AS MULHERES POETAS NA
LITERATURA BRASILEIRA (37ª POSTAGEM)
ADÉLIA MARIA (1940) poeta
paranaense, advogada e professora universitária. Participou de diversas
antologias. Estreou em livro em 1963 com a Balada do Amor Que Se Foi.
Seguiram-se Nhanduti(1964), Poesia Trilógica(1972), Encontro Maior e Avesso
Meu(1990), Infinito em Mim (2000) e Sons do Silêncio(2004). Algumas coletâneas
de seus poemas, em edição de bolso, tiveram tiragens raras (tratando-se de
poesia): 20, 40 e 120 mil exemplares.
Pássaro arisco,
a poesia resiste à prisão
na gaiola-poema.
INDAGAÇÃO
Vida:
jogo de xadrez.
Deverei aceitar,
resignada,
o limitado espaço
que me foi r eservado
nesse tabuleiro?
CONQUISTA
Joguei o laço,
ajustei o nó;
apertei o espaço
e segurei o tempo.
Onde e quando
agora não existem.
Basto-me eu só,
na insistência
em viver...
MEMÓRIA ATÁVICA
Em algum lugar
deste infinito mistério
- que é meu ser -,
a emoção primitiva
brilha
e reflete
a memória de todas as eras.
ALINE DE MELLO BRANDÃO(1947)
poeta paraense, é médica-neurologista e professora universitária. Já teve
alguns de seus poemas musicados e tem colaborado com jornais e revistas do Pará
e de outros Estados. Publicou os livros de poemas: Cantiga Geral de Amor (1984
- com o nome de Aline Carreira); Viola d’Água (1986); As Mãos do Tempo (1989)
ABSTINÊNCIA
Abstenho-me do pão
e sem luxo, sobrevivo.
Não trago o peito cativo
em luxúria sem paixão.
Porém preservo o tesão
de exercer com poesia
a fina flor do meu dia
sem pudor ou perfeição.
Eu penso que meu pecado
é não ter mais encontrado
a quem dei meu coração
tão antigo em novidades
tão moço nas descobertas.
O resto são veleidades,
letra tonta em linhas
certas!
FÊNIX
Renascida das cinzas dos
vestígios das horas,
no ensejo tão exato das
palavras
da poesia andarilha e
descalça,
perfumei os caminhos
onde bebi lágrimas em taças
de ausências.
Na barra da saia amarrei a
reza dos poetas sem medo
recolhi lampejos dos versos
que salvam
e escolhendo as cores
cuidadosamente,
preparei a transparência
inteira desse manto
que me recobre a alma.
CAMINHO, SEMPRE CAMINHO
Caminho, sempre caminho
por velhas novas palavras
por grandes pequenos feitos,
retalhos do dia-a-dia
Atalhos, sempre evitados
como recuso calçados.
Os pés – desnudos – no chão.
Letras brotando na mão.
CENA
o povo empresta o nome e o
pretexto
para o discurso e gozo do
político
o povo exibe o prato e a
fome nua
para o comício/vício do
poder
o povo enreda o tema para um
samba,
passeia suas dores nos
refrões
o povo aprisionado nos
decretos
consome ofícios petições
detritos
do complicado jogo de
esticar
o ordenado pra abranger as
contas
mas sendo gente, sangue
insubmisso,
um dia inverte a sina e se
descobre.
MIRIAM PORTELA (1954) poeta
catarinense, ficcionista e jornalista. Vive em São Paulo desde 1973, é formada
pela ECA e durante muito tempo trabalhou em televisão, nas mais diversas
funções. Atualmente produz vídeos e documentaries para empresas e tevês.
Publicou mais de vinte livros. Eis
alguns títulos: O Continente Possuído(1987), No Fundo dos Olhos(1993), Nos
Mares de Vênus(2002).
LOUCURA
Ela olhou-me no fundo dos
olhos
lambeu minha alma
como os animais à cria
e me disse:
- se a vida se tornar
insuportável
eu te dou abrigo.
GOLES LÚCIDOS ANUNCIANDO
ETERNIDADES…
Bebo da vida
goles
basta de alucinações
não tenho tempo
para embriaguez.
Quero restar
Sóbria
Para não ofender
Os instantes.
Os anos passam
Passaram
Eu não os vi
Outros gastei-os
Com dores fúteis.
Assim
me vejo
Transportando
Idades
Que não vivi.
Da vida
Apenas goles
Lúcidos
Anunciando
Eternidades.
JURAMENTO
Juro nunca mais
Resistir à poesia
Mesmo que ela
Crave suas unhas
Em minha pele branca
E me abandone
Em noite alta
Insana e nua.
