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Ilhabela, a dama das águas [Elisabeth Lorena Alves]

Ilhabela, a dama das águas

A Ilhabela é um lugar lindo de se visitar. Seu solo nos conta que desde muito antes de 1500 havia habitantes em seu território, o que pode ser confirmado por escavações arqueológicas. Na verdade, há neste arquipélago 14 sítios arqueológicos da era pré-colonial preservado. Os arqueólogos acreditam que ali viviam homens pescadores, coletores do litoral, indígenas que não tinham o hábito da agricultura e não faziam objetos de cerâmicas como os demais. Acredita-se que eles viveram por estas terras, pelo menos, 5 séculos antes de Jesus Cristo. No Viana, bairro da Ilha de São Sebastião, existe uma grande quantidade de material cerâmico da tradição Itararé. Os historiadores acreditam ter existido ali uma aldeia indígena do tronco linguístico macrojê. Grande parte do que foi encontrado e preservado, está guardado no acervo do Instituto Histórico, Arqueológico e Geográfico de Ilhabela.
Sabe-se que este arquipélago era denominado pelos falantes do tupi-guarani Maembipe, o que significa local de resgate de prisioneiros e troca de mercadorias. A escolha de um local neutro para a troca de prisioneiros e mercadorias é um antigo costume tribal vigente até hoje em alguns países da África, Ásia, Oriente Médio e até mesmo na Amazônia. Estes índios usavam esta parte como lugar de troca por não existirem ali índios falantes de seu próprio dialeto.
A linguagem paulista – e brasileira – esta sortida de palavras diversas de origem tupi-guarani. Sabe-se que os indígenas que viviam nestas pastagens, tinham um ritual macabro, onde comiam seus inimigos por acreditarem que as qualidades e dons destes seriam passados a eles pelo consumo de sua carne. Os tupis amavam a guerra e suas lutas.

Tudo começa no período colonial com a chegada, em 1502, de Gonçalo Coelho e seus comandados, que rebatizaram a ilha de Maembipe com o nome de São Sebastião. Era o dia 20 de Janeiro. Dia deste santo. Fazia parte desta expedição ninguém menos que o famoso Américo Vespúcio. Foi ele que disse que o Litoral Norte de São Paulo era um paraíso na Terra. Mesmo sendo rebatizada a região levou mais 1 século para ser repovoada. Quando começou a ser habitada, passou a ter seu solo tomado pelas plantações de cana-de-açúcar, usando do trabalho de mão escrava.
Para justificar as lendas de corsários – ou a real presença destes - construíram um sistema para defesa das vilas “Bela da Princesa” e de “São Sebastião”. A principal delas foi o forte do Rabo Azedo, ao norte da Ilha de São Sebastião; e que fica próximo da fortificação da Ponta das Canas.
Bem, não se deve esquecer que Ilhabela é um arquipélago com 340 quilômetros quadrados de área e cerca de 140 quilômetros de costa. Na verdade, cerca de 85% de todo esse território de clima aproximado de 23 graus, faz parte do Parque Estadual de Ilhabela. O serviço de Ferry Boats, inaugurado na década de 50, atende os turistas com suas balsas que saem pontualmente de meia em meia hora.
A Arquitetura de Ilhabela preserva a cultura caiçara que se manifesta no artesanato, nas embarcações de pesca, na arquitetura e nas festas populares como a Congada de São Sebastião e outras manifestações folclóricas animadas pela “cirandinha” e “quebra-chiquinha”, cultura mantida pelos povos e que os turistas curtem e muitos aprendem.
A Trilha da Água Branca, com 2.145 metros de extensão, está implantada dentro do Parque. A Estrada dos Castelhanos é referência em trilha com dificuldade média, tem como atrativos a riqueza da vegetação da Mata Atlântica como o pau-jacaré, a figueira, manacá-da-serra, guapuruvu e quaresmeira. Há também o caxinguelê, um pequeno animalzinho da a espécie dos esquilos, que se alimenta de sementes. Há também inúmeras espécies de pássaros: o trinca-ferro, a araponga, o tangará, o pica-pau... que podem ser encontrados com certa facilidade na Ilha.
As cachoeiras e as piscinas naturais de águas cristalinas são o grande espetáculo. O poço da Pedra é a primeira delas, fica a pouco mais de 100 metros do início da trilha. A 500 metros fica o Poço da Escada e, na sequência, a ducha e o tobogã. O poço do Jabuti é a última das piscinas a 1400 metros do começo da caminhada.

