Sobre 2012 ou O
Nada Que Fala Sobre Alguma Coisa
2012 foi o ano em que o mundo não acabou. Nada de chuva de
meteoros ou apocalipse zumbi. A má interpretação – ou deturpação – do
calendário Maia proporcionou expectativas, ironias e zombarias. O mundo permanece
intacto sustentando as velhas cicatrizes e sentindo os novos golpes que geram
fraturas expostas e feridas que teimam em se abrir constantemente.
Em 2012, há o registro de 40 mil mortos na guerra civil na
Síria, massacres em escolas no mundo todo, a evidência do modo desumano que as
autoridades públicas – e uma parcela da população brasileira – tratam os
indígenas no nosso país, julgamento no Supremo Tribunal Federal dos envolvidos
no “mensalão”, Olimpíadas de Londres, entre outros tantos acontecimentos,
desastres e eventos. O que foi 2012, senão um ano qualquer, com as mesmas
maravilhas e tragédias de todos os anos? 365 dias da mais pura beleza e 365
dias de atrocidades ocorrendo em algum ponto dos cinco continentes.
Falarão que foi um ano histórico pela condenação dos
“mensaleiros” pelo STF. Talvez. Mesmo não sendo um campeão de audiência e
servindo para tirar o foco das mídias da CPI do Cachoeira. Essa com mais
dinheiro envolvido em jogo e toda uma rede de corrupção digna de um grande
filme.
2012 foi o ano do meu Corinthians. Título da Taça
Libertadores da América e do Mundial de Clubes da Fifa. Histórico, mesmo em um
tempo que parece não se importar com a história, no qual um acontecimento não
se encadeia com um evento anterior. Recordo-me que o atentado de 11 de setembro
de 2001 realizado pela Al-Qaeda, com a elaboração de Osama Bin Laden (morto em maio
de 2011, em uma ação dos Seals, uma unidade de elite da Marinha dos Estados
Unidos), ao World Trade Center, em Nova Iorque, pareceu um fato surgido do nada,
criação da mente de pessoas maldosas, de terroristas sem coração, e não uma
resposta (cruel, com certeza) às ações do governo dos Estados Unidos e de
outros países ocidentais no Oriente Médio, como ingerência política, fomentação
de golpes de Estado, apoio a ditaduras e intervenções militares como ocorreu na
Síria, Líbano, Iraque, etc., durante os anos 80, 90 do século XX e no novo
milênio também. A história parece não ter incidentes que expliquem um ato. Tudo
é o agora, num tempo de aceleração e de vidas cada vez mais individualizadas.
Mas isto é pauta para um possível futuro texto.
Em 2012 assisti a filmes brasileiros que me fazem
perguntar por que o cidadão da nação verde-amarela não reconhece o que há de
bom no país. Preconceito contra si mesmo ou contra a miscigenação que nos
constituiu e nos constitui? “Dois Coelhos”, “O Palhaço”, “Febre do Rato” e "Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios" são razões de sobra para
repensar a “cisma” vigente contra o cinema nacional. Mas isto é pauta para um
futuro texto.
Se pensarmos 2012 para a vida de cada um, a avaliação do
ano pode se tornar distinta de um contexto, digamos, geral. Num ano de crise
econômica, de contestação do capitalismo e dos movimentos que tomaram as ruas
em protestos, do Occupy Wall Street, a continuação da Primavera Árabe, chegando
à Espanha e Argentina, em alguns lugares, como Brasil, muitos deixaram a
condição de extrema pobreza, segundo dados, por exemplo, da OIT (Organização
Internacional do Trabalho) e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(Pnad). E isso foi promoção/ascensão social e assistencialismo. O número de
empregos gerados é inferior ao de pessoas que supostamente deixaram a extrema
pobreza. Porém, este assunto poderá ser abordado em um texto posterior.
Para este que escreve 2012 foi um ano de realizações e
descobertas. Mestrado concluído, livro de contos aprovado para publicação,
organização de uma coletânea de contos e poesias, amizades consolidadas e novas
amizades sendo construídas, um convite para escrever neste espaço belíssimo
chamado Biografia e projetos que se encaminham para 2013 e doravante. 2012 foi
também o ano da descoberta do significado do amor, não do amor familiar (este o
autor do texto já conhecia), nem da amizade (este o autor do texto já tem
ciência do seu poder), mas do amor por uma pessoa, que pode ser de início
desconhecida ou próxima de alguma forma, de um sentimento que nasce e é um
misto de bem-querer e atração física, que depois, sabe-se, não é mero desejo,
porém é a vontade de estar junto, cuidando, incentivando, ouvindo e apreciando
o silêncio. É ver e entender a beleza e os medos que preenchem o que a pessoa
é. Tudo sentido e vivido anteriormente pelo autor do texto era qualquer outra
coisa, menos amor. No entanto, como nem tudo é perfeito, 2012 foi o ano do amor
não correspondido e da frustração. Acontece! O amor, o sentimento se vai, pois precisa
ir, mas permanece como desejo de felicidade que se espera que a outra pessoa
alcance.
Em 2012, um ano de contradições, de promessas, de
protestos, de guerras, de massacres, de nascimentos como todos os outros anos –
desde que sabemos que o mundo é mundo –, escapamos do apocalipse zumbi e da
chuva de meteoros... Por enquanto.
Este texto pretendia falar de 2012 falando sobre o Nada.
Contudo, encontrou alguns assuntos que não foram desenvolvidos. Assim sendo,
pode ser uma crônica pela metade. Ou nem isso. Talvez um Nada que se pretendeu
uma crônica. O certo é que 2012 já se despede como um ano igual a todos os
outros (Talvez como o ano em que o capitalismo sofreu mais contestações e
ataques. Talvez!). E que venha 2013, já que o mundo não acabou.
Wuldson Marcelo, corintiano apaixonado por literatura e cinema,
nascido em 1979, em Cuiabá, que possui Mestrado em Estudos de Cultura
Contemporânea e graduação em Filosofia (ambos pela UFMT). É revisor de
textos e autor de dois livros de contos que estão entre o prelo e o
limbo, “Obscuro-shi” e “Subterfúgios Urbanos”.
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