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Cena do documentário "White balls on walls", de Sarah Vos - Foto: White Balls on Walls/Zeppers Film/NTR |
Museus buscam arte para além dos "homens brancos"
Novo diretor constatou: mulheres, negros e outras etnias eram quase ausentes no acervo de museu de arte contemporânea holandês. Com quotas, diálogo ou novas concepções, instituições perseguem meta da diversidade.
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Assim que assumiu a diretoria do Stedelijk Museum Amsterdam, em dezembro de 2019, Rein Wolfs logo pôs mãos à obra a fim de tornar mais diversos e inclusivos o acervo e o pessoal da conceituada instituição cultural holandesa. E durante três anos a cineasta Sarah Vos acompanhou o processo.
Sua câmera observou Wolfs, ex-diretor do museu Bundeskunsthalle, em Bonn, trabalhando com seus funcionários para avaliar o escopo da coleção e dos projetos de exposição do Stedelijk.
A decepcionante conclusão foi que 90% eram "coisa de homens brancos": menos de 10% das peças eram de mulheres. Obras de artistas negra/os, indígenas ou de outros grupos étnicos não brancos (BIPoC, na sigla em inglês) eram mais raros ainda.
O documentário resultante, White balls on walls (Bolas brancas em paredes), não só questiona o nível de diversidade do museu de arte moderna e contemporânea da capital da Holanda, mas se aprofunda para entender a função da arte na sociedade.
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Museu Stedelijk de Amsterdã se especializa em arte moderna e contemporânea - Foto: Ramon van Flymen/ANP/picture alliance |
Navegando a busca da diversidade
Wolfs comenta que, no passado, as instituições culturais "não pensavam fora da caixa o suficiente". Em contraposição, ele quer que o Stedelijk pense de modo mais global, alinhando sua concepção de diversidade à estrutura populacional de Amsterdã: "Afinal, queremos que todo mundo tenha a oportunidade de encontrar sua própria história e seus próprios momentos de identificação."
A discussão sobre uma nova concepção de mostras levanta questionamentos: diversidade pode e deve ser quantificada através de palavras e quotas? A origem e gênero da/os artistas deve influenciar a avaliação das obras?
A equipe do Stedelijk acordou quanto a uma quota: de 2021 a 2024, pelo menos 50% do orçamento para aquisições deve ser dedicado a obras de negros indígenas e não brancos.
Não há quotas fixas para mulheres, prossegue Wolfs, porém gênero é um dos fatores no processo de seleção. Além disso, deve haver pelo menos uma mostra anual com artistas de etnias não ocidentais-brancas ou uma coletiva abordando diversidade.
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Antes do Stedelijk, Rein Wolfs dirigia o Bundeskunsthalle de Bom - Foto: Sander Koning/ANP/picture alliance |
Museus etnológicos: lar natural da diversidade
A diversidade desempenha um papel inerente nas institiuições etnológicas que apresentam artefatos e objetos de arte de todo o mundo, como o Museu das Culturas do Mundo de Frankfurt. Ele se centra em povos indígenas que são minorias em seus países de origem, explica a diretora Eva Raabe. Outro foco do acervo e das exposições são obras de mulheres, crianças e indivíduos queer.
Segundo Raabe, não se trata de quotas específicas, mas da mensagem que a/os artistas querem passar com suas obras. "Através de sua arte, que é uma expressão de suas opiniões, suas necessidades, ela/es nos contam sobre a realidade de suas vidas": ao incluir uma ampla variedade de perspectivas, a seleção é inerentemente diversa.
Por sua vez, o Kindl – Centro de Arte Contemporânea, de Berlim, se empenha por um programa de exposições altamente diversificado", explica a diretora Kathrin Becker.
"Eu também tenho uma missão pessoal aqui, a qual partilho com muitos colegas de Berlim e de outras partes, que é alcançar uma multitude de vozes na apresentação da arte contemporânea." Nesse aspecto, tanto a identidade de gênero quanto o histórico étnico e socioeconômico são importantes.
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Em exposições "multiperspectiva", Museu das Culturas do Mundo de Frankfurt apresenta alternativas ao eurocentrismo - Foto: Boris Roessler/dpa/picture alliance |
Incentivo ou ofensa aos artistas?
Mas nem todos os artistas se mostram entusiasmados com essa abordagem: "Eu acharia quase uma ofensa se o Stedelijk fizesse um mostra da minha obra por estar em busca de artistas BIPoC", comenta o escultor surinamense-holandês Remy Jungerman em White balls on walls.
O diretor Wolfs diz não saber de artistas que se recusem a expor em seu museu por causa das quotas. Por outro lado, não se surpreende com as críticas a essa estratégia por mais inclusividade, tendo escutado acusações de que o Stedelijk de Amsterdã estaria colocando sua agenda política à frente da arte.
"Somos considerados 'woke' [gíria americana para 'alerta a preconceitos e discriminação'], e hoje em dia isso é palavrão. Recebemos muitos elogios, mas também um monte de críticas. Mas isso é meio parte desta instituição: somos um museu que está sempre bastante na linha de frente."
Wolfs vê uma tendência à diversidade praticamente por toda parte; não só nos museus como na política cultural e nos movimentos sociais. Também segundo Kathrin Becker, do Kindl, os diretores de museus estão cada vez mais procurando contrapor novas ideias aos acervos "muito ocidentais e eurocêntricos", inclusive convidando artistas que "não representam a arte ocidental".
Quer a diversidade seja assegurada por quotas, alcançada pelo diálogo ou criada em exposições com perspectivas múltiplas, a consciência sobre a questão parece estar provocando mundanças. Como resume Eva Raabe, do Museu de Culturas do Mundo de Frankfurt: "Na verdade, sempre se pode fazer mais para dar uma voz aos grupos menores."
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