As características deste arquipélago encantam os visitantes com toda a sua diversidade de beleza oferecida pela natureza, afinal é numa ilha oceânica.  A beleza do local é bem representada por praias exuberantes. A estrutura geográfica do lugar faz com que os visitantes admirem cristas e picos de montanhas com mais de 1300 metros de altitude cobertos de floresta. Existem também milhares de córregos e riachos que se lançam pelas encostas em mais de 250 cachoeiras de todos os tamanhos, oferecendo aos visitantes um espetáculo de luz e cor. O Parque Estadual de Ilhabela é formado por rios que serpenteiam a planície litorânea formando manguezais que acompanham o caminho do mar. Ilhas, grandes e pequenas, ilhotas e lajes que abrigam uma rica e diversificada flora e fauna, completam o cenário paradisíaco deste lugar que enche os olhos dos visitantes.
Um ponto de encontro dos visitantes é, sem sombra de dúvida, a “Igreja Nossa Senhora D´Ajuda” e “Bom Sucesso”, situadas no topo de uma colina, olhando para a cidade como um grande observador de estrutura impactante. É utilizada como um ponto da atividade comunitária. É uma igrejinha de ares bucólicos, está longe da estrada. Na verdade, lembra o cenário de novela, com sua localização no coração do centro histórico. A sua volta existem vielas onde se é agradável caminhar, além de suas lojinhas e restaurantes que completam o cenário. No altar tem a imagem da Senhora da Ajuda com luzes em tons de azul que são vistas da rua. Em frente tem um maravilhoso Cristo feito de sucata do artista Gilmar Pinna, artista da ilha, o mesmo escultor que fará a estátua de 30 metros de altura que será colocada em frente estádio do Corinthians, em Itaquera, como uma representação de São Jorge, que ele rebatizou de O Cavaleiro Fiel, em respeito às diversas religiões dos paulistanos e dos torcedores.
Fazem parte do cenário geral deste arquipélago, os Fortes, cachoeiras e outros espetáculos tanto naturais como os criados pelos homens.
Um dos principais Fortes é, sem dúvida, o Forte da Ponta das Canas localizado na ponta das Canas, a noroeste da ilha de São Sebastião (Ilhabela). Este Forte foi iniciado entre 1770 e 1800, tinha em seu projeto original previstas dezoito canhoneiras, mas devido ao isolamento e a vulnerabilidade da localização o projeto foi abandonado. A estrutura deste Forte era de pedra e cal. A construção tinha por objetivo fazer a defesa da fábrica de óleo de baleia localizada na Ilha de São Sebastião - hoje Ilhabela-. Esta defesa nunca foi finalizada, restando poucos vestígios de sua construção.
A Bateria de Sepituba localizava-se na ponta do Arpoador, em São Sebastião, no litoral norte do Estado de São Paulo. Erguido em 1820 pelo governador militar da Província de São Paulo, Major Maximiliano Augusto Penido, foi artilhado com três peças. Cruzava fogos com o Forte do Rabo Azêdo batendo a barra Norte do Canal.
A Cachoeira dos Três Tombos fica perto da praia da Feiticeira. De fácil trajeto, bom para um passeio que deve ser muito cuidadoso, pois quando se faz este trecho, dentro da mata fechada, os visitantes se deparam com pedras escorregadias que podem causar acidentes aos desavisados.
Interessante, também, depois de um dia cheio de sol e praia, é aproveitar uma ducha natural de água fria para revigorar os ânimos e aproveitar mais um pouco a beleza incrível da paisagem natural. Existe ali um toboágua natural onde se pode brincar. Por estar distante da estrada e perto de um condomínio, esta cachoeira é quase deserta e vale a pena conhecer. Detalhe: São 3 belíssimas quedas d'água.
A Cachoeira do Gato, acessível somente após 30 minutos de caminhada mata adentro, é uma boa pedida para quem gosta de esportes de aventura. Mesmo sendo uma trilha segura, há, porém, muitas raízes, formigas e pedras escorregadias, mas apesar das dificuldades da caminhada, ao final,  pode-se banhar na cachoeira de quase 40 metros, com água geladíssima.A vista da Cachoeira é simplesmente maravilhosa. Um detalhe: É necessário ter cuidado com as cobras ao longo do caminho!
