por Hugo Rodrigues
Meu canalha interior
transborda por meus olhares carnívoros. Por meus lábios entorpecentes. E por
meus caninos envenenados. Meu canalha interior grita em silêncio ao ver pernas
de fora, decotes exagerados e bocas carnudas. Ele não ama as corretas, nem as
puras, muito menos as santas. Meu canalha interior se apaixona repentinamente
por pequenas falsas, dissimuladas e putas que não cobram em moedas. Me dão seu
corpo em troca de carinhos rasos, de puxões fortes e de palavras insanas.
Meu canalha interior lê
Bukowski, John Fante e Nelson Rodrigues. Odeia comédias românticas melosas
demais ou versões do Nicholas Sparks. Meu canalha interior, às vezes – ou
sempre – , me odeia também. Odeia meu jeito são de lidar com as pequenas. Meu
canalha interior quer o sexo – com amor, sem amor, com nome, sem nome, tanto
faz. Tem que haver tesão apenas, ele diz.
Meu canalha interior vive
por minha roupa de baixo. Num canto perdido e escondido do mundo. Mas reina
sobre mim, vez em quando. Uma vodca à mais. Um palavrão aqui, uma mordida de
lábio acolá. Salta por minhas retinas e agarra, mesmo que apenas em meu
inconsciente, as pequenas de uma vez só. Eu tremo. Eu troco de assunto. Eu
chamo o garçom, o padre, Deus, minha mãe. Sei lá, porra.
Meu canalha interior não
sente frio, mas adora quando está envolvido pelos braços quentes das mulheres.
Meu canalha interior sente fome feminina. Hidrata-se de suor e gozo.
Alimenta-se de beijos, mordidas e tapas. Meu canalha interior descarta as
meninas que têm medo do pecado. Mas, ama sem pudor, aquelas que o chupa e o faz
sua bomba de oxigênio particular.
Meu canalha interior me
xinga toda vez que eu digo um “eu te amo” sincero, toda vez que eu me declaro a
alguém ou nas vezes que rejeito sexo por fidelidade aos meus sentimentos por
outra. Às vezes, meu canalha interior se disfarça de mim, que nem consigo
percebê-lo. Quando acordo, já estou nu ao lado de uma desconhecida com batom
borrado.
Hugo Rodrigues
Escritor, carioca e autor
dos romances “Um Sorriso de Oito Graus na Escala Richter”, "Mulheres,
Malditas Maravilhas" e "Na Décima Nuvem". Fã do Capitão Planeta
e da Zooey Deschanel, aprendeu na marra que ser romântico é não ter pudor como
quem se ama. Atualmente publica seus contos e trechos dos novos livros na página:
www.facebook.com/fanpagehr
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