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Lúcia Constantino - [Poeta Brasileira]

Lúcia Constantino nasceu em Curitiba. É professora e tradutora. Em 2005, publica o livro de poemas “Asas ao Anoitecer”, sob incentivo da Fundação Cultural de Curitiba e da empresa Electrolux, com prefácio da poeta, contista e tradutora Olga Savary (RJ). Tem vários poemas publicados em antologias, revistas literárias e um livro virtual de poemas na língua inglesa (“Across the Garden”) . Seus autores preferidos na poesia são Mário Quintana, Cecília Meireles, Olga Savary, Lorca, Emily Dickinson e na prosa Lya Luft, Marguerite Duras, entre outros. É também profunda estudiosa da obra de Saint-Exupèry há muitos anos, tendo sido redatora do programa e consultora da peça O Pequeno Príncipe, vencedora do Troféu Gralha Azul de Teatro do Paraná. Sua grande paixão na vida sãos os animais, por quem trava uma luta diária de conscientização em prol de tratamento e vida digna aos que considera nossos irmãos em Deus.

Endereços na net:

UMBRAIS

O meu espírito revolta-se na carne.
E os meus ossos são galhos cansados
dobrados às chuvas argilosas
dos anoiteceres.

Estou com sono sobre os abismos.
Talvez tenha que cair, pra me existir
e aterrar o fundo de mim mesma.
Para repensar o abrigo das sementes
que se dispersaram nos umbrais.
E destruir a petrificação dos pensamentos
sobre as flores do caminho.
Meus monossílabos são o saldo do verbo
que Deus me deu por direito
como dobre de sinos em tempos de ressurreição,
ecoando pelas colunas de mim mesma,
e, às vezes, na treliça que separa os dois reinos:
o das águas dos olhos
e o da aurora inexorável.


DESSE SILENCIO


Desse silêncio

nasceu essa flor vazada

na cor da tua alma,

onde pousou o pássaro selvagem

em migração, emplumado de céu

buscando atravessar as nebulosas

de tua consciência.

Se perfumas os caminhos,

quando choram as roupas sobre a pele

e nos teus olhos repousam as solidões

das eras,

é porque a esperança e a saudade

em ti construiram seu templo

onde a vida ainda respira

apesar de todos os pós

precipitados sobre o teu rosto.



Ainda refloresço-me a cada dia

nos vales claros dos teus olhos.


DENTRO DA NOITE

Fui lançada e revelada

diante das quatro faces do sol

quando em meus olhos esse mar morto

dedilhou sua efêmera canção

nas águas das profundezas de minha alma.

A candeia oscilou, mas ainda estou aqui.

Doze mil pensamentos peregrinos

preparam-me um jardim lá fora

sob estrelas pastoras.

Nada direi aos cães (anjos) e aos profetas (deuses)

porque nem perto nem longe está a luz verdadeira.

Tudo é uma consciência de nuvem à procura

de sua pousada na terra

para dispersar a saliva de Deus

que se deixa harpear

em rostos, raízes e flores.


ROSTO

Em cada raio de luz

um pensamento que ascende.


Em cada palavra escrita

uma fonte que jorra

nascendo dos olhos.


Em cada sorriso

a inocência das asas.


E a alma é essa carregadora de silêncios

forjando nascentes e poentes

para eternizar suas raízes

num solo incognoscível.



CAMINHOS

Uma paisagem, uma via?

Um caminho a percorrer?

Não há uma rósea lua

em cada anoitecer?


Quero minha alma num só caminho

nos mesmos lugares

onde passam os séculos,

sem que de mistérios ou vinhos

eu precise

ou de qualquer séquito.


Sou pássaro em confidência

de asas molhadas,

nas tardes necessitadas

de presenças.


E para onde o céu me grita

-humana és mas de força infinita!

irei, em passos lentos,

levando unicamente o que herdei

das leis dos meus moinhos de vento.

Lúcia Constantino
Todos os Direitos Autorais Reservados a Autora

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