Coração sem fio
Em meio ao comodismo de uma conjuntura tecnológica portátil, a invasão de privacidade deixou de ser mera coadjuvante das calçadas para as chamadas janelas contemporâneas. Os pontos da conexão, que parecem batimentos cardíacos, são viscerais para a relação emotiva entre máquina e ser-humano. Uma espécie de back up social à distância. Um enorme banco de dados interligados por um só espaço cibernético.
As imagens e as palavras não fazem parte de cartas ou cartões postais. Nesse mundo o correio eletrônico é bem pessoal, não é endereçado nem no google maps, mas disponibiliza de fotografias e textos assinados por muitos artistas até então codificados em sites e em@ails. A abreviatura e os símbolos da linguagem internetês são responsáveis por sensações. Inclusive a de ameaça à língua culta =P.
O ideário da contracultura dos anos 60 voltado à liberdade e integração universal é um quadro perfeito da realidade. Os aspectos sociais, culturais, econômicos e políticos de intervenção contestatória da sociedade estão alçados a intercomunicação sem fio. O sistema ancorado no mar de softwares desempenha seu papel em tempo real, não funciona emstand by. Cada indivíduo é responsável por seu repertório, pela sua pesca. Há favoritos e deletados como lixo visual e sonoro.
Essa relação informal e ausente mexe com o íntimo das escolhas e desperta a sedução. A vida pede o F5 nas realizações. A convenção do plano físico chamado “mundo real” está inserida na plataforma geográfica inter(multi)cultural da virtualidade. Embora a internet seja algumas vezes verdadeira, o perfil on line interliga e se difunde do off line, num tempo intermitente. O quadrado das telas toma a forma de um gelo que aparenta ter esfriado a naturalidade. Como por exemplo: as flores sem aroma, as gargalhadas silenciosas =), as doações de órgãos. Um tipo de prisão da essência, do necessário, do vital.
Não aceite um coração desenhado ♥, abra as portas do mundo real e veja o sol brilhar na pele, abrace outro coração sorrindo para o movimento da existência. À noite a lua te convida para dançar e você escolhe a trilha. (Des)conecte os laços. Viva!
Dani Leão - No Jardim da Zena, entre flores com caules de ferro, sou a flor de batateira. Por ser branca, às vezes rosa e sempre que movida ao impulso arroxeada, sou o lirismo que brota os sentidos na solidez da terra e faz florir os ares. Sou o pensamento que joga pétalas no céu, sou de abrir o botão do riso, de fazer chover na raiz do coração. Sou flor do alimento, floração da alma. Vou da calma à flor da pele.
texto publicado na Revista Zena
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