
(Mas não sou boa atriz)
As cortinas irão se abrir...
As cortinas irão se fechar...
E serei pega num raio de luz.
Aplausos para mim!
- Bravo! Ela era quase invisível,
Mas soube viver!
Não, não precisa se revelar por completo!
O passado não importa
E agora pode ser o que quiser:
Insensata, fiel, confusa ou serena,
Mas seja LIVRE!
Flor que desabrocha em beleza,
Onda que sempre quer mais,
Que vem à praia e volta ao mar
E parece que nunca se satisfaz...
Seja lua, branca, nua,
Amante solitária,
Brilho vazio que acompanha passos boêmios.
Destino de olhares perdidos,
De sonhos enlouquecidos...
Seja noite deslumbrante,
Breu inebriante,
Desfile de estrelas.
Silêncio que corrói a alma.
Lembranças de beijos não dados,
De amores negados.
Seja qualquer coisa
Seja o que quiser!
Que me venha intensa, alegre, inteira
Mas que me venha!
Que preencha meus braços
Que me prenda a você com invisíveis laços.
Entre duas montanhas, o vazio,
Espaço onde o vento brinca,
Onde os olhos se deliciam,
Onde os sonhos se jogam para voar.
Entre minhas pernas, as suas.
Entre nossas bocas, o mel.
Entre nossas palavras, o silêncio.
Ao meu alcance, a tua mão.
Sob meus pés, nossos caminhos.
Em minha cama, seu sono,
Conforto, seus sonhos.
Na minha pele, seu cheiro,
Desejos satisfeitos.
Entre nós e o mundo lá fora, um abismo.
Guardei sua foto, sorriso raro
Junto com o que tenho de mais caro:
Minhas lembranças.
(Coloridas, como sonhos da infância)
Em tempos de saudade
Recorro a ela em velocidade
Penduro-a num colar
Pingente a
B
Relicário sagrado,
Emoldurado e dourado
Onde preservo o meu tesouro
Mais valioso que ouro.
Nessa madrugada que se vai lenta
O relógio marca 5 da manhã.
Do meu lado você inventa
Fragmentos que poderiam ser o nosso amor.
O nosso amor que não existe.
Entre pernas e braços, o lençol.
Entre minha cabeça e coração, o tédio.
Ou não é tédio? Poderia ser só indiferença.
Você faz planos para uma vida plana.
Eu sonho acordada com as montanhas.
As delícias de se descer correndo pelos caminhos,
O vento batendo no rosto.
O cabelo vermelho, fogo no ar, desgrenhado.
O sol que cega os olhos,
O frio na barriga de se chegar no desconhecido.
Não busco modelos, padrões ou guias.
O que quero é voar.
O que busco é sonhar.
Nessa noite insone, sonho.
E nós insones, passamos o tempo.
E esse despertador, meu Deus, que não toca!
E esse dia, meu Deus, que não rompe.
Como é estranha a sensação de estar sozinha,
Estando acompanhada!
Como é boa a sensação de ver fechar a porta
E me ver sozinha com a própria solidão.
Acho que me acostumei com a sombra…
Palavras,
Facas,
Aço afiado.
Punhal que corta o coração.
Pra onde vão?
Não sei…
De onde vêm?
Da boca que não pensa
Geme,
Grita,
Berra.
Por onde passam,
Furacão.
Ah, e o que acontece as ouvidos,
Aos meus ouvidos que não eram acostumados aos gritos?
Se ensurdecem.
O peito se aperta.
Os olhos se embotam.
A cabeça gira,
O corpo sente
Os sentimentos sabotam.
O que resta depois das palavras?
Cacos.
Os meus, os seus, os nossos,
Que um dia foram dois,
Que um dia se tornaram um,
Que agora se misturam
E que jamais serão os mesmos.
Pisa de leve nessa sala
Toma cuidado com o que sobrou de mim:
Esses cacos, meus cacos,
Podem machucar
Tanto quanto as palavras.
As suas palavras.
E quando o sol se por
E quando o brilho não pousar mais sobre a terra
E quando a lua não aparecer
Nem as estrelas dançarem no ceu
Que subam as marés
Que soprem os ventos
E façam as folhas secas do chão rodopiarem.
Que folhas loucas se joguem dos galhos,
Que belas flores ornem tua fronte,
Porque mais importante que o ciclo do mundo
É a paz que reina em teu coração.
E quando o que restar for silêncio
E no escuro, a solidão,
Sente o teu corpo abraçado,
Os teus cabelos afagados,
E na ausencia que enche o breu do quarto
Sente a presença anunciada.
Porque a saudade é a lembrança
da alma que já esteve acompanhada.
Um comentário
Essas poesias são lindas Parabéns Prf Dy
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