AS
MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA (45ª POSTAGEM)
ANGELA LEITE DE
SOUZA(19 ) poeta mineira, trabalhou por
cerca de 30 anos em diversos órgãos da imprensa brasileira. Publicou dezenas de
livros, a maioria na área infanto-juvenil. Com o livro de poemas Estas muitas Minas,
conquistou o prêmio Casa de las Américas de Literatura Brasileira, de Cuba, em
1997. Estreou com Amoras com Açucar (1982). Publicou também Lição das horas, e
Entre linhas, recém-lançados.
TUDO
A paz humana jaz
nesse teu peito sem tréguas.
Amansa a ânsia.
Despe o desejo.
Verga a vaidade.
Sonda a solidão.
Aquieta tuas águas turvas
para ver-lhes o fundo.
Despoja-te de tudo
Até seres só amor.
Até seres tudo.
PAISAGEM
Serpentina dourada
pelos últimos raios
o rio, lá embaixo, se
despede
do olhar efêmero
dentro do avião.
Captamos atônitos
sua líquida beleza.
Mas no quadro da janela
já ficou amarela
a fotografia
dessa emoção.
(SEM TÍTULO)
Afundo-me nestes retalhos
perco-me em tantos trabalhos
lavar quarar-engomar
tecer cortar e coser
cascar afogar ferventar...
Ai, vida de alinhavos
labuta de brasa e broa
faina agridoce
em fogo brando.
Aí, tempo não fosse
bica pingando
cancela que desse
pro amanhã.
Mas tudo é ferrolho
e picumã.
(SEM TÍTULO)
Meu desejo
agora:
não ter nenhum desejo
ou antes
ter a gula
de um cantar de galo
fora de hora
só pelo gosto
de despertar
neste peito gasto
alguma aurora.
ROSANGELA DARWICH(1962)
poeta paraense, formou-se em psicologia, em 1984, pela Universidade Federal do
Pará, e exerce a profissão de professora de psicologia da Universidade da
Amazônia. Possui doutorado em psicologia e é autora de Quando Fernando VII Usava
Paletó (1982); Levasse as Coisas na Flauta (1988); Histórias Mortas (1993).
Às vezes estou aflita,
outras estou tendo dois ou
três sentimentos ao mesmo tempo.
Não caibo em meus
pensamentos e eles desconsideram isso.
Estar viva não significa que
aceito.
Às vezes me sinto como se
aceitasse,
outras estou tendo dois ou
três outros sentimentos.
Ainda que ninguém perceba,
existe um lago com patos
cinzas e esverdeados dentro de mim.
Às vezes um dos patos morre,
às vezes acontecem
nascimentos óbvios, seres pequenos de dentro de ovos.
Eles nadam, eu aconteço.
(SEM TÍTULO)
Posso te dar uma sala cheia
de livros para que sejas um
dentre os meus livros nessa
sala tua.
Posso te dar a alma que
eleva um poema
e, além dela, um corpo de
palavra.
Queres ir de um estado
sólido, frígido,
à incandescência da página?
Queres ser o rastro dessas
letras fechando a minha mão?
Serás eternamente o que quer
que sejas desde o início,
livre de tempo e destino. Me
verás passando
como se ainda sonhasses.
Como se ainda sonhasses,
não te surpreenderás comigo.
(SEM TÍTULO)
Quando aceitei o fato de que
a Terra não é apenas redonda
mas está solta no espaço,
girando em torno do sol e de si mesma,
fiz do céu uma primeira aula
de irrealidade.
Olho os meus pés sobre o
chão e tento me ver azul
como sei que sou azul quando
desapareço ao longe.
Avanço além do que percebo
porque me movo através de palavras
e fiz delas, portanto, uma
segunda aula de irrealidade.
A seqüência de números pode
indicar que insisto em meus erros
porque quero o absurdo que
dispensa a lógica.
Cada astro em sua órbita,
cada som com um sentido,
é possível que a terceira
aula de irrealidade seja a última,
assim como é possível que
não seja.
(SEM TÍTULO)
Há dias para as palavras
e dias mudos.
Celas entre vozes e
silêncio,
há dias impenetráveis
e dias cúmplices.
Sob profecias e arbítrios,
há dias só para os deuses
e dias que se interrogam
como qualquer homem.
