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Clara Averbuck [Escritora, Letrista, Vocalista, Blogueira, Iconoclasta e Polemista Brasileira]

Clara Averbuck -Escritora, letrista, vocalista, blogueira, iconoclasta e polemista, Clara Averbuck é uma espécie de anti-heroína da internet brasileira. Começou a escrever em 1998, para o lendário “CardosOnline”, o primeiro mailzine brasileiro. Tornou-se autora de quatro livros: “Máquina de Pinball”, “Das Coisas Esquecidas Atrás da Estante”, “Vida de Gato” e “Nossa Senhora da Pequena Morte”. Em 2003, “Máquina de Pinball” ganhou uma adaptação para o teatro e em 2007 Murilo Salles dirigiu o filme “Nome Próprio”, inspirado em sua vida e obra. Em entrevista a Revista Bula, Clara Averbuck não poupa palavras ou pessoas: fala sobre carreira, livros, preferências, idiossincrasias e, atiradora de elite que é, distribui alfinetadas. Sobre o fato de ser vista mais como celebridade de internet do que como escritora que se tornou célebre, tem uma resposta precisa: “Só queria que uma galera aí entendesse que eu não faço as coisas para aparecer, eu apareço porque fiz as coisas”. Atualmente, é redatora do Portal R7 e faz um programa diário com Alessandra Siedschlag, do blog “Te Dou Um Dado?”.


Começou sua trajetória literária publicando os seus textos na Internet. Em junho de 1998 escreveu pela primeira vez para a Não-til, a revista digital da Casa de Cinema de Porto Alegre. Um ano depois, se tornou uma das colunistas do CardosOnline, que durou até 2001 e revelou escritores como Daniel Galera e Daniel Pellizzari.

Em julho de 2001 mudou-se para São Paulo, onde começou a escrever sua primeira novela, Máquina de pinball,publicada no ano seguinte. Em setembro de 2001 criou o blog "brazileira!preta", que chegou a ter mais de 1800 acessos diários. Em maio de 2006, voltou a manter um blog, desta vez chamado Adiós Lounge.

A partir de então, publicou mais dois livros: Das coisas esquecidas atrás da estante, em 2003, e Vida de gato, em 2004.

A obra da escritora pode ser considerada literatura de consumo com influência da subcultura pop, em ícones como John Fante, Charles Bukowski, Paulo Leminski, Pedro Juan Gutiérrez, Hunter S. Thompson, João Antônio, Lucía Etxebarria, H.L. Mencken, Fiona Apple, Nina Simone, Rolling Stones, Tom Waits e Strokes. Faz sentido ter tanta música envolvida; Clarah é filha do músico Hique Gomez da dupla Tangos & Tragédias e também canta. Teve várias bandas, entre elas Jazzie & Os Vendidos, com a qual chegou a fazer turnê por diversos estados do Brasil.

 A popularidade de seus escritos chamou a atenção de diretores importantes do teatro e do cinema. Máquina de Pinball ganhou adaptação para o teatro, roteirizado por Antônio Abujamra e Alan Castelo, em 2003. Este e seus outros dois livros também inspiraram o diretor cinematográfico Murilo Salles que, com a ajuda das roteiristas Elena Soárez e Melanie Dimantas mais a própria Clarah Averbuck, produziu o filme Nome Próprio, em 2006/2007, com Leandra Leal no papel principal.

Atualmente tem dois livros em andamento, Eu Quero Ser Eu (novela infanto-juvenil), Cidade Grande no Escuro (crônicas); e acaba de lançar o livro-LP de tiragem limitada Nossa Senhora da Pequena Morte (que antes se chamava "Delírio de Ruína", e era parceria com a estilista Rita Wainer) em parceria com artista gráfica Eva Uviedo, pela Editora do Bispo, casa paulistana especializada em publicações fora dos padrões convencionais. O livro, que reproduz páginas escritas à mão ou datilografadas, vem dentro de capas clássicas de velhos e bons long-plays (LPs), com direito a vinis de rock, blues, jazz, clássicos e até raríssimos vinis mexicanos.


Foi redatora de humor do Portal R7 até 2012, saindo para se dedicar a novos projetos.




