Meu nome verdadeiro não é esse, mas quando
escrevo sou Krika Gomes Nunes, ou
simplesmente krika. Nascida e criada em Lorena, onde ainda moro, uma cidade do
Vale do Paraíba, interior de São Paulo, também
conhecida como “terra das palmeiras imperiais”, sou casada, mãe e avó, formada
em Letras, com habilitação em língua portuguesa e suas respectivas literaturas
e pós-graduada em textos literários, ambas pela Fatea,-
Faculdades Integradas Teresa D’Ávila, também em Lorena. Fui professora na Rede
Pública como eventual e professora contratada nas Etecs de Lorena e de
Cachoeira Paulista. A escrita percorre minhas veias, meus sentidos e meus
pensamentos, escrevo por paixão, as palavras me buscam, se achegam e contornam
meu dia, sou totalmente embalada por elas.
Meus textos estão no meu blog:
Era uma vez...
Havia uma
tranquilidade, uma sensação de paz naquela pastagem, naqueles morros à beira do
caminho, parecia que tempo havia parado, a vida havia parado, o dia havia
parado e que o sol sorria para o cenário e que o verde havia se esgotado num
azul indecifrável: um cenário de sertão, natural, que de tanta beleza, fazia
doer uma saudade sem tamanho: saudade de infância pisando sobre o capim num
campo livre, liberto das amarras das conveniências inconvenientes de ser adulto
em terra de criança.
krika 11/08/2011
Pretéritos do
Eu
Minhas ambiguidades escondem meu ser, que não é nem
foi, em nostálgicos pensamentos, em atitudes e palavras, versadas em prosa, sem
nenhuma poesia...
Meus versos sustentam as intenções de resgate,
restaurações imperfeitas de um ego em chamas, dualístico, sem fronteiras, sem
medidas e sem palavras, um ego em versos.
Minhas análises, neste mundo caótico, transportam
angústias trazidas de antes, tomadas internas prevendo um depois, que talvez
não exista.
Meus sentimentos são agredidos a cada incoerência
humana contra o humano, em nome da fé, da razão e do próprio amor.
Minhas verdades são desmentidas a cada violência
residente no cotidiano dos dias, registrada nas estatísticas de uma suposta
sobrevida.
Meus desejos não têm mais vontades e meus medos
concretizam a fúria insana dos sentidos desnorteados na escrita necessária.
Minhas ambiguidades revelam meu ser, que já foi e
já é, nos portões da nostalgia, nas muralhas desprotegidas, sem intenções que
resgatam, sem restaurar o perfeito, sem proferir a palavra, apenas verso e ego.
krika 09/08/2011
Pretéritos
da Saudade
Minha jornada, por vezes sombria, por vezes às
claras, revela meus caminhos, meus passos, minhas escolhas, minhas parcerias,
mas não revela o inteiro de mim. Sou desdobrada a cada passo em direção ao meu
norte, por vezes centrado, por vezes desnorteado em dores silenciadas na
reclusão do meu ser. A cada dia, renovadas as esperanças pelo sol que nasce,
arbitrário, mesmo sob nuvens escuras, caminho. Nada o apaga, nada o impede de
nascer, e eu? Eu-poente. Sinto saudade dos passos e das parcerias deixadas ao longo
do caminho, dos ombros que me ampararam, das mãos que me conduziram, da voz que
uma violência silenciou para sempre... Eternas saudades! Tento eternizar o
cenário nas passadas solitárias. Ouço os passos paralelos e sigo a trilha.
Mergulho nas mesmas águas dos meus rios, faço as travessias e acompanho a vida
de perto, com fome de viver. Não sou a mesma, nem sou diferente. Envelheço meus
versos e renovo os sentidos. Palavras não são gastas pelo uso, é o sentido
nelas contido que se esgota.
Pretéritos
do sagrado
Havia um silêncio pacificador, perceptível do lado de fora, alheio aos
barulhos do lado de dentro, sob o céu azul brilhante. A respiração podia ser
ouvida, reveladora das orações aflitas, agradecidas, resignadas de cada ser
presente ali. A fresta de luz, pelas janelas laterais, dava um ar mais que
celestial, Divino e revelava a fragilidade, que busca colo, amparo e direção.
