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Notas do subterrâneo [Tony Bellotto]

Notas do subterrâneo

1- A saída da Marta Garcia desta Casa me deixa órfão. A mim e aos meus livros, já que ela editou toda a minha vasta obra literária, os meus seis romances publicados, mais o que está por ser publicado no início do ano que vem, Machu-Picchu. O único livro que escrevi e a Marta não editou foi O livro do guitarrista, editado pela Maria Emília Bender, que também está saindo da editora, o que faz de mim um escritor duplamente órfão. Foram 18 anos de colaboração. Ao contrário de vários escritores, sempre prezei a função do editor, no meu entender uma contribuição fundamental e imprescindível ao trabalho literário. E a Marta soube me dar trabalho. E como. Registro aqui minha gratidão às duas editoras, e desejo-lhes a melhor sorte do mundo em suas novas empreitadas. Talento e experiência as duas têm de sobra.

Aproveito para dar um alô para o André Conti, meu novo editor na casa. Já tive o prazer de trabalhar – na verdade um trabalho em andamento – com o André no projeto de Bellini e o Corvo, uma ideia dele para uma graphic novel com meu personagem Remo Bellini, o detetive ítalo-existencialista.

Prepare-se, André, para corrigir minhas crases aleatórias e levantar meu moral com frases como “eles falam isso só porque você é um guitarrista bem sucedido e casado com uma atriz gata” quando algum crítico desancar um dos meus livros. Ah, e prepare-se também pra consumirmos quantidades bukowskianas de vinho tinto nos almoços de trabalho bancados pelo Luiz…

2- Recebo um e-mail dos professores Pedro Diniz e Lucinéia Teles, do Colégio Sant’Ana, de Itaúna, Minas Gerais. Eles me dizem que a escola em que lecionam, a seu pedido, adotou um livro meu para turmas do último ano do ensino fundamental. A recepção de Os insones foi muito boa, gerou debates interessantes e produtivos entre os alunos. Alguns pais, porém, se indignaram com a linguagem do livro e questionaram a direção do Colégio quanto a sua classificação etária. A leitura foi suspensa, mas ainda assim alguns pais insistiram em sua sanha moralizante e denunciaram o caso ao Ministério Público, que abriu investigação sobre o Colégio Sant’Ana, acusado pelos denunciantes de recomendar aos alunos a leitura de um livro que conteria “material pornográfico” e “incitação à pedofilia”.

Sem comentários.

Conquanto a situação tenha me proporcionado alguma glória secreta – com devaneantes autocomparações com Henry Miller, Nabokov e Salman Rushdie –, é inaceitável que educadores sejam punidos por terem tido a melhor das intenções em sua função de educar. Os insones é um trabalho sério de literatura e a acusação, além de injusta, é ridícula.

 Tony Bellotto, além de escritor, é compositor e guitarrista da banda de rock Titãs. Seu livro mais recente, No buraco, foi lançado pela Companhia das Letras em setembro de 2010.

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