Obras publicadas

Máquina de Pinball, Editora Conrad, 2002
Das Coisas Esquecidas Atrás da Estante, editora 7Letras, 2003;
Vida de Gato, Editora Planeta, 2004;
Nossa Senhora da Pequena Morte, Editora do Bispo, 2008.




Eu sinto muito, mas eu não sinto nada....

Tenho que discordar do Leminski naquele Nenhuma dor pelo dano/ todo dano é bendito/ Do ano mais maligno/ Nasce o dia mais bonito.

Tive uns anos do cão. Só a gente sabe dos danos que essa vida nos causa. E eu, olha, eu fiquei totalmente danificada. Algumas pessoas deixam um rastro tão nefasto na vida de outras que não consigo ver de outra forma senão essa: um dano. Um rasgo. Um aleijão. E não, não passa. Nada passa. Tudo que nos acontece fica marcado de uma forma ou de outra em algum lugar. A gente pode até achar que passa, pode achar isso nos momentos bons, mas aquilo fica lá, entranhado em você. Trauma pode se manifestar em forma de raiva, de desprezo, pode virar uma repetição de padrão destrutiva, pode te deixar pra sempre com medo, pode te fazer ficar por demais destemido. O que consigo ver que aconteceu comigo é o seguinte: eu sequei. Me sinto toda esfarelada. Danificada. Rachada como um terreno arenoso onde é necessário um instinto filho da puta pra poder sobreviver. Até nasce uma coisinha ou outra ali, mas qualquer coisa mais delicada murcha e morre rapidinho. É assim que eu ando me sentindo. Calcificada por dentro.

Quando eu tinha 22 anos, me apaixonei afú pela primeira vez. Foi meu primeiro dano. Outros vieram depois, eles sempre vêm. Mas o primeiro é o primeiro. Ele dizia que não tinha coragem pra se apaixonar, ele dizia que amor não, que amor ele passava. Sabe o que eu disse pra ele?

Coragem pra se apaixonar? Se quiser, posso te ensinar a sentir dor. Eu sei sentir dor e sobreviver a ela de uma maneira que nem eu acredito. Eu nunca vou cansar disso, nunca vou precisar de coragem pra me apaixonar porque preciso de paixão pra escrever. Se for pra escrever sem paixão, então eu vou ali no jornal escrever sobre turfe e ganhar dinheiro, e não ficar fodida como estou só pra poder passar o dia inteiro escrevendo, sem sair de casa, sem sentir o vento na cara, só escrevendo escrevendo escrevendo como uma filha da puta. Porque é isso que eu faço. Eu escrevo o dia inteiro, eu acordo e vou escrever, eu acordo pensando nisso e durmo pensando nisso. Mas se não tivesse paixão, não ia adiantar porra nenhuma.

Já disse uma vez e vou dizer mais um bilhão de vezes: eu quero você. Vou dizer até você aparecer na minha casa esmurrando a porta, porque a campainha não funciona, vou dizer até te ver deitado e suado na minha cama, vou dizer até poder te engolir, até sentir a tua porra na minha boca, até sentir o teu peso em cima de mim. Vou dizer até te convencer de que a solidão é muito, muito mais dolorosa do que qualquer paixão. O nada é a pior coisa que pode acontecer. O nada é seco, é uma árvore esturricada na beira da estrada, é uma plantinha sozinha no meio do deserto, uma plantinha que sabe que vai morrer ali, seca e sozinha.

Então vem. Porque eu sou a sua Camila e você não pode me deixar deitada na praia, senão vai passar o resto da sua vida se arrependendo. Então vem. Porque você me ganhou e eu quero que você minta pra mim, na minha cara, olhando nos meus olhos enquanto me come. Vem. Eu sou sua.