Os bancos em madeira escura e antiga deixavam a sensação de tempo atemporal e
sentados, todos, no mais absoluto silêncio, escutavam a si mesmos. A presença
do Sagrado preenchia todo o lugar, apaziguando as dores, enxugando as lágrimas
e acolhendo a todos na mais intensa manifestação de amor paterno.
Minhas Humanidades
Há momentos em que sou esse sol, rasgando o cinza, rompendo a manhã, um
arauto dourado sobre o verde do deserto planetário, que sobe morros e desce
colinas encantadas, aquecendo a pele, enxugando as águas das dores e de alguns
amores, ensolarando o viver.
Há momentos em que sou o cinza, que esconde o sol, que não abre o dia,
que espalha o fel, que destrona a manhã, que não sobe morro, nem desce a
colina, desencantada, de pele fria e derramo as águas das dores e de alguns
amores, grisalho sobreviver.
Mas há momentos em que sou o céu que abriga o sol e o cinza do dia.
krika 15/09/2011
Pretéritos Pessoais
Fui deserto na multidão, nas linhas indecifráveis ocultas sob uma
emoção voraz, por vezes parceira, por vezes inimiga, como vetor das vontades
aflitas, na extremidade dos desejos delineadores de mim mesma, nos traços
rústicos que me desenham ou que desenhastes em mim. Fui purpurina em meu escuro
e meu delírio em minha lógica emotiva, deformada nas nuances do meu cinza. Sou
muitas faces em um só rosto, intempestivas e temperadas no sal da terra que me
criou. Sou sangue e feto nos meus afetos, que me retorcem e tiram o fel. Sou
doce e quente nos dias frios, feroz e forte nas decisões, determinada durante o
dia, fragilizada no teu amor. Mais mulher que um dia fui e mais menina que um
dia eu sou: eu sou felina.
by krika 30/07/2011
Diário de uma Menopausa:
Episódio I - o tempo e a menopausa
Patrícia Elizabeth era assim, pensava e pensava. Aprendera a
pensar na vida desde cedo, pois diziam que quem não começa a pensar desde cedo,
na velhice não aprenderá. Não sei bem qual a finalidade disso, deve ser para
quando ficarmos velhos pensarmos em quanto o tempo passou. Tudo bem, cada um
com seu cada um. Naquela tarde Patrícia Elizabeth estava pensativa por demais.
A descoberta tardia do início da velhice chegou para ela, que, sentada à beira
do caminho, não vira o tempo chegar, passar e ir. E ele se foi à francesa. Nada
podemos contra as ações do tempo, pensava, enquanto observava o rosto flácido
refletido no espelho de sua alma. A pele enrugada, manchada pela ação solar de
um país tropical “abençoado por Deus e bonito por natureza”, como já dizia a
música. Mas raios solares aumentam as manchas na pele. Continuava pensando,
tentando justificar a si mesma que o tempo passara. Tempo, tempo, tempo... Não
somos senhores do tempo, nem da vida, nem cuidamos do planeta, nem de nós
mesmos... Pensamentos que povoavam sua pobre e envelhecida mente. Naquele
instante, a mulher sedutora, com belos olhos cor de mel, longos cabelos negros
como ébano, rendeu-se ao reflexo disforme no espelho da sala. Atravessou-lhe as
feições e traduziu-se em velhice. Agora
já conseguia ver o ponto de partida. A lágrima que insistia em rolar pela face
amarelada parou no meio do caminho, assustada com as fortes batidas de um
coração amedrontado pela sensação de finitude, limitação e imposições da idade,
que avança e avança. Ah, o tempo! Descobrir-se velha não foi algo bom para ela.