A ilha tem uma mata nativa preservada e a trilha do Bonete com 11 km de extensão, proporciona aos visitantes, trilhas onde se pode realmente entrar em contato com a natureza e curtir toda a exuberância do cenário. Na Ilha do Bonete existem belíssimas cachoeiras, que transformam o passeio em algo maravilhoso. Ao final do dia a temperatura baixa muito e se você é um dos que habitam a região Norte Brasileira, vai sentir muito a diferença do clima ao anoitecer. Assim, deve levar uma blusa para se proteger. Uma dica para quem gosta de beber é deliciar-se com a caipirinha feita com folhas de tangerina. Esta praia é praticamente virgem e, há uns 15 km da vila, tem um rio de águas cristalinas, com ondas pequenas. Aqui é comum encontrar iates e grandes barcos que passeiam para conhecer a praia mais descansada e aproveitando o máximo a solidão. Os passageiros passeiem por ela e se divertem em aventuras maravilhosas.
Como parte do Centro Histórico da Vila, a Rua do Meio possui um comércio diversificado com lojas de roupas, bijuterias, souvenir, alimentação, artesanato e tudo o que você precisa para jamais esquecer que esteve por ali. A maior indicação, sem dúvida, é a Sorveteria do Rocha!
Graças à sua existência e a corajosa guarnição que estava de serviço em 18 de novembro de 1826, durante a Guerra Cisplatina, foi frustrada uma tentativa de invadir a ilha. A escuna de guerra “Sarandy” e uma embarcação de transporte foram repelidas pelo bombardeio saído do Forte do Rabo Azedo. As ruínas deste forte, construído em pedras rejuntadas com argamassa de conchas e óleo de baleia, até hoje permanecem em pé. Alguns canhões utilizados no sistema de fortificação ainda estão na vila.
A título de curiosidade, vale lembrar que existem barcos táxis que fazem o transporte por água.
Visitar Ilhabela e todas as suas ilhas, é um passeio maravilhoso, que alegra os visitantes. A marca destas ilhas, por certo, são os borrachudos, mosquitos que mordem de forma aguda e constante, mas o uso de repelentes químicos e óleo de citronela, os repelem e torna o passeio agradável.
Visitar São Paulo e não conhecer suas praias, é conhecer apenas parte deste Estado magnífico e tão cheio de histórias. A própria Ilhabela tem lá suas histórias. Uma delas é a da Feiticeira:
Conta-se que a proprietária da fazenda São Mathias, cuja sede encontra-se hoje no canto esquerdo dessa praia, era uma mulher bela e solitária que acumulou fortuna como receptadora dos saques de piratas, que nela confiavam para vender os bens tomados dos navios que abordavam em alto mar. Conta-se, também,  que ela  acobertava  comandantes de navios negreiros, que após 1850, com a proibição do tráfico de escravos africanos, utilizavam a Ilha como ponto preferido de entrada de escravos ilegais no Brasil.
Na velhice, alvo da inveja dos moradores locais, que a apelidaram de feiticeira por viver solitária,  em uma época em que isso era algo inconcebível para uma mulher, ela decidiu esconder parte de seus tesouros na selva. Partiu chefiando uma grande caravana de escravos e se embrenhou nas matas por várias semanas voltando totalmente só. Reza a lenda que ela teria enterrado os tesouros e matado os homens um a um, para que ninguém jamais soubesse onde as riquezas foram escondidas. Depois do episódio, teria enlouquecido e desaparecido, deixando para trás o mistério de seu tesouro e o nome de sua praia.
Outra história que vive no imaginário popular e contada pelo povo, tem sua comprovação nos restos do naufrágio do, considerado, Titanic Brasileiro. Trata-se do maior naufrágio em costas brasileiras. O Príncipe das Astúrias afundou levando a óbito quase 600 pessoas, isto se considerarmos, apenas, os passageiros e tripulantes cadastrados. Na época do naufrágio se dizia que o número era bem maior, pois havia na embarcação mais de 800 passageiros, imigrantes clandestinos, que se espremiam nos porões fugindo da Guerra na Europa.
Esta e outras histórias são contadas pelo pessoal do Museu Náutico. O setor de naufrágios do Museu, conta com acervo de objetos  de porcelanas, cristais, faianças, artefatos de bronze, talheres de prata entre outros, datados do século XVIII, até meados deste século. O Museu ainda conta a história da escafandria, o mergulho profissional e recreativo. Possui várias peças em exposição, referentes a este tema. Existem, também, em exposição, várias maquetes dos principais naufrágios que aconteceram em todos os tempos na região.