Isso era eu em 2001. Uau, ein? Que força, que furacão. Eu era, eu era. Once a fire. Sinto que não sei mais sentir, não sei mais me deixar sentir, não sei mais me entregar. EU NÃO SEI MAIS ME ENTREGAR. Nem por duas horas. Nem por meia hora. Fingir eu nunca soube mesmo, e nem quero aprender. Nunca pensei que passaria por isso. Eu achava que seria pra sempre a impetuosa jovem das linhas acima, que quebrava a cara repetidamente e levantava e levantava e cuspia sangue e dizia bring it on, you mfcks. Não quebro mais a cara porque não caio, e se cair, não tem sangue pra jorrar, não tem coração pra bater, não tem porra nenhuma há anos. Eu até tentei mentir que tinha e só consegui sentir ódio. Ódio de mim, ódio daquilo tudo onde eu tinha me metido nem sei como e uma frustração inenarrável. Acho que sequer posso dizer que aquela era eu. Era um pedaço, um fragmento pequeno e incompleto de mim que jamais vingaria. Bom, eu tentei.

Eu sinto muito, mas eu não sinto nada.

(...)


Nos matando lentamente....

Eis que hoje me chega uma DM de uma amiga:

clara clara claraaa SOCORRO, fui coçar o pescoço e percebi que ele está TOTALMENTE FLÁCIDO. Já até chorei :( Existe creme pra pescoço? rs :(

Ela não tem TRINTA ANOS DE IDADE. E é linda. E eu tenho certeza absoluta que o pescoço dela não está flácido.

Meninas, é o seguinte, nós precisamos conversar. Todas nós.

Essas mulheres que a gente vê na tv, nos outdoors, nos anúncios, em todos os lugares, vocês sabem que elas não são reais, não é mesmo? Sim, existem mulheres belíssimas, magras, naturalmente lindas, que apenas se cuidam e fazem pilates e sei lá o que mais. Mas infelizmente o que mais vemos é gente que foi mexida. Assim mesmo, mexida. Botou peito. Tirou nariz. Esticou aqui. Repuxou dali. Sugou daqui para encher acolá. Pra que? Pra se aproximar daquele ideal de beleza maluco de perfeição. Primeiro: perfeição pra quem? Segundo: quem disse que é isso que é bonito? Terceiro: quem determinou que é SÓ isso que é bonito? Meninas, sério: isso simplesmente NÃO É REAL. A gente sabe, mas somos tão bombardeadas a todas as horas do dia e da noite com imagens/pessoas manipuladas que aquilo acaba entrando nas nossas cabeças e nos deixando malucas, achando que só seremos felizes sendo daquele jeito. Digo "nós" porque eu, até pouco tempo, era completamente obcecada com isso. Pois é. Desde sempre. Tomei tanto remédio pra emagrecerr que eu não sei como meu cérebro não fritou. Me achei linda quando fiquei com depressão e só o que havia em mim eram ossos. Me desesperei quando voltei a ser sã e engordei um pouco. Quis morrer quando vi que agora eu tenho uma barriga. Pensei até em fazer lipoaspiração. Por que? Porque eu queria atingir um ideal maluco que criei na minha cabeça. Não é por aí, não é nada disso, não é assim. Minha vida nunca foi melhor e nem pior por causa do meu peso ou das minhas formas. Era tudo eu que criava.
Felizmente, me dei conta da maluquice que era aquilo tudo e comecei a trabalhar nisso de me aceitar. Fui me aceitando. E hoje, posso falar? Nunca me senti melhor comigo mesma em toda a minha vida. Se eu ainda quero emagrecer? Quero, um pouquinho, quero fazer uns abdominais quando puder, quero fazer exercícios, quero ser SAUDÁVEL, ainda mais depois de passar o que eu passei. Mas não estou morrendo por isso.
Minha vida sexual/amorosa nunca dependeu disso. Sempre foi mais ou menos a mesma coisa, independente de como eu estivesse me sentindo, se estava magérrima, gostosa, malhadinha, com barriga, sem barriga, com celulite, sem celulite, coxuda, de perna fina. Quer dizer, não é PELO CORPO que as pessoas se interessam, UFA! Nem ia querer alguém que se aproximasse de mim exclusivamente porque me achou gostosa. Aliás, eu quero é distância de gente assim. Não tem como dar certo.