Alguém denominou de melhor idade, mas com certeza esse alguém não tinha
artrose, menopausa e uma porção de “ites” nomeando suas patologias (artrite,
sinusite, labirintite, etc). Sensação de dor uma ova. Ela sentia dores ao
acordar, ao dormir, ao fazer sexo, que não deveria mais ser selvagem, correndo
o risco de travar toda a coluna vertebral. Ah, os sinais da velhice! Mas todos
os sintomas eram de fase inicial, antes da melhor idade. Talvez pudesse ser
idade intermediária, ainda não velha, mas nunca mais jovem... Ela continuava a
fazer conjecturas sobre os reflexos do tempo em sua vida, que, pensava ela,
graças a Deus avançava. Melhor ser velha, que estar morta. A gente quer viver
muito, mas ficar velha nem pensar: paradoxos femininos. Ainda não fizera tudo
que havia proposto a si mesma. Faltava plantar a árvore talvez, mas lembrou-se
do abacateiro que acabara de plantar no quintal, entre a goiabeira e o
caquizeiro. Então, faltava conhecer Portugal, tomar leite batido com manga
verde, viajar de navio (tendo medo de água e não sabendo nadar!) voar de
helicóptero (mesmo sendo claustrofóbica!) – superação de seus medos mais
pavorosos e escrever um livro, que ela está tentando vigorosamente. Mas como
isso seria razoavelmente fácil, pensou em complicar um pouquinho, escrever e
publicar um livro... Quanto mais difícil, mas tempo teria para ficar por aqui...
Tentativa de enganar Tanatos? Sísifo bem que tentou, mas ela sabia que não dera
certo. Tentaria enganar o tempo. Plástica talvez! Então, levantou-se, parou de se olhar no
espelho e recostada no sofá, adormecera, roncando, de boca aberta, cansada pelo
tempo gastara pensando sobre o tempo que ainda teria. Morfeu abraçou-a
suavemente. Momento onírico. Mas o sonho será uma próxima narrativa, afinal ser
narrador de uma aspirante à velhice faz de mim um narrador na idade
intermediária, e isso cansa.
Episódio II: O narrador
Patrícia Elizabeth não era mulher de personalidade fácil. Vixe,
mas não era mesmo, “mermão”, ela era o bicho! Mandona, briguenta, fazia
alvoroço por qualquer coisinha que não fosse do seu agrado. Nunca vi mulher com
tanto senso crítico, que por vezes até perdia o bom senso. Arregalava aqueles
olhos esverdeados, que ficavam vermelhos e a boca quase espumava se lhe
tirassem do sério, mas, pra compensar tudo isso, ela também tinha um coração
maior que ela, o que ajudava a equilibrar seu perfil. Mas com a chegada da
idade, o avanço dos anos, sabe como é! A coisa ficou feia. A famigerada
menopausa transformou essa mulher em algo indescritível, inenarrável e
engraçado. Dormia mal, consequentemente acordava mal e aí já era. Um simples
bom dia fazia ecoar um silêncio estarrecedor. Então já sabíamos que dia seria
turbulento. Por vezes chorava assistindo novelas, mas chorava de soluçar; em
velórios nem se fala, mesmo que ela nem conhecesse o defunto; criticava a
política, a legislação, a constituição, falava sobre a maioridade penal, que
deveria ser a partir dos 14 anos, se indignava com os preços nos supermercados,
com o aumento dos fios brancos em sua cabeça e quando pensava que isso poderia
se estender por todas as partes do seu corpo, ficava amuada, tristezinha de dar
dó. Seria o fim, pensava ela. Mas a ginecologista dela avisou: isso é só o
começo. Af... Mulher sofre mesmo. Mas como sou só o narrador, tô no lucro,
afinal tem muita coisa pra narrar ainda.
Krika Gomes Nunes
Todos os direitos autorais reservados a autora.
5 comentários
Obrigada pelo carinho e pela oportunidade.
bjs
paz e bem
oi
muito legal ver os textosa da krika aqui
o blog dela é ótimo
Ai que orgulho *-*
Minha tia arrasa mesmo. Parabéns tia, seu dom de usar as palavras encanta muitas pessoas e muito em breve tenho certeza que encantará muito mais. Beeijos sz
¡Hola Krika!, al igual que Luciana creo, de corazón, que mereces un puesto en esta revista.
¡Enhorabuena!.
Un abrazo.
Parabéns krika, fico feliz em ver que suas habilidades literárias estão sendo reconhecidas e divulgadas, sei o quanto batalhou pra isso. sucesso sempre. bjs
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