LISBETH LIMA DE OLIVEIRA
(1963) poeta paraibana, formada em jornalismo pela Universidade Federal da
Paraíba. Fez especialização em língua e literatura francesa e mestrado em
biblioteconomia. Morou quatro anos e meio na França. Desde 1998 mora em Natal.
Publicou os livros de poemas Dormência (2002), Felice(2004) e Româ (2008).
Torres gêmeas
Da construção gemelar.
pedaços homozigotos de pedra
e gente.
Diligente
Desliza ágil, qual dedos
sobre cetim,
o grafite.
E desenha.
E rabisca.
Mas é quando escreve palavra
que ele se mostra veloz,
quase indomável,
como são as palavras quando
querem ser lidas.
Incendiário
Debandaram pássaros,
bichos de arribação.
Flores queimadas na estrada
não se deixaram cheirar.
Um amor perdido, negado,
devasta,
abre clareiras.
É invasivo o fogo da
ausência.
Encontro
Trouxe-me a chuva.
E, depois dela,
céu aberto, anil.
Trouxe-me a noite.
E, dentro dela, seu corpo
chuviscado,
amanhecido junto ao meu.
Dia claro, céu aberto.
abril.
ANA PELUSO(1966) poeta
paulistana, é designer gráfica e possui participação em algumas antologias.
Abandonou Letras e Psicologia pelo Desenho Publicitário. Não deu certo. Aos
treze anos sonhava ser Alquimista. Aos cinco, Bailarina, Pianista, Pintora. Aos
sete, Professora. Escrevia Diários. Publicou, recentemente, o livro 70 poemas
SEM TÍTULO
É produtivo fabricar tijolos
um tijolo sozinho pode ser
obra de arte
com mais alguns é parede, é
quarto, sala.
raro dizer poesia a céu
aberto
e só bate sol no coração
quando se atravessa tijolos
e é você do outro lado
não me lembro de já ter
visto tantos tijolos
nem de nada
como quando você perguntou o
nome de uma estrela
olhando diretamente pra ela
SEM TÍTULO
Primeiro transformou a casa
em uma casa menor
por isso dobrou a casa
depois transformou a casa em
uma menor ainda
e por isso dobrou de novo
até perceber que morava em
um origami
de pássaro
só porque a casa voou
TEMPO
O tempo
tem
dono.
O tempo
tem
sono.
O tempo
faz
temporal
Na madrugada.
E a hora
já passada,
de tanto
passar
passou
da medida.
O tempo
não tem
saída.
VERSOS SOLTOS
Os versos
são soltos.
Os pensamentos
também.
Apenas poeira
ao vento,
nada de fundamento.
Nada de especial.
Centelhas elétricas,
as palavras
ficam no éter
Rubens Jardim,
67 anos, jornalista e poeta. Foi redator chefe Gazeta da Lapa e
trabalhou no Diário Popular, Editora Abril e Gazeta Mercantil.
Participou de várias antologias e é autor de três livros de poemas:
ULTIMATUM (1966), ESPELHO RISCADO (1978)e CANTARES DA PAIXÃO (2008).
Promoveu e organizou o ANO JORGE DE LIMA em 1973, em comemoração aos 80
anos do nascimento do poeta, evento que contou com o apoio de Carlos
Drummond de Andrade, Menotti del Picchia, Cassiano Ricardo, Raduan
Nassar e outras figuras importantes da literatura do Brasil. Organizou e
publicou JORGE, 8O ANOS - uma espécie de iniciação à parte menos
conhecida e divulgada da obra do poeta alagoano. Integrou o movimento
CATEQUESE POÉTICA, iniciado por Lindolf Bell em 1964, cujo lema era: o
lugar do poeta é onde possa inquietar. O lugar do poema são todos os
lugares... Participou da I Bienal Internacional de Poesia de Brasília
(2008) com poemas visuais no Museu Nacional e na Biblioteca Nacional.
Fez também leituras no café Balaio, Rayuela Bistrô e Barca Brasília. E
participou da Mini Feira do Livro, com o lançamento de Carta ao Homem do
Sertão, livro-homenagem ao centenário de Guimarães Rosa. Teve poemas
publicados na plaquete Fora da Estante, (2012), coleção Poesia Viva, do
Centro Cultural São Paulo. Páginas na Internet: Site: Rubens Jardim e Facebook: Rubens Jardim
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