Bem, por hoje é só!
Espero que este relato tenha feito nascer em você o desejo de conhecer estas praias paradisíacas e saltar das cachoeiras com os pés lépidos da juventude que renasce em nós quando encontramos lugares que nos inspiram a sonhar.

Elisabeth Lorena  Alves - Alguém que não gosta de ficar parada, mas que estaciona frente a um bom livro e sonha com as palavras. Posta no Elisabeth Lorena Alves ( www.eliselorena.blogspot.com.br)
 

3 comentários

Jane Eyre Uchôa disse...

Pra vc ver como são as coisas e como é importante falarmos de nosso estado. Eu jamais imaginaria um lugar assim em São Paulo, para mim a cidade é sinonimo de prédio, concreto armado puro. Mas lendo vc vi que há muito escondido e lógico distante do que vemos diariamente. Deve ser parecido com Manaus escondida sob as folhas da floresta rsrs. Quero ir lá hein? me leva!! ótima contribuição sua Beth, muito lindo o texto e as fotos. bjs

Elisabeth Lorena Alves disse...

Obrigada amiga pela leitura.Li seu texto sobre o Viagra da Floresta e amei. Apesar de um tema que seria muito pouco aproveitado nas mãos de outros, nas suas criou-se um texto magnífico sobre a cultura popular do povo do Amazonas.
Tomara que todos os que vem aqui para ler meu texto aproveitem e passem por lá...
Quanto ao muito que existe em São Paulo e poucos conhecem, amiga, existem muitas outras coisas mais além das belas praias. Quando passam na televisào geralmente mostram as famosas, as poluídas, mas deixam de lado as belas, as calmas e tudo o amis que existe de bom em meu estado e que meu povo irmão não conhece.
Vamos sim visitar estas praias e quem sabe damos uma passadinha pelo Museu Náutico com suas histórias todas.
E será um prazer ouvir junto contigo a história do maior naufrágio Brasileiro, o Príncipe das Astúrias, ver o que já se recuperou e se guardou desta história triste mas gigantesca, pois compara-se ao Titanic e mostra que onde há água não se pode brincar de homem forte, deve-se na verdade cuidar e bem do caminho por onde se anda...

Anônimo disse...

Ilhabela é local de combate naval na guerra da Cisplatina (guerra del Brasil), ocasião em que o almirante Guillermo Brown, comandante da armada republicana, foi derrotado pela bateria imperial do forte do rabo azedo. Episódio pouco conhecido da história militar brasileira.