Sponsor

AD BANNER

Últimas Postagens

PAULO FREIRE: “QUEM NÃO ESCUTA, ACABA GRITANDO PARA IMPOR SUAS IDEIAS.”

Paulo Freire
Paulo Freire: "Quem não escuta, acaba gritando para impor suas ideias."

“ O educador deve estar imerso na experiência histórica e concreta dos alunos, mas nunca de uma forma paternalista que o leve a falar por eles, mas sim a ouvi-los verdadeiramente.”
Paulo Freire

Artigo do filósofo e educador brasileiro Paulo Freire.

_______________________________________
Por: Paulo Freire

Para continuar com essas reflexões, quando iniciei os programas de alfabetização, há cerca de trinta e cinco anos, já vivia com muita intensidade e vivenciava uma das virtudes necessárias do educador democrático, que é saber ouvir; isto é, saber ouvir um menino ou uma menina negra com sua linguagem específica, com sua sintaxe específica; saber ouvir o agricultor negro analfabeto; saber ouvir o aluno rico; saber ouvir os chamados representantes das minorias, que são basicamente oprimidos. Se não aprendermos a ouvir essas vozes, não aprenderemos realmente a falar. Só fala quem ouve. Quem não escuta acaba gritando, vociferando linguagem para impor suas ideias. O aluno que sabe ouvir implica um certo tratamento do silêncio e dos momentos intermediários de silêncio. Aqueles que falam democraticamente precisam silenciar-se para permitir que emerjam as vozes daqueles que devem ser ouvidos. Vivi a experiência do discurso de quem escuta e percebi que o trabalho educativo a seguir exigia criatividade e humildade. É um tipo de trabalho que envolve correr riscos que quem foi silenciado não pode correr.

Em outras palavras, nada disso faria sentido pedagógico se o educador não compreendesse o poder da sua própria fala para silenciar os outros. Por isso, compreender o poder do silenciar implica desenvolver a capacidade de escutar as vozes silenciadas para começar a buscar caminhos – táticos, técnicos, metodológicos – que facilitem o processo de leitura do mundo silencioso que está em íntima relação com o mundo vivido pelos alunos. Tudo isto significa que o educador deve estar imerso na experiência histórica e concreta dos alunos, mas nunca de uma forma paternalista que os leve a falar por eles, mas sim a ouvi-los verdadeiramente.

O desafio reside em nunca entrar de forma paternalista no mundo dos oprimidos para salvá-los de si mesmos. O desafio está em nunca idealizar o mundo dos oprimidos de forma a mantê-lo vinculado às condições idealizadas para que o educador, por sua vez, mantenha sua posição de ser necessário ao oprimido, de “servir o oprimido ou encarando-o(a)” como um herói romântico.

Por exemplo, há quarenta anos, parte da minha geração – meus pares – no Brasil, expressou um grande amor pelos oprimidos daquela época, amor colorido pela idealização dos oprimidos. Levados por esse amor, abandonaram as cátedras acadêmicas e foram morar nas favelas. E no final perdemos acadêmicos potencialmente muito bons e ganhamos “favelados” não tão bons. Porque eram turistas. Eles sabiam – e os seus vizinhos pobres também sabiam – que poderiam sair dali a qualquer momento. Mas eles assumiram o papel de falar aos pobres sem ouvi-los. Este é o problema que analisei em Pedagogia do Oprimido quando critiquei os membros da classe média que embarcaram na luta revolucionária sem, primeiro, terem aprendido a ouvir aqueles em cujo nome a luta revolucionária deve ser travada.




__________________________________
Texto publicado originalmente em lingua espanhola no site Bloghemia.
Tradução livre para a língua portuguesa feita pela Revista Biografia

Nenhum comentário