Juro nunca mais
Desistir da poesia
Mesmo que ela
Cubra meu colo
De palavras
E me obrigue
A bordar com elas:
Anêmonas
Plânctons
Cósmicas
Redondilhas.
Juro nunca mais
Me negar à poesia
Mesmo que ela
dispa da minha alma
a lucidez
e me deixe infante e tola
a rodar. a rodar, a rodar
alegremente.
O HÓSPEDE
Mora em minha casa
um poeta louco
cansado de seus excessos.
Nos seus desvarios
ele me fala de aventuras e
de sonhos.
Nos momentos de lucidez
descreve territórios e
pátrias
em que já viveu.
Mora em minha casa
um poeta velho
exausto de eternidade.
Na sua loucura mansa
cultiva canteiros
de girassóis e miosótis
que esmaga com fúria nos
momentos de dor.
e toda luz o cega
fazendo-o chorar lágrimas
excessivamente salgadas.
De vez em quando
ele me toma nos braços
e dançamos noites seguidas:
ele embriagado pelos escuros
e eu fascinada por sua
embriaguez.
Mora em minha casa
um poeta rude
que grita impropérios e
rasga com suas unhas sujas
de terra
os versos recém nascidos.
De vez em quando
em suas mãos crestadas pelo
sol
ele me oferta o gosto do sal
trazido do mar do norte
e em sua pele áspera
cortada pelos ventos gélidos
do ártico
desenha rios e fiordes.
Mora em minha casa
um poeta triste
como um menino órfão
a exigir carícias
a cobrar afetos
tantos
Vive em mim
um poeta
e eu o protejo.
MÁRCIA PELTIER (1958) poeta
carioca, jornalista, tornou-se conhecida como apresentadora de TV (Manchete,
Globo, SBT). Já publicou livros infanto-juvenis, crônicas e poesia. Estreou em
1986 com Poética(mente)-Vida e sobrevida de um poeta. Seguiram-se As Garras do
Mel(1989) e As Ilhas de Betacam(1991).
TV-VIDA
Queria se editar na vida.
Tirar os maus pedaços.
Enxugar as passagens mal
resolvidas.
E
Fazer a vida em
contraplanos perfeitos.
Não deu.
A vida é
Ao vivo.
CORDILHEIRA
Essa cordilheira que se
estende pelo meu corpo
Já virou mar.
Como o sertão,
Vivo afogada em meus ossos.
INSOLÚVEL
Não quero ser ímpar
Nem par.
Par tem sempre o outro
Ímpar não tem ninguém.
Não quero ser direita
Nem avesso.
Direita exige costuras
certas
Avesso, costuras corretas.
Não quero brilho
Nem opacidade.
Brilho fere.
Opacidade emburrece.
Não quero nada que me
transtorne
Nem me torne.
Nem cá, nem lá.
Sou assim.
Algo meio sem jeito,
IN-BETWEEN,
No meio do eu e do mim.
NATUREZA
O mais espantoso em Betacam
É a solidão da natureza.
Ilhas com apenas uma
palmeira eletrônica
Tão longe umas das outras
Que não se consegue colocar
uma rede!
Rubens Jardim,
67 anos, jornalista e poeta. Foi redator chefe Gazeta da Lapa e
trabalhou no Diário Popular, Editora Abril e Gazeta Mercantil.
Participou de várias antologias e é autor de três livros de poemas:
ULTIMATUM (1966), ESPELHO RISCADO (1978)e CANTARES DA PAIXÃO (2008).
Promoveu e organizou o ANO JORGE DE LIMA em 1973, em comemoração aos 80
anos do nascimento do poeta, evento que contou com o apoio de Carlos
Drummond de Andrade, Menotti del Picchia, Cassiano Ricardo, Raduan
Nassar e outras figuras importantes da literatura do Brasil. Organizou e
publicou JORGE, 8O ANOS - uma espécie de iniciação à parte menos
conhecida e divulgada da obra do poeta alagoano. Integrou o movimento
CATEQUESE POÉTICA, iniciado por Lindolf Bell em 1964, cujo lema era: o
lugar do poeta é onde possa inquietar. O lugar do poema são todos os
lugares... Participou da I Bienal Internacional de Poesia de Brasília
(2008) com poemas visuais no Museu Nacional e na Biblioteca Nacional.
Fez também leituras no café Balaio, Rayuela Bistrô e Barca Brasília. E
participou da Mini Feira do Livro, com o lançamento de Carta ao Homem do
Sertão, livro-homenagem ao centenário de Guimarães Rosa. Teve poemas
publicados na plaquete Fora da Estante, (2012), coleção Poesia Viva, do
Centro Cultural São Paulo. Páginas na Internet: Site: Rubens Jardim e Facebook: Rubens Jardim
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