A Natureza e Eu
Minha parcela em
favor da preservação da Natureza pode não ser significativa diante da imensidão
do mundo. Identifico-me com essa parcela por, também, não ser nada em presença
no universo. Mas, preocupa-me ver as mudanças catastróficas que têm ocorrido
nesses últimos anos e saber que o homem é o responsável por elas.
Quando criança
brincava numa rua de terra, podia escorregar no cascalho e fazer cair chuvas de
areia. Éramos felizes. O clima era bom. Não lembro de ouvir falar, com tanta freqüência,
sobre inundações. As geleiras permaneciam no Pólo Norte, quietinhas.
O progresso vem traçando
mudanças. As ruas foram calçadas! O clima ficou mais quente com a absorção do
calor do sol nas pedras. Como se não bastasse veio o asfalto, o quente ficou escaldante.
O calor
insuportável leva à necessidade de climatização artificial. Esse processo
apressa a destruição do ozônio.
Estamos, em nome do
progresso, condenados ao desconforto e porque não dizer a morte lenta. Imagino
o que será dos que estão nascendo, que herança corrosiva deixamos pra essa
gente que vai pegar o bonde quase no final da estação?
Sinto saudade das ruas
arborizadas, de lugares com mais verde, de respirar o ar mais puro. Onde estão
os pés de fícus de tantas cidades do interior, as castanholas da Avenida
Mariana Amália, em Vitória, da Rua Francisco da Cunha, em Boa Viagem? Tombaram,
violadas pela força de uma serra elétrica. A beleza desfalece diante de um
imóvel de cimento.
Na orla marítima,
em Boa Viagem, tivemos tantos coqueiros sacrificados em nome de uma calçada de
tijolos. Os que restaram, quando grávidos de sabores, são abortados pelo afiado
facão dos funcionários da prefeitura. Não consigo entender o descaso. Acredito
em soluções coerentes.
Planto uma semente
de fruta no espaço mínimo do meu quintal, em pouco tempo à natureza responde ao
meu apelo. A terra fértil prestigia o meu gesto, engravida a semente, me
presenteia com o milagre. Com gratidão recebo os frutos sazonados, eles vêm com
o doce mais apurado, a polpa mais suculenta. É solene o recolhimento, minha
alma se rejubila, nesse instante sou uma sacerdotisa em comunhão.
A terra,
agonizante, continua generosa. Mesmo onde o fogo devora mangueiras, jenipapeiros,
coqueiros e goiabeiras, faz nascer uma plantinha, acanhada, mostrando que ainda
tem jeito.
O camponês, na
cegueira da ignorância, agride a terra mãe, bota fogo no capim ao invés de
fazer uma limpa com a enxada. O fogo prolifera, destrói o que não deveria
destruir. A terra pede socorro.
Uma tristeza me
invade ao pensar na alegria negada as crianças do futuro. Não faz muito tempo,
no caminho de Vitória a Recife, precisamente no município de Moreno, existia
uma floresta de eucaliptos. Além de bela, era o espaço característico da
estrada. O perfume que se sentia a distancia era esperado pelos viajantes.
Perdemos a
floresta. A consciência humana está dormente, uma névoa espessa encobre a visão
do futuro, o imediatismo é insano.
Das janelas de
minha casa assisto a vida acontecendo num ritual contínuo. Colibris fazem bailados
harmoniosos, surpreendentes, circulando as flores. Borboletas enfeitam de
matizes ambulantes as copas verdes, abelhas e besouros zumbem em comunicação.
Pássaros me gratificam com manhãs de cantos. As flores do meu jardim são mais
singelas porque vêm de uma gestação, passo a passo, acompanhada.
Bendigo a minha
gota de sangue índio, me faz entender e amar a Natureza. Louvo o Deus da
criação pelas maravilhas que nos oferta, por Sua presença até onde a vista
alcança.
Luciene Freitas - Prêmio
Vânia Souto Carvalho de Ficção, pela Academia Pernambucana de Letras, em 2009.
É pernambucana e tem publicados os seguintes livros: Explosão (poesias); A
Dança da Vida (parábolas e contos); Mil Flores (poesias). Encenado no Teatro do
SESC em 2004; O Sorriso e o Olhar (parábolas, contos e crônicas); Meu Caminho,
textos para reflexão; Uma Guerreira no Tempo, (pesquisa). O resgate de uma
época – 1903-1950; a vida e a obra da escritora Martha de Hollanda, primeira
eleitora pernambucana. Premiado pela Academia Pernambucana de Letras, em
janeiro de 2005; Viagem dos Saltimbancos Escritores pelos Recantos do Nordeste,
(cordel); Mergulho Profundo, 264 pensamentos filosóficos; Brincando Só e
Brincando de Faz de Conta, Vol. I e II da série No Ritmo da Rima; O Espelho do
Tempo, romance de pura emoção; Sob a Ótica das Meninas, 42 contos de um tempo
determinado. Tem
trabalhos publicados em jornais e revistas do Brasil, Portugal e Argentina.
Participações em várias antologias. Conta com alguns prêmios literários.
Pertence ao quadro de sócios da União Brasileira de Escritores (UBE– PE); União
Brasileira de Trovadores (UBT– PE); Instituto Histórico e Geográfico da
Vitória, Vitória – PE; Academia de Letras e Artes do Nordeste (ALANE); Academia
Vitoriense de Letras, Artes e Ciências da Vitória de Santo Antão; Grupo
Literário Celina de Holanda. Membro correspondente da Academia Irajaense de
Letras e Artes (AILA) Irajá / RJ e Academia de Letras de Itapoá / SC.
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