As mulheres, há muito tempo e ainda, são criadas para serem BELAS. É essa a função que nos é atribuída. Enfeitar o mundo. Uma mulher pode ser incrivelmente bem sucedida, mas se não estiver dentro do padrão de beleza, vai sempre rolar um "mas é feia, tadinha, né?" como se isso anulasse todo o resto que ela é. Não, chega disso; ninguém nunca disse "tadinho, mas é feio" prum homem bem sucedido. Eu costumava ser muito revoltada com mulheres que achavam que o corpo era sua única arma; agora eu tenho dó e muita vontade de educá-las. Meninas, vocês não precisam de plástica, vocês não precisam de silicone, vocês não precisam emagrecer (a não ser que seja uma questão de saúde). Cada uma tem a sua beleza. Hoje eu me deparei com a lendária Playboy da Adriane Galisteu, de 1995, e vi mulheres lindas, com seios de tamanhos diversos, pêlos em abundância e ralos, pernas finas e grossas, cabelos lisos e revoltos, e pensei: ONDE foi parar a diversidade de formas das mulheres, gente? Só se vê silicone, bunda redondona, coxão, chapinha, socorro! E nas revistas de moda, aquela tristeza anoréxica. Existem magras lindas, é claro. Eu acho a Kate Moss uma gata. Mas essas mulheres representam, atenção, 5% de todas nós. Ou seja, esse padrão exclui os NOVENTA E CINCO POR CENTO RESTANTES. Não dá pra ser feliz assim, né? Não se a gente não criar defesas conscientes contra o mindfuck diário a que somos submetidas.

(Se tem alguém aqui pensando "só tá falando isso porque não se encaixa", por favor, peço que se retire de meu blog e nunca mais volte.)


Então, meninas, por favor, parem e pensem nisso que eu estou colocando.

Além do mais, essas intervenções todas não apenas são uma maluquice pra enquadrar todo mundo em um padrão, mas podem acabar, por exemplo, com a sensibilidade dos seus seios, que passariam a ser apenas objeto de prazer do OUTRO. O que adianta ter peitões se você não os SENTE?

Sobre aquelas cirurgias íntimas, eu não sei nem o que dizer. Aquela moça citada no post abaixo, que andava por Londres enrolada em uma bandeira querendo ser a musa das Olimpíadas, declarou na Folha dessa semana: "a vagina não é bonita e dá pra ficar melhor". Gostaria de me perguntar em que mundo vive essa moça, mas já sei a resposta: no nosso, nessa INSANIDADE COMPLETA. Essa moça é praticamente uma boneca inflável: os peitos são de silicone, os olhos são azul-piscina-lente-de-contato, o cabelo é aplique, a buceta foi retocada. Onde ela quer chegar? Por que? Pra quem? Não pode, gente, isso não está certo. Coitada dessa moça. Ela está completamente perdida.

E se o seu cara acha que você tem que botar mais peito, ou que você tem que engordar, ou que você tem que emagrecer, menina, vocês precisam conversar. Ou ele gosta de você como é - ou, francamente, manda esse homem pastar. Infelizmente, o mindfuck também atinge os meninos e eles vivem com expectativas irreais das mulheres. Inclusive muitos deles sequer sabem do que realmente gostam; ficam apenas no que consideram socialmente bem aceito. Tudo, tudo errado.

A todas e todos, recomendo esta palestra ("Killing Us Softly", que inspirou o título do post) da Jean Kilbourne, que dá corre o mundo falando sobre tudo isso que e muito mais e que me abriu os olhos pra uma série de conceitos que eu achava "normais", mas que na verdade são tão antinaturais quanto... bom, quanto photoshop



Women and Advertising from Hienz on Vimeo.

Nós não temos como mudar o que a mídia tenta nos fazer engolir.
Mas nós podemos não engolir mais.



“Não faço as coisas para aparecer, eu apareço porque fiz as coisas”
Clara Averbuck

Fonte: 

 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Clarah_Averbuck  
http://entretenimento.r7.com/blogs/clara-averbuck/imprensa/ 
http://www.revistabula.com/posts/entrevistas/clara-averbuck
http://entretenimento.r7.com/blogs/clara-averbuck/tag/blog/

Clara Averbuck
Todos os direitos autorais reservados a autora.

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