Numa Noite Qualquer
Ela apareceu. Há dias que não aparecia e cá está ela, bem na minha frente. Deslumbrante como nunca.
Vem na minha direção, aproximando-se lentamente. Esse trotinho leve dela chega a me emocionar. É sério.
Um leve pendular, um vai e vem de quadris. A copiosa cabeleira negra a balançar.
O vestidinho ordinário grudado no corpo delicioso. Está bem perto agora. Parece insegura.
Cumprimenta-me com um ligeiro arquear de sobrancelhas.
Fala distraidamente:
- Me dá um Malboro.Apanho um maço, entrego e pego a grana sem falar nada. Agora fiquei um tanto amuado. Ela tinha que fumar? Talvez não seja para ela. Ela veio comprar para alguém. Essa ideia me restabeleceu o humor. Não. Ela pega o isqueiro na bolsa e acende a porra do cigarro. Bom, nada que uma balinha de hortelã não resolva. Eu posso suportar isso.
Então, pergunta com uma voz baixinha, quase num sussurro:
- Posso usar o telefone?
Penso em algo espirituoso para responder, mas só digo "claro". Eu sou uma besta!
Entrego o fone e ela disca entre uma baforada e outra. Fica bem séria e diz com uma voz quase sufocada:
- Armando, se você não for em casa hoje à noite eu juro que me mato.
E desliga o telefone. Diz "obrigada" meio sem graça, vira as costas e desaparece rebolando.
Maldito Armando.
Eduardo Moreira Lustosa-Nascido em Barra do Garças (MT), mas
Um comentário
Amei a crônica!!! O texto envolvente te faz viajar no ambiente, na descrição do personagem e até no cheiro do lugar... Ansiosa para ler a próxima! Parabéns!!!
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