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O analfabeto funcional e a persuasão eleitoral [Olga Borges Lustosa ]

O analfabeto funcional e a persuasão eleitoral


Imagine você pegar um livro e não poder ler, tomar um medicamento, mas não conseguir ler as contra-indicações, visitar uma cidade e não saber ler os sinais da rua. Segundo as Nações Unidas, um em cada cinco adultos no mundo não sabem ler. E uma população alfabetizada é a base central para promover o bem-estar e uma democracia que funcione bem. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO –, é considerada alfabetizada a pessoa capaz de ler e escrever pelo menos um bilhete simples no seu idioma.

Dentro desse conceito, a UNESCO define analfabetos funcionais como sendo as pessoas com menos de quatro anos de estudo. Para a organização, mesmo que essas pessoas saibam ler e escrever frases simples, elas não possuem as habilidades necessárias para satisfazer as demandas do seu dia-a-dia e se desenvolver pessoal e profissionalmente.

No Brasil, um em cada cinco brasileiros é analfabeto funcional, não tem as habilidades básicas necessárias para funcionar na sociedade, exercendo a cidadania, participando plenamente na vida familiar, com emprego e cidadania. No passado a alfabetização era como uma ferramenta utilizada pela burocracia dos estados, comércio e pela igreja, que através da leitura, expandiam seus poderes e exerciam controle sobre o povo. Mas a partir do século 19 a instrução, sobretudo através da leitura tornou-se habilidade obrigatória para os indivíduos serem capazes de ter controle sobre as suas vidas. Aprender a ler e escrever é o passo inicial do saber. Mas ler, ouvir e escrever são processos mais profundos, não apenas sons, repetições e vocabulário. Serve enfim, como instrumento para proteger as pessoas da exposição e exploração.

Estudando técnicas de persuasão eleitoral pude constatar que a grande mídia adota um formato que concilia mensagens repetidas, ingênuas e de fácil memorização visando encantar exatamente os indivíduos que não assimilam além do que ouvem e que não lêem ou discutem política ao longo do ano. O interesse é momentâneo e as informações que lhes chegam são igualmente superficiais e carregadas de configuração distorcidas da realidade. Vemos hoje que as imagens se sobrepõem ao campo das idéias. Até porque as imagens são facilmente agrupadas, captadas num contexto e exibidas em outro absolutamente distinto. É assim que as coisas estão sendo postas a grosso modo, como se fossemos todos analfabetos funcionais.

Queremos ver idéias sendo lançadas e contestadas. Mas a estratégia política e os recursos do marketing seguem caminho oposto. Apostam no potencial da manipulação das mentes dos analfabetos funcionais, que mesmo quando conseguem ler, não desconfiam do artificialismo utilizado nas mensagens. Por isso o exagero, às vezes resvala na comicidade. Fico eu aqui a imaginar o mundo constituído por pessoas alfabetizadas, autônomas, críticas, pessoas construtivas, capazes de transformar as idéias em ações a favor da coletividade.


Olga Borges Lustosa é cerimonialista pública e acadêmica de Ciências Sociais pela UFMT e escreve exclusivamente no blog  do Romilson toda terça-feira 
olga@terra.com.br

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