10 Considerações sobre A
Suavidade do Vento, de Cristovão Tezza ou porque encontrar um ponto ótimo
por Douglas Eralldo
Artigo publicado Listas Literárias
O Blog Listas Literárias leu
a edição definitiva de A Suavidade do Vento, de Cristovão Tezza publicado pela
editora Record, e neste post publica suas 10 considerações sobre o livro,
confira:
1 - A Suavidade do Vento ao
mesmo tempo que parte de um tempo físico é também um mergulho psicológico numa
personagem extremamente complexa e atormentada cujos "monstros" lhe
aprisionam de tal forma que J. Matozo estabelece uma verdadeira jornada da
mediocridade tendo sua vida totalmente dirigida por seus anseios, e claro, seu
livro, A Suavidade do Vento. E tudo isso torna a obra de Tezza densa e
impactante ao modo que nos descortina J. Matozo e suas desventuras;
2 - Ambientado nos anos 70
numa pequena cidade do interior paranaense, o livro narra a história de J. Matozo,
um amargurado e estranho professor de português as voltas com a publicação de
seu livro, A Suavidade do Vento. Para além da jornada psicológica desta
personagem, o livro narra as relações sociais deste pequeno lugar, os
comportamentos e a delicadas relações que se criam, num lugar que sonha com o
futuro por causa da notícia da construção de Itaipu, e cujas aventuras sexuais
e financeiras acontecem do outro lado da fronteira, no Paraguai;
3 - Embora uma linguagem
simples, a compreensão total da obra exige dos leitores atenção aquilo que não
está dito explicitamente, pois indo além do que está narrado, cada detalhe da
narrativa constitui seu todo de tal forma que as nuances e as coisas não-ditas
são de fundamental importância para o livro;
4 - Aliás, o livro é muito
interessante também no que diz respeito à técnica narrativa. Primeiro porque
seu prologo e sua "cortina" desprendem-se da trama, pois ali está a
voz em primeira pessoa do narrador que espera e depois reúne todas as suas
personagens para uma nova viagem. Depois temos em si, o romance em que o
narrador numa voz em terceira pessoa busca intimidade com o leitor. Nesse
quesito duas outras artes parecem somar-se à literatura, o teatro, evidenciado
já pela divisão do romance em atos, além do próprio narrador que conta como se
apresentasse uma peça, ou ainda como se fosse alguém levando o leitor a
observar quadros de sua narrativa como se este estivesse assistindo a uma
montagem cinematográfica. A estrutura narrativa de A Suavidade do Vento é uma de
suas coisas mais interessantes;
5 - Quanto a trama em si, a
constituição completa de J. Matozo torna-o literalmente palpável. Um homem
atormentado, o que fica explícito em seus monstros e na necessidade de
construir seu ponto ótimo. Uma personalidade autodestrutiva que não se encaixa
no mundo, talvez por isso sua natureza tão filosófica e ébria, pois Matozo além
de atormentado, certamente ganharia uma cadeira no hall da fama das mais
embriagadas personagens literárias;
6 - De certa forma há na
constituição de Matozo algo freudiano, pois também logo ficará claro ao leitor
que há questões diretamente relacionadas à sexualidade do protagonista que
fazem parte deste intricado quebra-cabeças que ele é;
7 - Mas ainda que por um
terreno cheio de complexidades, A Suavidade do Vento é, perdão o trocadilho,
uma leitura suave, dosada com certo humor depressivo que nos faz compadecer
pelas agruras de J. Matozo, alguém que de certo modo, embora em sua jornada
pela mediocridade, acaba encontrando seus espaço no mundo;
8 - Outra questão
interessante no livro é a relação criativa que o autor apresenta através de J.
Matozo. Aos que criam, escrevem, sonham publicar um livro, certamente verão um
pouco de si em Jota Mattozo, a relação do autor com sua escrita, as
expectativas, as frustrações... tudo que às vezes permeia um escritor está
presente na constituição de Matozo;
9 - Por tudo isso, o livro,
uma tecitura sensível e impactante, cumpre com o papel que é da literatura, nos
entregando uma obra cujas virtudes a tornam extremamente relevante, seja pelo
próprio conteúdo da narrativa, seja pela forma virtuosa da estética com a qual
o autor nos apresenta a narrativa;
10 - Enfim, falar de um
livro já consagrado, sem cair na mesmice ou trazer coisas novas, é sempre
complicado, por isso creio que o que importa dizer é que o livro é simplesmente
um ótima leitura, seja para quem simplesmente deseje ler um romance, seja por
que deseje por mais que apenas uma história. A Suavidade do Vento com justiça
colocou Cristovão Tezza entre os grandes romancistas contemporâneos.
Fonte:
Douglas Eralldo, nasceu em Santa Cruz do Sul RS em
1980, e reside em Pantano Grande/RS. Autor, além de escrever para jornais,
atualmente colunista do Jornal Destak, designer freelancer, e escritor.
Publicou textos na Seleta de Versos 13 (2001, Editora Borck), na antologia
Noctâmbulos (2006, Andross), e em 2011 lançou seu primeiro livro, o romance de
horror e suspense, Morgan: o único pela Editora Literata.
Assinar:
Postar comentários
(
Atom
)
Nenhum comentário
Postar um comentário