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A beleza da crítica! [Robson Veiga]

A beleza da crítica!

Uma obra literária quando deixa as mãos do autor, ao tomar forma em papel impresso, passa a ter vida própria em outras duas direções: a perceber, a primeira nas mãos do leitor comum, aquele que apenas tem o objetivo de matar o tempo viajando pelo mundo mágico das letras, uns, um pouco menos, outros, um pouco mais; enquanto, a segunda, nas mãos do crítico literário, aquele que tem o intuito de desnudar a obra, ao ler e reler, e se possível, ler novamente, tendo o trabalho em desvelar os pormenores e as minúcias da obra, como um verdadeiro garimpeiro da palavra. 

Quanto a isto, a crítica literária, podemos destacar que a capital do cerrado abarca um leque de bons críticos literários. Hoje, trataremos apenas de um, ou melhor, de uma, pois trataremos da professora Maria Aparecida Rodrigues, doutora em Teoria da Literatura, autora entre outros livros, do aclamado pela crítica – O discurso autobiográfico confessional, um estudo delicado sobre o enigmático poeta português Fernando Pessoa.

O trabalho em questão é o recente livro lançado pela editora Kelps: Angústia Selvagem, cuja preocupação é desvendar o misterioso jogo de palavras que atravessam as páginas de dois belos livros da literatura brasileira: Angústia de Graciliano Ramos e Coração selvagem de Clarice Lispector, ao trabalhar com a filosofia da linguagem e o fluxo da consciência, num fôlego de cento e noventa e uma páginas, num concerto lingüístico que mescla a linguagem acadêmica à literária, pois o crítico também passeia pelas curvas da literariedade ao moldar o seu texto. E quanto a isto, segundo o professor Divino José Pinto, doutor em Teoria Literária, Rodrigues aproxima o discurso crítico ao discurso poético-literário, focalizando a linguagem fragmentada do romance moderno ao aproximar-se da vida conturbada da sociedade da época, “ao tratar da metamorfose do homem no tempo e na linguagem”, em destaque no prefácio do livro.

Assim, Maria Aparecida Rodrigues aproxima o fazer poético de Graciliano e Clarice aos monstros sagrados da literatura, tais como, Joyce, Virgínia Woolf e Guimarães Rosa, por exemplo, em referência aos artifícios e técnicas ao narrar através da linguagem flutuante e multiforme, admitindo que o fazer poético em Angústia e perto do coração selvagem reserva ao crítico, variadas possibilidades de análises, entre elas, a linguagem do contra-ponto e do cinema, numa análise fenomenológica que tem por objetivo mostrar através das narrativas em questão, o relacionamento entre a linguagem e o homem - a revelação do ser do homem em essência e existência, como manifestação autêntica do ser da personagem, fazendo um paralelo entre a degradação da linguagem em referência à degradação do homem na sociedade moderna.

Ressalta-se aqui, a coragem e o atrevimento do discurso crítico utilizado por Maria Aparecida Rodrigues em Angústia selvagem, que ao caminhar pelos labirintos da literatura graciliana e clariciana, revela ao leitor os pormenores deixados na complexidade da linguagem literária moderna, ao tratar, sob o ponto de vista da linguagem, numa análise crítica literária, da possibilidade de edificação do ser do homem e do fazer literário, admitindo em seu discurso, como suporte teórico-filosófico, as intervenções dos teóricos Georges Gusdorf e Martin Heidegger, sobre a linguagem, o homem e a obra de arte.  

Angústia selvagem é um daqueles livros em crítica literária que não pode faltar na estante de graduandos e pós-graduandos do curso de Letras, bem como, aos poetas e amantes da arte da palavra. Uma boa leitura a todos, e um bom fim de semana.


...deixamos apenas a pena exalar aquilo que a nossa alma está pedindo pra correr sobre o papel. Robson Veiga Mestrando em Literatura e Crítica Literária pela PUC de Goiania-GO. Página pessoal na internet: Café Literário.

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