Anônimos e belos! A poesia detrás das janelas.
(Publicação IV - Heduardo Kiesse)
Em nossa quarta viagem, descortinando a poesia que se forma e se avoluma detrás das janelas, fotografamos a poesia que o papel não consegue captar... Trago hoje, flashes poéticos de Heduardo Kiesse, fundador da página “Paradoxos”.
A poesia acontece onde
menos se espera, distendendo-se silenciosa e furtivamente pelo mundo. De
máquina fotográfica no bolso, e esferográfica na mão, vale a pena percorrermos
a cidade com um olhar atento, não vá um verso surpreender-nos num qualquer
recanto incógnito, sem que tenhamos um meio de o perpetuar, perdendo-o, para
sempre, “à beira do infinito”.
Carolina Meireles
Heduardo Kiesse nasceu a 5
de Março de 1978, em Angola. Frequentou a Faculdade de Direito da Universidade
de Lisboa e é licenciado em Filosofia pela mesma Universidade.
Para Heduardo
Kiesse, fotografar serve, sobretudo, não para imobilizar instantes em pedaços
de papel, mas para acompanhar a trajetória da poesia na sua fuga do papel para
outros suportes tais como pedras, bocados de madeira, tijolos, parafusos,
esferovite, fósforos, botões, folhas, areia, etc.
"Porque fotografia é a
Eternidade Provisória na qual tentamos perpetuar a vida esticando ponteiros de
relógios como se a natureza do tempo fosse meramente elástica." (HK)
Apesar de, ainda, não ter obra lançada, a sua fanpage possui mais de cinquenta e oito mil seguidores. Segundo Heduardo, ele "limita-se a lançar palavras no chão dos poemas a fim de
ver germinar um livro com trezentos e sessenta graus de silêncio".
Boa leitura!
“PARADOXOS”
Indicações: Indicado para
o alívio de insuficiências afectivas, constipações provocadas por chuvas de saudade,
cansaços de imaginação, vestígios de solidão ou frios de corpo e alma.
Como usar: ”ParadoXos”
deve ser tomado com líquido (um copo de vinho ou mais, consoante o peso, a
idade e a vontade de prolongar a escassez de infinito), se possível durante a ingestão
de sílabas ou de outro alimento qualquer.
Recomendações: Se estiver
a amamentar evite medicar-se com “ParadoXos”. Pode causar sonos de passarinho,
ânsias de infância e desejo de utopia. Se tem hipersensibilidade a gestos de
ternura ou a qualquer outro ingrediente da ilusão, alergia ao instante mudo que
antecede um beijo, ou dificuldades em bordar palavras em linhas de horizonte,
não utilize “ParadoXos”. Aconselhamos o uso de poeticoterapias alternativas.
Dosagem: Recomenda-se uma
ou duas doses por dia. Caso se esqueça de tomar “ParadoXos”, tome uma dose a
dobrar para compensar a dose esquecida.
Composição: As substâncias
activas são: Aroma de poesia, lápis de cor, espuma de paisagem, papéis
rasgados, madrugadas de bolso, canas de bambu, madeira, areia, pedras, tijolos,
arame e restos de sentimento.
Efeitos secundários: Não
existem contra-indicações relevantes. No entanto, como todas as
poeticoterapias, “ParadoXos” pode provocar ataque súbito de inspiração e
sorrisos de boca inteira. Podem ainda ocorrer sensações de bem-estar em
primeiro grau, poemices, alegria profunda e estados de paz interior. Se
eventualmente surgirem sinais ou sintomas de vazio, deve colocar imediatamente
uma vírgula na leitura e continuar no dia seguinte.
Caso ainda tenha dúvidas
sobre a utilização de “Paradoxos”, fale com os botões que se encontram algures
numa das imagens da embalagem.
Prazo de validade: Veja a
data indicada no rótulo do seu coração.
Nota: Este produto pode
ser adquirido sem receita poética. Depois de consumir, não o deixe fechado na
embalagem. Deixe-o ao alcance de todos.
Poemografias
de Heduardo Kiesse
Agarrou o poema com os lábios
e pronunciou beijos que nem sequer eram palavras. Endireitou a voz por dentro.
Foi buscar fôlego ao fundo dos pulmões para pedir à chuva que tombasse
aguamente sobre o chão que lhe fugia das mãos.
Ao regressar. Subiu como
os pássaros ao telhado das árvores. Lançou asas pela distância íngreme que vai
do sentimento à escrita. Depois. Ajustou o sono ao fuso horário do infinito.
Com a ponta dum fósforo construiu diques imaginários contra a insónia e
pendurou-a por fios de lume para não se apagar.
Dezembro-me como se fosse
hoje. Flocos de lenha derretiam-se na lareira tentando calar o frio. Lá fora os
ramos sacudiam o vento perante a dança inquieta das folhas. Assobios pingavam
em forma de música como se cada gota pudesse remunerar o coração com sopros mágicos
de lume. Em troca de nada.
Leitor. Pergunta-lhe agora
mesmo em que parte do corpo a ausência das palavras tem a força de uma
multidão? A que distância os gomos de neve se deixam morder pelo sol quando nos
faltam garfos para levar o sono à boca? E já agora leitor diz-lhe que o poema não
se agarra com os lábios. Que os nossos passos embora dançados de cansaço hão-de
sacudir sorrisos em véspera de poesia. Em toda a parte.
Em um de seus poemas, Carlos Drummond de Andrade afirmou: “Se eu gosto de poesia?
Gosto de gente, bichos, plantas, lugares, chocolate, vinho, papos amenos,
amizade, amor. Acho que a poesia está contida nisso tudo. Heduardo Kiesse, através de sua poética, representa e comprova que o poeta tinha razão!
Espero que tenham gostado desta viagem nas poemografias de Heduardo Kiesse!
Ivana Schäfer
- Pedagoga com Habilitação em Orientação Educacional, Especialização em
Psicopedagogia e Cerimonialista. Sou Cuiabana de "tchapa e cruz", amo
minha terra, meu povo e a nossa cultura. Sou do Mato ....de Mato Grosso.
Página na internet: http://espiacuyaba.blogspot.com.br
2 comentários
Amo-te
Amo-te porque me fazes bem
Amo-te porque sem ti a vida não faz sentido
Amo-te porque antes de te conhecer já te amava
Amo-te porque respiro
Amo-te porque sinto o teu sentir
Amo-te porque o amor é fogo e tu és a minha chama
Amo-te porque caminho e sigo a tua luz
Amo-te porque sinto as tuas dores
Amo-te porque aprendi amar contigo ao meu lado
Amo-te porque amar é sonhar que estou vivo
Amo-te porque sei que me amas
Amo-te porque tu e eu somos um só
Amo-te porque sei que o céu existe
Amo-te da forma que um dia gostava de ser amado
Jorge Ferreira
Adorei poesias e imagens que vi por aqui, encheu-me a tarde de uma energia tão boa. Salve artistas que fazem a vida com maia cor! Saúde!
Postar um comentário